Recepção: 05 de fevereiro de 2019
Aceitação: 27 de fevereiro de 2019
Lentrada dos direitos sexuais e reprodutivos na agenda pública sinalizou um novo momento na dinâmica entre a lei e a sociedade na América Latina. No entanto, apesar dos significativos avanços regionais e internacionais na garantia dos direitos sexuais e reprodutivos nos últimos anos, eles frequentemente provocam tensões entre aqueles que favorecem seu reconhecimento e aqueles que se opõem a ele. Talvez a questão mais controversa seja o aborto: em alguns casos, ele foi descriminalizado (Cidade do México, Uruguai, Chile); em outros (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, México, Peru), um direito limitado ao aborto foi reforçado para proteger os direitos de saúde das mulheres, enquanto se caminha lentamente para a liberalização. Mesmo assim, esses direitos conquistados nem sempre se refletem na prestação adequada de serviços de saúde seguros e dignos para as mulheres que necessitam de aborto. Por outro lado, em alguns países, há uma proibição total do aborto (El Salvador, Nicarágua), mesmo nos casos em que a gravidez apresenta risco de vida, resultando na morte ou na prisão de mulheres que optam pelo aborto. Por fim, em outros contextos regionais (Brasil, EUA), a chegada da ultradireita ao poder apresenta grandes desafios ao exercício dos direitos das mulheres, como decidir sobre seus próprios corpos, o que ameaça os direitos que elas conquistaram. Está mais do que claro que o papel dos tribunais nessas batalhas será fundamental. Na discrepância desta edição de Encartes Esperamos esclarecer alguns dos principais pontos do debate em torno dessa questão tão fundamental para a vida e a saúde das mulheres e para a igualdade social na América Latina.
Ljudicialização contemporânea do aborto na América Latina é um pêndulo que oscila entre o litígio promovido pelo movimento feminista e o movimento conservador. O impacto desse litígio significou, em sua maior parte, avanços jurisprudenciais para os direitos humanos das mulheres: igualdade e não discriminação, liberdade e autonomia reprodutiva, direito ao livre desenvolvimento da personalidade e direito à saúde. Ao defender a descriminalização do aborto por motivos ou em um determinado período de tempo, os tribunais constitucionais promovem o avanço da justiça reprodutiva, estabelecendo precedentes judiciais importantes na região, como nos casos da Colômbia (2006), México (2002, 2008) e Chile (2017). As decisões judiciais nesses países promoveram o acesso a serviços de aborto legal em hospitais públicos e melhoraram as diretrizes de saúde reprodutiva. No entanto, elas também provocaram uma contramobilização social que promove a "proteção da vida desde a concepção" com maior fervor desde o púlpito até as legislaturas e outros órgãos estatais. Não se pode dizer que a judicialização do aborto sempre tenha resultados positivos para o avanço dos direitos reprodutivos na região. As decisões constitucionais tendem a ser minimalistas em sua compreensão do significado e do escopo dos direitos reprodutivos das mulheres em jogo, com grande deferência à proteção da vida pré-natal. Em outras ocasiões, elas deixam margem suficiente para que os profissionais de saúde façam interpretações confusas, de modo que, muitas vezes, eles têm medo de realizar a interrupção da gravidez para evitar cometer um crime. Consequentemente, a judicialização do aborto tem resultados contraditórios e contingentes para os direitos das mulheres na América Latina.
Os movimentos pró e contra o aborto estão ativos em diferentes frentes de disputa há algum tempo na região, e é interessante observar como os atores mudam de uma arena para outra de acordo com o equilíbrio das oportunidades políticas. Assim, quando se trata de disputas institucionais, o judiciário é acionado quando há menos espaço para progresso nas outras arenas.
