Estratégias de segurança das mulheres em setores populares da periferia urbana da cidade de La Plata1

Recepção: 6 de outubro de 2021

Aceitação: 9 de fevereiro de 2022

Sumário

O objetivo deste artigo é analisar as estratégias de segurança das mulheres de setores populares de La Plata, Argentina. A hipótese orientadora é que a inovação e a rotinas de estratégias, entendidas como rituais do cotidiano que permitem avançar e projetar uma dimensão do futuro, são fundamentais para a autonomia da mulher. A análise é baseada em informações coletadas através de observações e entrevistas semi-estruturadas com mulheres de dois assentamentos periféricos no município de La Plata. Os resultados mostram que as estratégias conseguem dotar a vida cotidiana de uma certa certeza e colonização do futuro, mas que elas empregam principalmente práticas de evasão e auto-restrição no uso do espaço urbano. Além disso, estas estratégias são mediadas por experiências anteriores sedimentadas, tanto as suas próprias como as de outros.

Palavras-chave: , , , ,

estratégias de segurança por mulheres de setores da classe trabalhadora na periferia urbana de la plata

O objetivo deste artigo é analisar as estratégias de segurança das mulheres da classe trabalhadora em La Plata, Argentina. A hipótese que a norteia é que a inovação e a rotinas de estratégias, entendidas como rituais do cotidiano que permitem continuar e projetar uma dimensão do futuro, tornam-se cruciais para a autonomia da mulher. A análise é baseada em informações coletadas através de observações e entrevistas semi-estruturadas de mulheres de assentamentos periféricos da área municipal de La Plata. Os resultados mostram que as estratégias dão à vida cotidiana uma dose particular de certeza e colonização do futuro, mas que empregam principalmente práticas de evasão e auto-restrição no uso do espaço urbano. Além disso, estas estratégias são mediadas por suas próprias experiências e pelas experiências anteriores de outras mulheres.

Palavras-chave: sentimento de insegurança, medo do crime, incerteza, práticas de segurança, La Plata.


Introdução

O objetivo deste artigo é analisar as estratégias individuais de segurança implementadas por um grupo de mulheres de setores populares para enfrentar o problema da insegurança do cidadão na localidade.2 de Los Hornos, município de La Plata, Argentina. Para este fim, foi desenvolvida uma estratégia qualitativa em dois assentamentos naquela localidade, onde foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com mulheres que ali vivem com a intenção de analisar através de suas contas como elas definem e redefinem estas estratégias. Também foram realizadas conversas informais e observações nos bairros, com o objetivo de explorar situações, atividades e espaços físicos relevantes que contribuem para a explicação do problema proposto.

Se a premissa é que as mulheres nos setores populares da Argentina vivem um processo de aguda desigualdade e vulnerabilidade social, observamos que elas também estão em um ambiente permeado pela incerteza e falta de previsibilidade. É dentro desta estrutura que argumentamos que eles desenvolvem estratégias de segurança. Parte deste ambiente inseguro se deve a diferentes tipos de violência e situações de conflito que se tornaram recorrentes na vida diária das mulheres em particular, e dos setores populares em geral. Seguindo Giddens (1997), este tipo de contexto em constante mudança gera várias preocupações entre os atores sobre os perigos aos quais eles se sentem expostos. Estes, sejam reais ou potenciais, dão origem a uma falta de estabilidade na segurança ontológica e nos parâmetros que organizam, dão sentido, coerência e certeza às atividades da vida cotidiana. Esta impossibilidade de colonizar o futuro em ambientes caracterizados como arriscados causa tanto uma perda de confiança na segurança cotidiana quanto numerosos medos.

Por razões de espaço e para organizar este documento, as estratégias de segurança que serão adotadas são de dois tipos: estratégias de prevenção e de autoproteção, que implicam, respectivamente, parar de fazer ou fazer algo para se sentir ou ser mais seguro (Sozzo, 2008). É importante notar que não é apenas a insegurança cidadã que degrada a autonomia e a segurança ontológica das mulheres; outras inseguranças relacionadas ao meio ambiente, alimentação e trabalho, para citar apenas algumas, afetam as mulheres nos setores populares.

Portanto, o artigo é estruturado de tal forma que, primeiro, o problema do sentimento de insegurança e espaço público é abordado no caso das mulheres, seguido de uma abordagem teórica das estratégias de segurança utilizadas para a análise no artigo e, em terceiro lugar, é apresentada uma seção metodológica, na qual são explicadas a estratégia e as técnicas de pesquisa utilizadas e descritos e analisados os casos em termos sócio-demográficos e subjetivos. As estratégias de segurança das mulheres são então analisadas à luz da proposta teórica e de seu escopo. Finalmente, e como encerramento, são mostradas as principais reflexões que emergiram da análise das entrevistas, conversas informais e observações, tomando como ponto de partida o potencial de uma análise interacionista para ver nestas estratégias tanto a dimensão criativa quanto a dimensão rotineira.

Mulheres, sentimentos de insegurança e espaço público

Por um lado, estudos recentes demonstraram, através de análises quantitativas e qualitativas, que são os setores mais desfavorecidos da sociedade argentina que mais sofrem tanto com a verdadeira vitimização quanto com o medo do crime, já que experimentam a inconsistência institucional, a desigualdade e a fragmentação social e a vulnerabilidade da forma mais extrema.3 (Castel, 2004, 2010; Corral, 2010; Kessler, 2011; Míguez e Isla, 2010; McIlwaine e Moser, 2007). Kessler (2011) e Dammert (2007a, 2007b) relatam que dentro dos setores populares da Argentina, são as mulheres que experimentam os mais altos níveis de sentimentos de insegurança, e não de vitimização em termos agregados, fato que se repete em toda a região e que reafirma a relativa autonomia dos sentimentos de insegurança com relação às taxas de criminalidade.