No Brasil, o acesso estratégico à justiça é visto como uma estratégia importante para contornar a ascendência conservadora nas arenas executiva e legislativa. Desde 2006, a presença de conservadores e evangélicos aumentou significativamente no parlamento. A Frente Parlamentar em Defesa da Vida está ganhando força e os projetos de lei que propõem a proibição total do aborto se tornaram uma ameaça concreta de retrocesso em relação à legislação existente.1 Essa guinada conservadora foi acentuada no Executivo a partir de 2016 com o golpe parlamentar que destituiu Dilma Roussef da Presidência da República.
Ao mesmo tempo, o Supremo Tribunal Federal (STF) está se tornando uma arena institucional aberta à questão. Em 2012, o STF garantiu às mulheres o direito de interromper a gravidez de fetos anencéfalos. Foi a única vez que se avançou no marco legal da proibição, ampliando as hipóteses de aborto legal previstas na legislação penal brasileira da década de 1940 (que previa apenas duas exceções ao crime - risco à vida da mulher e estupro). A vitória nesse caso revelou o potencial da judicialização para avançar a agenda pró-escolha. As esperanças de progresso nessa questão estão atualmente depositadas nesse Tribunal, onde uma ação para a descriminalização do aborto está sendo julgada.
Entretanto, ao falar sobre possíveis avanços por meio da judicialização, não se pode ignorar os riscos da reação. Recentemente, uma decisão a favor da descriminalização do aborto2 provocou uma reação furiosa dos parlamentares conservadores, que aprovaram uma proposta de emenda à constituição para incluir a proteção da vida desde a concepção, o que representa um retrocesso em relação à legislação existente.
Eas últimas duas décadas, para setores importantes dos movimentos de mulheres e feministas na América Latina, os processos de mobilização jurídica se tornaram uma das estratégias possíveis para viabilizar novos marcos políticos, jurídicos e socioculturais em torno do aborto. Além das diferenças que essas estratégias adotam em cada país e dos contextos jurídicos e socioculturais em que se enquadram, pudemos testemunhar como as experiências de judicialização promovidas por esses movimentos em países como El Salvador, México, Argentina, Colômbia, entre outros, ajudaram a garantir que, no debate público, os tecnicismos jurídicos, os processos e as sentenças judiciais se despojassem da linguagem enigmática tradicional em que a lei se baseia e incorporassem os corpos, os rostos e as histórias de mulheres reais. Também acredito que a judicialização do aborto promovida pelos feminismos está se tornando fundamental, pois tenta romper com a fábula liberal e patriarcal da naturalização e abstração da lei. Os casos judiciais em toda a região lançaram luz sobre os diferentes jogos de poder dos sujeitos envolvidos nas disputas, que revelam uma série de estereótipos de gênero, classe, raça e etnia, dinâmicas que muitas vezes são veladas pelas narrativas de universalidade e abstração que regem grande parte das concepções de "lei" como um discurso social.
Apesar desses avanços na promoção do reconhecimento legal do aborto, devemos ressaltar que o uso dos tribunais não é exclusivo dos movimentos feministas e de mulheres. Diferentes casos na região destacam como os setores conservadores estão usando os tribunais para tentar reverter reformas legais, bem como para bloquear o acesso a abortos que já são permitidos por lei. Cada vez mais, esses setores têm homologado suas estratégias de judicialização em nível regional, interpelando, em sua oposição ao aborto, os principais discursos e bandeiras dos movimentos de mulheres para pressionar por reformas libertárias, como o discurso dos direitos humanos. Atualmente, esse é um dos desafios da judicialização do aborto, em que os setores conservadores, longe de rejeitar o plexo dos direitos humanos, reapropriaram-se desse discurso, ressignificando-o com base em suas matrizes morais e ideológicas, cujo pano de fundo remete à perpetuação de ordens sociais, culturais e econômicas de subordinação, construídas discursivamente como pertencentes a uma ordem natural e universal, distante das múltiplas e diversas realidades vitais das pessoas.