Este paradoxo do medo (Warr, 1984) tem sido explicado a partir de diferentes interpretações: de uma suposta irracionalidade a perspectivas feministas que destacam diferentes elementos estruturantes da vida social: cultura patriarcal, socialização diferenciada, papéis esperados, posição social desigual de mulheres e homens devido às estruturas de poder e dominação de gênero (Koskela, 1999; Lindón, 2006a, 2006b; Madriz, 2001; Mehta e Bondi, 2010; Pain, 2001; Snedker, 2015; Soto Villagrán, 2012). Neste sentido, a justificativa para conduzir o estudo sobre as mulheres é que o sentimento de insegurança (Kessler, 2011) ou insegurança subjetiva (González Placencia e Kala, 2007) nas mulheres, além de ser significativamente alto, é distinguível do medo nos homens.

Uma variedade de pesquisas quantitativas mostra que o medo de agressão sexual e assédio nas ruas são as variáveis que, quando agregadas em pesquisas de vitimização e percepção, perturbam e desencadeiam níveis de medo feminino (Dammert, 2007a; Ferraro, 1995, 1996; Lane, 2013; Özascilar, 2013; Warr, 1985). O trabalho de Warr e Ferraro é eloqüente a este respeito. Warr descobriu, através da análise de tais pesquisas, que para as mulheres menores de 35 anos, o medo de estupro e abuso sexual por estranhos atinge mais de dois terços delas, o que as coloca no topo de sua escala de medo, e este medo específico tem um efeito: a tese de sombra. Esta tese implica que o medo da agressão sexual tem um efeito amplificador sobre o medo de outros tipos de crime e obscurece as especificidades das inseguranças percebidas pelas mulheres.

Mais recentemente e com dados da América do Sul, Dammert (2007a) sistematizou e analisou as informações registradas através desses mesmos instrumentos em quatro megacidades. Lá ele observa a mesma diferenciação na percepção da insegurança entre os gêneros: com variabilidade diferente dependendo do caso, as mulheres relatam sentir-se mais inseguras em todos eles. Ela argumenta que é importante notar que embora sejam menos vítimas de certos tipos de crimes, como os perpetrados com violência física, outros são sub-notificados pelas mulheres. Estes são tipicamente aqueles que são dirigidos contra eles e seus corpos, ou seja, agressões verbais em espaços públicos ou violência mais explícita, como agressões sexuais, que vão desde esfregar o corpo a abusos. Isto se deve tanto às deficiências das pesquisas de vitimização na captura do problema como ao fato de muitas das hostilidades das quais são vítimas não serem classificadas como crimes. Portanto, Dammert conclui que uma visão androcêntrica se manifesta mesmo no projeto de instrumentos públicos para a coleta de informações relacionadas a este problema. Ela também mostra que a dimensão do tempo tem um grande efeito sobre a variação entre homens e mulheres, já que as mulheres relatam sentir-se "muito inseguras" ao caminharem em seus bairros à noite.

O sentimento de vulnerabilidade crescente, tanto física quanto social, e a impotência que isso gera também explica em parte o medo crescente das mulheres, que por sua vez reforça a masculinização do espaço público e seus usos e contribui para a persistência de relações desiguais de gênero (Pain, 1991). O medo de circular pela cidade, além de fortalecer as dependências dos outros, degrada seu status de cidadãos detentores de direitos, restringindo suas liberdades. Da mesma forma, outro elemento relevante para a explicação dos sentimentos de insegurança das mulheres, suas representações e percepções é o fato de terem sofrido ou terem sofrido violência familiar ou violência por um homem em seu ambiente (Kessler, 2011; Madriz, 2001; Stanko, 1995). Tais situações de conflito agravam significativamente a idéia dominante da vulnerabilidade e preocupação das mulheres com sua integridade física e sexual. Elas também complicam as suposições que têm acompanhado grande parte da criminologia e sociologia do crime do século XX, que muitas vezes assumiram que vários assaltos e violências são principalmente espacializados na esfera pública e são perpetrados por estranhos (Hale, 1996).

Por sua vez, a fragmentação espacial urbana segrega as heterogenidades: heterogenidades de classe, sócio-econômicas, de gênero, étnicas e de idade, dando origem ao nascimento de um novo modelo de espacialidade. Neste sentido, a fragmentação é entendida aqui como um

fenômeno espacial resultante da ruptura, separação ou desconexão da forma e estrutura pré-existente da cidade [...] Implica o abandono da idéia da cidade como lugar de encontro, intercâmbio democrático e prestação de serviço universal [...] A relação entre a segregação sócio-espacial e a fragmentação urbana pode ser concebida em termos de uma relação entre distância social e espacial (Burguess, 2009: 101, 116, 120).

Consequentemente, para os casos estudados aqui, a fragmentação está entrelaçada e complexificada com a divisão sexual do espaço existente, que também hierarquiza os territórios, moldando os lugares através das expectativas geradas e dos papéis esperados. Assim, a experiência das cidades não é a mesma para as mulheres que para os homens, nem é a mesma para aqueles que vivem em situações de marginalização. Desta forma, as experiências das mulheres analisadas sofrem de uma dupla vulnerabilidade ou uma interseção de exclusões, as de gênero e de classe, que têm implicações para suas experiências, seu desfrute da cidade e dos espaços públicos em geral.

Neste sentido, partimos da idéia de que o espaço é construído intersubjetivamente e que é o resultado de uma produção ligada a relações de poder desiguais. Desta forma, reconhecemos a existência de limitações e demarcações não só de lugares, mas também de horários que restringem a liberdade de movimento das mulheres, atribuindo diferentes papéis e autorizações, e que surgem das construções sociais do "ser mulher" (Lindón, 2006a; 2006b; Falú, 2009). Estes "espaços que recusamos" (del Valle, 2006) são aqueles aos quais as mulheres renunciam ou circulam porque fazem parte de sua vida cotidiana, mas que são basicamente mediados por medos. Em termos gerais, ou seja, indo além do espaço público, existem certas autorizações sociais em relação a comportamentos esperados e aceitos para cada um dos gêneros que são apoiados por valores e construções culturais dominantes (Rainero, 2009).

Além disso, como o sentimento de insegurança é vivenciado individualmente, a interpretação e o uso dos espaços é produzido a partir de uma situação e posição social particulares na estrutura. Isto porque o espaço público ou certos lugares em particular, como construções sócio-históricas, representam perigo e insegurança somente para certos grupos em posições sociais definidas (Koskela, 1999; Lindón, 2006a, 2006b; Mehta e Bondi, 2010; Snedker, 2015; Soto Villagrán, 2012). Esta restrição, que mais condiciona os movimentos femininos, aplica-se a muitas das ruas e lugares públicos considerados perigosos, bem como a lugares desabitados e não iluminados.

Nesta linha, as contribuições das geografias feministas são sem dúvida fundamentais para a análise dos corpos das mulheres situados no espaço público. A problematização dos corpos como primeira escala geográfica e como a estruturação genérica dos espaços e lugares tem efeitos sobre as formas de habitar e passar pela cidade têm sido parte das grandes contribuições destes pesquisadores (Massey, 2001; McDowell e Sharp, 1999; McDowell, 2000). Embora a geografia humanista tivesse nomeado corpos ao trazer a dimensão subjetiva para o centro da análise espacial, eles não foram tomados como categorias de análise ou explicação. Assim, os autores não apenas marcaram uma ruptura dentro da disciplina geográfica, mas também abriram um caminho para o estudo dos corpos como locais de criação e recepção de emoções, significados, práticas e experiências.

A relativa privação do espaço público como conseqüência dos sentimentos de insegurança de muitas mulheres muitas vezes leva ao isolamento ou à reclusão parcial, mas crescente, na esfera privada. Isto se torna particularmente problemático, pois restringe a possibilidade da construção da alteridade através de encontros com o outro nas experiências cotidianas típicas do ambiente urbano (Lindón, 2006a; Soto Villagrán, 2012). Esta retirada ou distanciamento experimentado por muitas mulheres contribui para

enfraquecer a auto-estima feminina e aprofundar sentimentos de insegurança [...], [e favorece] um processo circular de reversões, de produção e reprodução de antigas e novas subjetividades femininas em que o medo é expresso e as mulheres são ligadas a ele (Falú, 2009:23).

Estratégias individuais de segurança para lidar com a incerteza no ambiente

A dinâmica de re-individualização que as sociedades contemporâneas estão passando reconfigurou os suportes coletivos que protegiam os indivíduos e lhes permitiam projetar-se e afirmar um mínimo de independência social para "dominar as vicissitudes do futuro" (Castel, 2010: 78), sendo os mais afetados aqueles que não têm o capital econômico, social e cultural para enfrentar as novas exigências da responsabilidade individual (Castel, 2004). Assim, as rotinas e hábitos que as pessoas desenvolvem nestes espaços assumem uma centralidade fundamental para a organização da vida cotidiana, principalmente para enfrentar as ambivalências que surgem e para minimizar ou evitar os perigos (Giddens, 1997; Goffman, 1970).

Desta forma, a tentativa dos atores de espacializar o medo e a insegurança tenta estabelecer demarcações entre espaços seguros e inseguros, mesmo quando as transformações no espaço urbano e as experiências vividas nele têm desalojado ou desterritorializado a insegurança (Kessler, 2011; Reguillo, 2008). A ubiqüidade da insegurança e a incerteza que ela gera tentará ser aliviada pelos atores através da identificação de sujeitos, objetos e espaços seguros e inseguros, atribuindo-lhes propriedades fixas a fim de tentar encontrar estabilidade e certeza na vida cotidiana.

Mas da mesma forma, neste contexto de desafiliação e diversas formas de vulnerabilidade social, as estratégias que as mulheres empregam diariamente para enfrentar a insegurança fazem parte da criatividade desenvolvida pelos sujeitos, entendida como as formas inovadoras de agir diante de novas experiências e situações (Castel, 2010; Giddens, 1997). Assim, as estratégias de segurança serão aqui entendidas como as práticas desenvolvidas pelos sujeitos que estão orientadas para a prevenção ou resolução de conflitos ou ameaças potenciais. Ambos são delineados pela rotina e criatividade, que condensam uma reflexividade em torno da própria experiência e de outras experiências anteriores. Além disso, estas estratégias podem assumir duas formas, aquelas que são realizadas individualmente e aquelas que são desenvolvidas ou pensadas coletivamente e em grupos; neste artigo somente as primeiras serão descritas e analisadas.

A falta de previsibilidade, aliada à perda de credibilidade das instituições e agentes do Estado, traz consigo transformações nos modos de sociabilidade urbana, em termos de atores encontrando a diversidade de outras testemunhas com seus próprios medos, prescrevendo e proibindo certas práticas no espaço público (Reguillo, 2008). Neste sentido, também podemos conceber estas práticas como uma forma pela qual sujeitos em áreas onde o Estado se retirou ou está em retiro começam a gerar formas de administrar e procurar garantir sua segurança (Walklate, 2001).

No caso da Argentina, as fortes transformações nas condições de reprodução material e sociabilidade dos setores populares durante a ordem neoliberal não significaram a ausência do Estado, mas sim "uma forma qualitativamente diferente de governança estatal [...] que demonstra simbolicamente o poder arbitrário do Estado e reforça a separação entre populações válidas e inválidas" (Auyero e Berti, 2013: 122). Para os setores médio e popular, as políticas econômicas e sociais implementadas significaram que o Estado deixou de ser um produtor e garantidor de vários direitos sociais. Assim, em vez de uma retirada parcial ou total, encontramos uma presença de estado contraditória, seletiva, intermitente e muitas vezes violenta, que está presente através de seu braço repressivo ou punitivo.