Ls recentes eleições de Trump (2016), Bolsonaro e López Obrador (2018) demonstram a sedução do populismo na região, seja de direita ou de esquerda. Incluo López Obrador porque ele também não parece ter a ideologia de uma esquerda liberal quando se trata de mulheres. Nenhum dos três presidentes é favorável ao aborto, nem tem uma política clara de promoção dos direitos sexuais e reprodutivos de mulheres, adolescentes e meninas. Esse populismo conservador representa uma séria ameaça aos direitos sexuais e reprodutivos devido à sua proximidade com as ideias tradicionais sobre a família e a discriminação contra as mulheres, enfatizando seu destino social de serem "boas mães e esposas". Nos casos de Bolsonaro e Trump, de extrema direita, sua misoginia pública e cínica vê os corpos das mulheres como material disponível para a sujeição e dominação sexual masculina. Em suas mãos, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres estão - e estarão - sob constante ameaça de serem restringidos por meio de suas políticas de saúde pública e de suas preocupantes alianças com hierarquias religiosas, tanto católicas quanto evangélicas. Além do impacto administrativo de suas políticas nos cortes orçamentários para programas de educação sexual, na obstrução do financiamento de organizações e clínicas de saúde reprodutiva e nas tentativas regressivas de limitá-lo na área da justiça, o golpe mais sério desses governos é cultural: a ideia de que as mulheres são entidades reprodutivas e sua negação como objetos sexuais no discurso público, uma questão que legitima amplamente o machismo e as masculinidades tóxicas dentro e fora do Brasil e dos Estados Unidos. Em suma, mesmo diante da onda verde de mobilização social que sacudiu a Argentina e se espalhou fervorosamente por outros países da região, promovendo o debate público sobre a descriminalização do aborto, a resistência ao avanço dos direitos reprodutivos nas Américas é forte e aumentou com a chegada ao poder de governos populistas.
Jar Bolsonaro, seguindo o exemplo de Trump, foi eleito com um discurso abertamente misógino. Ele defendeu publicamente a desigualdade salarial entre homens e mulheres e, em sua forma mais radical, incitou a violência contra mulheres e pessoas LGBT. Embora qualquer análise de seu governo ainda seja prematura, tentarei caracterizar três processos que ameaçam a agenda de direitos iguais.
A primeira é silenciosa; é o desmantelamento de políticas públicas anteriores. No caso dos direitos sexuais e reprodutivos, o objetivo é desmantelar a rede de serviços de aborto legal, um processo que já estava em andamento desde o governo anterior. Dificultar, escassear ou interromper o acesso a esses serviços - que já não atendiam a toda a demanda do país - é algo que está dentro da esfera de ação direta do executivo e, portanto, acontece de forma pouco visível.
A segunda é a mais estridente. É a disputa moral da sociedade. É a agenda de combate à "ideologia de gênero", citada como prioridade no discurso de posse do presidente. Uma das frentes dessa agenda é a exclusão da educação sexual e das questões de gênero dos currículos escolares. A mobilização conservadora em torno dos currículos educacionais tornou-se comum nos últimos anos em vários países da América Latina e pode ter consequências desastrosas em um cenário em que a gravidez na adolescência já é um problema sério.3 Mesmo em um nível simbólico (não sem divisões práticas), a história da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres é emblemática. Criada em 2003 pelo governo Lula e dirigida durante esse período por feministas ligadas a movimentos sociais, foi reconvertida por Bolsonaro em uma secretaria associada ao renomeado Ministério das Mulheres, da Família e Direitos Humanos (itálico meu). Para chefiar essa secretaria, Bolsonaro escolheu um pastor evangélico que já se manifestou publicamente contra o aborto e a favor da dedicação das mulheres à maternidade.
O processo mais perigoso, ao que me parece, tem a ver com o incitamento à violência difusa contra grupos minoritários. Os altos e crescentes índices de violência de gênero no Brasil - violência sexual, violência doméstica, feminicídio4 e crimes de ódio contra a população LGBT.5 encontram legitimação simbólica com a eleição de Bolsonaro. Não são apenas os direitos sexuais e reprodutivos que estão em risco, em um contexto em que a violência baseada em gênero está em ascensão.