Neste tipo de contextos externos inseguros, a rotinação destas estratégias e a "consciência prática" tornam-se fundamentais para a busca de autonomia dos indivíduos, como rituais da vida cotidiana que permitem avançar e projetar uma dimensão do futuro (Giddens, 1997). As diferentes práticas empregadas podem ser pensadas como capacidades adquiridas a partir da experiência individual e coletiva acumulada, que tentam encontrar, embora nem sempre com sucesso, soluções diferentes para as situações conflituosas que enfrentam diariamente nos territórios que habitam ou por onde passam (Rodríguez Alzueta, 2011). Entretanto, isto não implica que consideremos que esta vida cotidiana deva ser concebida em termos de uma naturalização da violência e do crime, ou que ela implique uma espécie de imobilismo por parte dos atores. Pelo contrário, em cada situação e encontro presencial, os sujeitos interagem de acordo com certas regras no âmbito de um cenário onde motivos, imputações e intenções situadas em uma dimensão espaço-temporal específica estão presentes (Goffman, 1970). De acordo com o acima exposto, o uso e gestão do "código da rua" implica a apropriação de certas regras informais e comportamentos organizados no âmbito da interação social, o que contribui para a manutenção das relações interpessoais no espaço público dos bairros da classe trabalhadora.4 (Anderson, 1999).

Finalmente, é importante destacar e levar em consideração que as mulheres, experimentando uma maior sensação de insegurança, são mais propensas a transformar suas rotinas, práticas e comportamentos por medo de serem vitimizadas (Madriz, 2001; Rainero, 2009). Isto seria particularmente visível no caso das mulheres de setores populares, uma vez que, dada a escassez de recursos, elas não têm certos confortos -como seu próprio carro-, o que leva muitas delas a se auto-imporem a restrições espaço-temporais que as confinam e lhes causam mal-estar.

Considerações metodológicas e contextuais

Como mencionado, a metodologia do artigo é qualitativa. As informações foram coletadas entre agosto e setembro de 2016 nos assentamentos de El Arroyito e El Zanjón de Los Hornos, no sudoeste de La Plata, na província de Buenos Aires. A amostragem foi não-probabilística e de bola de neve. Foram realizadas 22 entrevistas semi-estruturadas, nas quais as perguntas iniciais eram amplas, a fim de permitir o surgimento de medos e inseguranças não diretamente relacionadas ao crime, à delinqüência ou à segurança cidadã, bem como para observar o fio condutor temporal construído nas narrativas das mulheres.

Também foi levado em consideração que o número de entrevistas deveria ser representativo da pluralidade de vozes das mulheres que vivem em cada assentamento, de acordo com sua nacionalidade e idade, dado que a interseccionalidade nos permite observar que cada um desses grupos experimenta o sentimento de insegurança dentro e fora de seus bairros de maneiras diferentes (ver tabela 1 no Anexo). As entrevistas proporcionaram acesso às experiências das entrevistadas, o que elas percebem e como interpretam, informando a natureza da vida social das mulheres em sua própria situação, posição e conjunto de relacionamentos (Geertz, 2003; Weiss, 1995). Desta forma, as estratégias securitárias apresentadas foram identificadas e resgatadas das narrativas com base no que reconheceram ao lidar com diferentes expressões de insegurança. Em segundo lugar, a observação seletiva e focalizada (Werner e Schoepfle, 1987) foi combinada para explorar situações, atividades e espaços considerados relevantes e que contribuíram para a explicação do problema, e também para retomar elementos que não haviam sido contemplados no início.

Caracterização sócio-demográfica dos assentamentos

As habitações dos assentamentos de El Arroyito e El Zanjón são principalmente barracos de madeira e algumas outras construções precárias feitas de cimento ou tijolo aparente. Em termos de acesso, apenas duas linhas de ônibus, concessionadas a uma empresa privada, conectam os bairros com a localidade de Los Hornos e com o distrito de Berisso, adjacente a La Plata. Ambos cruzam o centro da cidade de La Plata e sua rota termina a alguns quarteirões de ambos os assentamentos. Estes ônibus são os únicos que passam pela área, funcionando a cada vinte minutos de segunda a sexta-feira, e a cada quarenta minutos nos fins de semana. Como ambas as linhas têm rotas muito semelhantes, poderíamos dizer que a comunicação entre os dois bairros é limitada. Para viajar para outras áreas de La Plata, os residentes têm que ir às avenidas principais para usar ou combinar outras linhas da rede de serviço público. Isto, além de aumentar o custo de vida, reflete a segregação das áreas em que eles vivem. Por sua vez, ter que atravessar o centro da cidade significa longos tempos de viagem na vida diária dessas pessoas.

O acesso aos serviços é deficiente. Com exceção das avenidas, os bairros têm pouca iluminação de rua ou asfalto. Não possuem conexões de gás natural, nem redes de drenagem ou de água potável. A coleta pública de lixo é pouco freqüente, e tanto o Arroyito quanto o Zanjón estão saturados de lixo e roedores, tornando os assentamentos particularmente insalubres. A falta de calçadas e asfalto dificulta a circulação dos vizinhos e impossibilita a passagem de ambulâncias, policiais e caminhões para recolher o lixo de um grande número de famílias. Isto é particularmente problemático durante a estação chuvosa e leva a possíveis acidentes, tais como quedas e viagens.

Um outro elemento sociodemográfico é que na localidade de Los Hornos podemos identificar dois importantes fluxos migratórios. Na primeira, durante os anos 50, migrantes internos chegaram de províncias do norte e nordeste do país em busca de trabalho; na segunda, que ocorreu com maior intensidade desde 1990, migrantes de países vizinhos, principalmente Bolívia e Paraguai, também em busca de emprego e da possibilidade de ter direitos básicos garantidos pelo Estado, tais como saúde e educação gratuitas. Através de observações e encontros informais, observou-se que os novos colonos geralmente se estabelecem perto de seus parentes que já estão assentados, e assim foram formadas zonas espacialmente diferenciadas de argentinos, bolivianos e paraguaios, que estão ligados uns aos outros com maior ou menor grau de conflito. Para os casos aqui analisados, El Arroyito e El Zanjón são em sua maioria povoados por argentinos, paraguaios e filhos e netos argentinos de paraguaios.

El Arroyito e El Zanjón como espaços vividos

Com relação à dinâmica de vizinhança, apontaremos algumas rotinas que poderiam ser reconhecidas através das observações em ambos os assentamentos. Minha chegada aos bairros variou, dependendo dos horários em que organizei as entrevistas, mas sempre usando transporte público, cerca de uma hora e meia ou duas antes do primeiro encontro e até altas horas da noite. Dadas as condições habitacionais e os limitados metros quadrados das habitações, uma grande parte da vida do bairro acontece nas ruas, de modo que o espaço público nos setores populares se torna um lugar de sociabilidade forçada (Rodríguez Alzueta, 2011). Isto significa que os locais de encontro para crianças e jovens, principalmente meninos, implicam em uma habitação e não uma simples passagem pelas ruas, pois as possibilidades de recreação e consumo em lugares privados e fechados são escassas. Isto também implica o entrelaçamento das condições e processos urbanos, econômicos e culturais.

Os homens adultos tendem a deixar a vizinhança pela manhã, já que a maioria deles trabalha em canteiros de obras em outras áreas e os trabalhos neste setor começam muito cedo pela manhã. Estes trabalhos são especialmente voláteis quando os dias de chuvas fortes são prolongados e o trabalho é interrompido. A proximidade do Rio de la Plata e das terras úmidas torna esta situação freqüente, de modo que muitas das famílias em que a principal renda é a do pedreiro masculino vivem em uma situação de permanente preocupação e incerteza. O ponto de encontro dos jovens, principalmente rapazes, durante o dia e à noite, são os recantos do bairro. Eles se encontram lá para conversar, brincar, beber álcool ou tomar drogas. Sabíamos antecipadamente, através de conversas informais com as mulheres, que, sejam elas assediadas ou não, essas reuniões tendem a incomodar os vizinhos. Na medida do possível, eles tentam evitar passar por essas áreas tomando rotas alternativas para chegar ao seu destino, seja porque fazem ruídos irritantes ou porque os consideram uma ameaça potencial.

Além do acima exposto, nem todos os dias são iguais nos assentamentos. Os dias da semana, os horários e as estações do ano contribuem para delinear as dinâmicas de vizinhança e família. Os fins de semana são os períodos mais movimentados do ano, especialmente nos poucos dias de sol e antes do pôr-do-sol. As crianças correm para fora, brincando umas com as outras ou andando de bicicleta sob o olhar de suas famílias, que ficam do lado de fora de suas casas bebendo mate. Além disso, os jovens também podem ser vistos nas ruas saindo para comprar cerveja ou andando de motocicleta de forma muito rápida e barulhenta, fato que desperta desconforto entre os vizinhos, seja por causa do incômodo em termos de sensorialidade auditiva, seja por causa dos acidentes de trânsito que eles podem causar. Nunca vimos uma mulher nesses grupos de homens. Na maioria das vezes, as mulheres jovens também habitam o espaço do bairro como um grupo, mas as atividades mais freqüentes são os passeios como uma forma de lazer e recreação e não como uma mera forma de trânsito, muitas vezes com crianças em carrinhos de bebê.

Por outro lado, algo que tem sido observado é que há pouca movimentação de pessoas, lojas fecham e as atividades cessam nas ruas e praças quando começa a escurecer. As ruas ficam vazias e as famílias se retiram, o que significa que as rotinas e a vida cotidiana nas casas são organizadas de tal forma que as pessoas tentam não se mover pela vizinhança quando está escuro e desolado. É no contexto descrito para El Arroyito e El Zanjón que as reflexões dos entrevistados sobre suas estratégias de segurança estão espacialmente e biograficamente situadas.

Estratégias difusas na busca da colonização do futuro: a sociedade das esquinas das ruas com o olhar da mulher

Para as mulheres, o direito de usar o espaço público é limitado (Madriz, 2001). Rotinas e hábitos como não passar por certos lugares caracterizados como ameaçadores ou perigosos, não ir a parques ou praças - principalmente à noite - ou não esperar pelo transporte sozinho, fazem parte das várias formas que a restrição de circulação das mulheres entrevistadas assume. Isto implica que o desenvolvimento de certas práticas que elas realizam na tentativa de evitar enfrentar uma situação de conflito, especialmente evitando certos espaços, é parte integrante da experiência de vida cotidiana das mulheres entrevistadas.

A principal ameaça identificada pelos entrevistados são os jovens, especialmente aqueles que se encontram nas esquinas das ruas ou andando de motocicleta. A análise deste artigo enfoca as estratégias que eles aplicam em torno desta identificação.5 Wilma diz que raramente visita sua irmã em um bairro perto de El Arroyito porque acha que é perigoso e que certamente poderia ser vítima de crime lá. Segundo Wilma, a perigosidade da área é caracterizada pela escuridão e inacessibilidade do espaço, pois não há ruas asfaltadas e múltiplos grupos de jovens que ela não conhece na área.

A relevância do conhecimento do outro está no fato de que muitas mulheres dizem que sempre estabelecem uma saudação cordial com os jovens nas esquinas das ruas de sua vizinhança. Eles estavam calmos ao falar sobre eles, afirmando que porque os respeitam, não os incomodam, ou porque os conhecem, estão confiantes de que não farão nada com eles. Estas estratégias preventivas manifestam proximidade e as adotam com o objetivo de reduzir a distância (Simmel, 2018) que os separa dos jovens, para que não sejam vistos como estranhos. Estes vizinhos comentam:

Todos eles se reúnem ali [em frente a sua casa]. Aqui na esquina também, mas como eles vêem você passar todos os dias é como... Se você é mais conhecido, eles têm um pouco mais de respeito por você. Mas se você passar pela 66 [Avenida], ou ir para o lado do parque, não passe à noite (Nancy, 49 anos de idade).