Ls retrocessos nos direitos sexuais e reprodutivos e no discurso de ódio que estão se tornando evidentes tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos são um alarme claro, não apenas para os defensores desses direitos, mas para os defensores dos direitos humanos em geral em toda a região. No Brasil, mesmo antes da eleição de Jair Bolsonaro, podíamos ver como operava uma agenda política conservadora, na qual um de seus pilares é o aparato discursivo/político da "ideologia de gênero" (podemos analisar, por exemplo, o caso da impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff no discurso do próprio Bolsonaro).
Se há uma década a agenda dos direitos sexuais e reprodutivos era um ponto de ataque dos setores religiosos conservadores, sobretudo da hierarquia católica, hoje o guarda-chuva da "ideologia de gênero" reúne não apenas setores conservadores em matéria de moral sexual, mas também setores nacionalistas, neofascistas e neoliberais, entre outros. Nesse contexto, entretanto, a religião continua a desempenhar um papel central na vida política. O avanço de setores evangélicos mais conservadores em toda a região é um componente político que mudou não apenas a fisionomia sociodemográfica da região, mas também, em muitos casos, os atores tradicionais nas alianças entre religião e política.
Os triunfos eleitorais de líderes conservadores como Jair Bolsonaro, sua plataforma política eleitoral baseada em uma aliança com igrejas evangélicas no Brasil, tornou-se um modelo para os direitistas da região. Isso, sem dúvida, constitui uma ameaça não apenas aos direitos das mulheres e das pessoas LGBTTI, mas também a outras pessoas e comunidades historicamente subalternizadas.
Linterseccionalidade assume a preocupação histórica de incluir as experiências de discriminação racial (especialmente de mulheres afrodescendentes) nas análises de violência e desigualdade baseadas em gênero. Portanto, propõe-se a analisar e compreender a discriminação principalmente na encruzilhada de gênero, raça e classe. Como resultado dessa crítica à cegueira racial na análise dos casos de violência e discriminação contra as mulheres, foram acrescentadas outras categorias - na América Latina - que são igualmente suspeitas de violar a igualdade: etnia, orientação sexual, idade etc. Talvez a interseccionalidade possa ser melhor entendida como uma pergunta: como as experiências de raça, gênero e classe das mulheres podem ser melhor incorporadas às análises de discriminação; como as experiências particulares podem ser destacadas ao analisar a desigualdade estrutural vivida pelas mulheres ou pelas populações historicamente discriminadas? A resposta é contextual e casuística em exercícios de interpretação constitucional. A Corte Interamericana de Direitos Humanos tentou interpretações intersetoriais em julgamentos recentes. Por exemplo, no caso de Talía Gonzáles Lluy, uma menina que foi infectada pelo HIV quando tinha três anos de idade em decorrência de uma transfusão de sangue em um hospital no Equador, a Corte considerou que a discriminação sofrida por Talía decorreu de múltiplos fatores, como resultado da interseção de sua idade, gênero e pobreza, que foi agravada por sua infecção pelo HIV (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 2015).
No entanto, a resposta se torna mais complicada quando as políticas públicas são elaboradas para incluir marcadores de identidade diferenciados, já que o orçamento do Estado e os recursos limitados entram em jogo, bem como a dificuldade de incorporar as necessidades de grupos populacionais muito diferentes em normas e estratégias gerais. Aplicada ao campo dos direitos sexuais e reprodutivos, a interseccionalidade pode fornecer as perguntas necessárias para analisar a discriminação sofrida pelas mulheres indígenas e afrodescendentes na região: como a falta de acesso à educação sexual e aos serviços de saúde reprodutiva as afetou em particular? Que obstáculos específicos elas enfrentaram para tomar decisões autônomas na área da sexualidade e da reprodução? Que formas específicas de discriminação elas sofrem ao tentar acessar os serviços de saúde pública? De acordo com a CEPAL (2011), há taxas de gravidez mais altas entre as mulheres indígenas jovens da região, que também têm altos níveis de atraso educacional e exclusão em comparação com as mulheres não indígenas. Também foi documentado como as mulheres indígenas e afrodescendentes, devido à interseção de gênero com raça e/ou etnia, estão expostas a um risco maior de violações de direitos humanos nos sistemas de justiça e saúde, devido à falta de intérpretes no acesso a esses serviços em casos de violência sexual (Comissão Interamericana de Direitos Humanos, 2011). A mortalidade materna devido à assistência pré-natal e ao parto inadequados é outro fenômeno que afeta desproporcionalmente as mulheres afrodescendentes na região.6 Nesse contexto, diante dos ataques regressivos da atual conjuntura política, a interseccionalidade é uma questão obrigatória para repensar os (antigos) problemas de discriminação estrutural na esfera sexual e reprodutiva.