Não, eu não me meto com ninguém... Porque, acima de tudo, respeito. Você me respeita, eu o respeito e não se incomoda. Eu digo olá e você continua... (Silvana, 29 anos).

Se eles passam, me pedem um cigarro e eu lhes dou... ou eu lhes passo água ou uma garrafa. Eles me pedem, eu dou a eles. Eu não tento ir contra eles, eu tento me dar bem com eles [...] eu nunca fui uma mulher que tivesse medo deles, ao contrário, eles gritavam comigo e eu também gritava com eles... Eu levantava de manhã [e eles diziam] "Oi, como vai?", "Traga a conta para beber mate", eu gritava com eles, então eu tentava me dar bem com eles (Nadina, 58 anos de idade).

O acima exposto também ilustra a gestão do "código da rua" e do comutação de código (Anderson, 1999). Isto significa que as mulheres, dependendo da situação, mudam o registro que utilizam diariamente para lidar com os diferentes encontros que podem enfrentar ao ar livre. As mulheres que reconhecem a compreensão e a possibilidade de lidar com o código do outro, e de se desenvolver a partir dele, são principalmente aquelas que passam mais tempo no espaço público do bairro. Assim, ao se concentrarem na situação, eles compreendem esses símbolos e significados através da interação, o que então contribui para a interpretação das situações quando se encontram com o outro. A possibilidade de desdobramento no espaço público desta forma permite a alteração de códigos e, conseqüentemente, de certos tipos de comportamento circunstancial através da avaliação prévia de possíveis cursos de ação (Goffman, 1974). Esta abordagem e a suspensão parcial da distância social e espacial lhes dá confiança e previsibilidade; menos freqüentemente, tais jovens quebraram as expectativas de interação com a agressão verbal ou ao invadir seu espaço pessoal.

Além disso, pode-se aventurar a hipótese6 que este comportamento dos homens em sua vizinhança e em relação às mulheres que conhecem se deve aos custos de interação, já que o fato de as mulheres vizinhas saberem quem são, onde vivem e conhecerem os membros de suas famílias aumenta as chances de que possam exercer sanções contra os jovens homens. Mesmo quando não são agredidas ou no fim receptor do leering, as mulheres continuam a perceber este encontro e interação em termos assimétricos, pois em sua experiência cognitiva e através das cadeias de interação, estes sujeitos são capazes de não se conformar com as expectativas e formas do encontro do bairro.

Por outro lado, podemos reconhecer que várias das mulheres expressaram que, nas horas da noite, elas geralmente não saem para as ruas e que não deveriam precisar sair de qualquer forma. Para alguns dos entrevistados isto se deve ao medo de serem vitimizados ou verbalmente assediados por jovens. Mas para outros é por causa dos códigos de honra que regulam as relações e estão em jogo nestes assentamentos, em termos de diferenciar sua própria posição na vizinhança em relação a outros vizinhos e famílias. O respeito - embora não apenas para as mulheres - é uma característica central em tais contextos e é, ao mesmo tempo, um elemento chave de negociação na interação do código da rua. Da mesma forma, muitas das mães relataram que, após a chegada das crianças da escola, elas tiveram que ficar com elas para cuidar das crianças. Por esta razão, eles também não teriam nada a fazer nas ruas à noite, argumentando a restrição dos horários em que teriam que parar de andar nos bairros e a retirada nas casas.

À tarde é difícil para mim [sair de casa]... é a hora em que meu marido chega em casa... ele chega do trabalho às seis [à noite], e nessa hora eu já estou lá dentro, cozinhando e... fazendo coisas [...] Sim... Eu faço a limpeza aqui, cuido da minha filha, cuido da minha mãe que está muito doente (Wilma, 47 anos).

A este respeito, podemos reconhecer que a maternidade nas mulheres e as expectativas e responsabilidades sociais que pesam sobre elas também marcam sua experiência de insegurança. O peso do mandato maternalista na educação e cuidado e um senso de responsabilidade significa que muitos deles comentaram que suas maiores preocupações e medos estão relacionados às ameaças a suas famílias e não a si mesmos. Todas as mães solteiras disseram que quando começa a escurecer, elas evitam andar na vizinhança. Eles argumentam que isto se deve principalmente ao fato de que seus filhos são jovens e estão sempre com eles, portanto, o medo de que possam ser assediados quando estão com seus filhos os faz dizer que são mais cautelosos quando se movimentam com eles do que quando estão sozinhos.

Eu não faço muito com as crianças. Vou e volto com as crianças para não... não saio muito à noite. O máximo que eu faço é depois das oito [à noite] quando volto do clube com eles, só isso. Depois disso... eu não... eu ando com pressa. E certifique-se de que sempre haja pessoas lá. [...] especialmente quando eu venho com eles (Karla, 34 anos).

Karla só se desloca pelo bairro à noite quando volta de buscar seus filhos em suas atividades esportivas no clube do bairro. Neste caso, a única circunstância semanal em que ela não pode evitar circular à noite e com seus filhos, ela caminha apressadamente e através de lugares movimentados os poucos quarteirões que separam sua casa do clube. Assim, o que podemos observar é que, dependendo não apenas do contexto espacial, mas também de quem a acompanha, as estratégias a serem desenvolvidas variam.

Andar com pressa, pensar à frente, olhar com cuidado e ficar de olho em todos os movimentos das pessoas que circulam nas proximidades faz parte da vida cotidiana dos entrevistados. Em outras palavras, "estar atento" ao que está acontecendo ao seu redor, ser capaz de "detectar o comportamento inadequado dos outros" (Soto, 2012: 58) - sempre homens - é algo muito recorrente nos depoimentos e se torna outra estratégia que procura dar certeza nas interações nos espaços públicos. Estar alerta implica uma carga cognitiva e emocional negativa, o que dificulta o prazer ou a apropriação do exterior, dependendo do contexto espaço-temporal. Em termos de proxemia, se durante o dia a concordância e a proximidade de outras pessoas é avaliada positivamente ao optar por ruas movimentadas, durante as horas de escuridão isto se torna uma fonte de medo.

Em todos os grupos etários, o assédio ligado ao assédio sexual no espaço público apareceu explicitamente apenas secundariamente em relação a outras experiências avaliadas como inseguras, mas está subjacente às narrativas. As experiências de assédio registradas foram ligadas a comentários e olhares obscenos. Diante disso, as estratégias foram evasivas, escolhendo não confrontar os homens que os assediaram de modo a não agravar o conflito para uma maior agressão, envolvendo contato físico ou assédio contínuo. Nenhum dos entrevistados relatou ter sofrido qualquer tipo de invasão do corpo, mas esta possibilidade é experimentada como uma ameaça latente. Isto apoia a tese da sombra e influencia a prevalência da passagem em vez de habitar o espaço público. Em todos os casos, idéias ligadas à localização correta do corpo feminino, significadas e sexuadas por outros, são inseridas. Todos eles parecem saber qual é o seu lugar O fato de que as relações sociais e os processos espaciais se reforçam mutuamente (McDowell, 2000) dificulta a sua integração no mundo exterior.

As mulheres entrevistadas não apenas limitam suas atividades, mas também, em seu papel de mães, restringem as atividades de seus filhos por medo de que algo possa acontecer com elas. Em particular, isto pode ser visto nos relatos das duas mulheres que têm filhos adolescentes. Priscila tem um filho de 14 anos e ao contar o cuidado que teve para que ele não fosse exposto a nenhuma possível vitimização nas ruas ou a atividades que ela considerava impróprias para um garoto daquela idade, ela enfatizou em seu relato que confiava em seu filho, mas não nos jovens ao seu redor:

O que eu não gostaria é que algo acontecesse com meu filho. Acho que não saberia como lidar com isso nem como agiria se algo acontecesse com meu filho. x. Ele vai à escola comigo, ele vai ao trompete, eu o levo e vou buscá-lo... como uma questão de cuidar de sua integridade física. Eu confio nele, eu sei o que ele é, mas não confio no resto. Isso é o que acontece com qualquer mãe. [Simula conversa] "Não me importo de me levantar a qualquer momento e procurar por você, você é meu filho". E se eu não cuidar de você, ninguém cuida de você". É assim que é.

Wilma, que é mãe de uma menina de 12 anos, também está preocupada em ficar sozinha na rua - dia ou noite - e interagir com os jovens nas esquinas das ruas. Ela enfatiza a necessidade de repetidas conversas sobre as precauções a serem tomadas nas estradas públicas. Dada a socialização generalizada, é mais comum que as meninas sejam ensinadas desde tenra idade em suas famílias diferentes conselhos e imposições, que elas devem sempre ser cuidadosas e comportar-se adequadamente. O conselho gira em torno de estar atento a possíveis agressões sexuais, mas também sobre como andar, como se vestir, como sentar, como ser feminino e respeitado, o que simultaneamente os distingue e os distancia dos outros. Wilma argumentou que:

Eu sempre falo com ela sobre essas coisas... não para andar por aí onde as crianças estão, não para falar com as crianças... não para ir a lugares escuros... Mas ela não... Ela não sai aqui à noite. Não, porque seu pai já está aqui e nós queremos vê-la aqui dentro... Ele quer vê-la aqui dentro. Eu comprei para ela o tábua e ela está lá dentro, no seu quarto. Não, ela não sai. É lá que ela tem sua amiga [aponta para uma casa vizinha]. Bem no fundo do quarteirão, é para onde ela vai. Então, antes que o pai dela venha, eu a chamo. Por aqui, ela não sai sozinha, eh? (Wilma, 47 anos de idade).

Através destes dois casos vemos a tentativa de manter os jovens fora das "ruas". As mães que se consideram "decentes" também afirmam ser rigorosas com a parentalidade, tentando levá-las a incorporar um senso de responsabilidade, trabalho e os princípios morais "certos". Estas estratégias para impedir que seus filhos interajam com pessoas que eles consideram não serem como eles, porque compartilham valores supostamente diferentes, restringem as experiências das crianças mais novas com base em imaginários construídos sobre o outro. Também, na percepção desses dois entrevistados, o controle sobre seus filhos evitará problemas tanto em espaços públicos quanto privados, co-produzindo segurança através dessas práticas restritivas (Agudo, 2016).

Seguindo Skeggs (2019), de uma perspectiva macroestrutural, as mulheres da classe trabalhadora têm sido vistas tanto como o problema como a solução para a ordem social. O ideal doméstico de mulheres-mães cuidadoras que operam em ambas as entrevistadas é semelhante, mas é mais significativo porque a última está em um casal e a primeira não está. Isto é, embora Wilma não seja a única mãe presente, ela manifesta o mesmo peso e senso do mandato de boa paternidade, mesmo quando ela está em um casal e o outro entrevistado não está (Palomar Verea e Suárez de Garay, 2007; Skeggs, 2019). A internalização deste mandato, o imaginário materno e o cuidado com seus filhos, não ocorre sem mediação. Ela é reforçada nas interações com conhecidos e estranhos e nas sanções que eles aplicam às mulheres mães. Essas sanções têm gradações, e podem ser mais ou menos simbólicas, como, por exemplo, a divulgação de fofocas nos bairros como forma de disciplinar, dadas as relações próximas.