Um dos efeitos mais perversos da criminalização do aborto é lançar as mulheres nos riscos do aborto inseguro. A mortalidade e as lesões graves resultantes de procedimentos não confiáveis afetam principalmente as mulheres negras e pobres. Da mesma forma, a escassa oferta de serviços de aborto legal afeta principalmente as mulheres usuárias do serviço público de saúde. Portanto, não é possível compreender as consequências da privação do direito ao aborto seguro sem a perspectiva da interseccionalidade. E é essa perspectiva que é cada vez mais utilizada pelos movimentos de mulheres, que também se tornaram mais diversificados e interseccionais no Brasil nos últimos anos. Um exemplo disso foi a participação na última audiência pública sobre a descriminalização do aborto no STF do coletivo Criola, uma entidade que se define como uma "associação civil antirracista, feminista e anti-homofóbica". Como parte de uma nova geração de ativismo feminista, a intervenção desse grupo teve como objetivo demonstrar que a "discriminação composta" e a "subordinação socioeconômica estrutural" a que as mulheres negras foram submetidas as coloca em situação de maior vulnerabilidade em relação à política de saúde reprodutiva do Estado brasileiro (Criola, 2018).
Além disso, é urgente situar o debate sobre os direitos reprodutivos dentro da perspectiva mais ampla da feminização da pobreza. Em um país como o Brasil - e isso também se aplica a outros países da América Latina - onde prevalece uma cultura machista generalizada, a gravidez afeta desproporcionalmente a vida das mulheres. Muitas vezes, elas são deixadas sozinhas para cuidar dos filhos ou são forçadas a se ausentar ou a reduzir sua disponibilidade para o trabalho. A gravidez precoce - que tende a aumentar em um cenário em que não há acesso à educação sexual e um enfoque restrito de gênero nas escolas - também desvia as adolescentes do caminho dos estudos, afetando diretamente suas chances de emprego formal no futuro. A teoria interseccional é fundamental para aprofundar o debate sobre as consequências da negação da saúde reprodutiva e das políticas de educação para as mulheres e seu entrelaçamento com questões de classe, raça e pobreza.
Aom esse avanço do discurso da "ideologia de gênero" que, como eu disse, reúne diferentes agendas de direita, hoje, mais do que nunca, é necessário promover o compromisso e as alianças interseccionais. Embora avanços em determinados direitos tenham sido feitos em vários contextos nos últimos 20 anos, hoje a guarda avançada conservadora está tentando reverter essas conquistas e reforçar as agendas neocoloniais, patriarcais, classistas, racistas e heteronormativas. Embora, superficialmente, a "ideologia de gênero" localize seu ataque às mulheres e às pessoas LGBTTI, o racismo e o ódio de classe também estão sendo mobilizados por meio dessa estrutura discursiva e política. No atual contexto latino-americano, essa plataforma também se baseia em uma matriz neoliberal cujo objetivo não é apenas precarizar os corpos e as subjetividades de gênero, mas também se apropriar dos territórios, dos recursos naturais e do sentido público das políticas estatais, substituindo o coletivo pelo privado, os direitos pelo consumo e a pluralidade e a diferença pelo medo do outro.
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