Reflexões finais

Este artigo descreve e analisa como as estratégias individuais de segurança são definidas e redefinidas no âmbito das interações face a face, a fim de enfrentar o problema da insegurança cidadã em um grupo de mulheres de setores populares na localidade de Los Hornos. O foco foi colocado no próprio processo de interação, prestando atenção às conversas e trocas, a fim de perceber como as estratégias são configuradas e modificadas na negociação micro-social, e o sentimento em si é uma das contribuições deste artigo.

A tentativa de mapear as condições precárias em que as mulheres e suas famílias vivem e as vulnerabilidades que elas e suas famílias experimentam procurou ir além de uma mera exposição do espaço material para compreendê-lo em termos de um espaço de vida, que, ao ouvir as vozes daqueles que ali vivem, adquire um significado particular. O lugar ocupado neste trabalho pela análise do contexto da vizinhança tornou possível ver onde as estratégias diante da insegurança estão inscritas.

A percepção de insegurança e mal-estar manifestada na própria vizinhança ainda é uma descoberta, mesmo que o sentimento seja bastante difundido. A maioria dos estudos sobre o medo do crime no século XX mostrou como resultado que as proximidades do local de residência e a própria residência eram consideradas lugares seguros, pois as casas foram assumidas como um refúgio contra o perigo externo. Elementos como conhecer mais pessoas, saber quem são e onde vivem para um possível pedido de ajuda, saber sobre ruas e calçadas, a localização da iluminação, entre outros, continuam a desempenhar um papel nas avaliações, mas não são suficientes para construir uma percepção de segurança em suas áreas de residência.

As estratégias de prevenção e autoproteção analisadas foram consideradas cheias de criatividade. Ambos são influenciados pela avaliação do contexto espaço-temporal e dos movimentos corporais a serem implantados, resultando na ação a ser executada no encontro face a face com os outros. E à medida que se tornam eficazes, no sentido de evitar situações ameaçadoras, as estratégias se tornam rotinas. Criatividade e diversidade de estratégias podem ser esclarecidas a partir da perspectiva proposta, uma vez que colocando o foco em encontros presenciais e recuperando ferramentas conceituais de interacionismo simbólico, negociações, avaliações e intercâmbios assumem uma centralidade explicativa. As análises estruturais deram grandes contribuições ao subcampo de estudos que se referem às experiências das mulheres no espaço público atravessado pela (in)segurança, mas não nos permitem abordar explicações que explicam como funciona a agência que dá lugar à variabilidade das práticas das mulheres no trânsito pelo espaço público.

Por outro lado, foi demonstrado como as normas de respeitabilidade e as diretrizes e imputações moldam as estratégias de segurança das vizinhas femininas e os comportamentos e práticas esperados que elas devem manter por causa de sua posição como mulheres no espaço público. A atribuição de espaços por gênero, os lugares que são negados, os horários restritos, as precauções tomadas ao fazer certas viagens e a conseqüente limitação de sua circulação degradam as possibilidades de sua experiência de vida urbana e sua qualidade como cidadãos na medida em que restringem seus direitos e liberdades e, ao mesmo tempo, prolongam o papel de mulher-mãe cuidadora no espaço público. Como demonstramos, os deslocamentos e usos da rua criados pelas mulheres foram moldados principalmente pelas atividades diárias ligadas ao trabalho reprodutivo e não ao trabalho produtivo, mesmo quando elas eram trabalhadoras.

Da mesma forma, a variabilidade das estratégias de segurança é marcada pelas expectativas, mas também pela avaliação de encontros presenciais situados em um espaço-tempo. A construção do outro com base em narrativas mostrou como os motivos são traçados e atribuídos a um "nós" e a um "eles" construídos em relação aos outros habitantes dos assentamentos. As relações sociais que as mulheres mantêm diariamente com alguns dos membros do bairro são marcadas por estratégias de distância social e autodefesa, considerando que um episódio violento, incivil ou ameaçador pode ocorrer a qualquer momento. Conseqüentemente, as atribuições de significado estabelecidas nestas outras se manifestam e traçam não apenas uma distância social, mas também uma distância espacial no próprio assentamento. A fragmentação urbana, em sua dimensão espacial e social, é incorporada na vida diária dessas mulheres através das lógicas de exclusão descritas acima, tais como dificuldades infra-estruturais ou dificuldades de mobilidade e imobilidade. Também foi observado como o sentimento de insegurança é produzido de forma particular em um ambiente de deterioração da esfera pública, voltando nosso olhar para a presença do Estado como produtor de espaços de convivência e habitabilidade. Isto também se cruza com o gênero, pois as expectativas de interações não ameaçadoras no espaço público são muito baixas para as mulheres, o que agrava a dinâmica de expulsão da cidade.

Como mencionado, nenhum dos entrevistados mencionou explicitamente o medo de estupro e agressão sexual física, mas descobriu-se que, para o caso analisado, ele também opera como a "sombra", influenciando outros medos de vitimização. Além das contas mostradas, isto pode ser apoiado pelo fato de que o outro medo recorrente é sempre um corpo jovem e masculino. Nos poucos casos em que o medo da mulher foi expresso, sempre houve conhecimento prévio e conflito interpessoal entre o entrevistado e o outro. Em ambos os casos, a maior probabilidade de risco avaliada era evidente naqueles crimes ou hostilidades que envolviam contato presencial e a proximidade de corpos, ou seja, a possibilidade de receber algum tipo de agressão física.

Em termos gerais, pode-se argumentar que as diversas estratégias contribuem para que estas mulheres se sintam mais seguras. Como resultado, eles também dão uma certa certeza a suas experiências de vida diária, que são marcadas por um contexto de precariedade, pobreza e falta de proteção do e contra o Estado. Recuperar a dimensão subjetiva da vulnerabilidade social é outra das contribuições feitas, dada a maior importância do trabalho acadêmico, para o estrutural ou objetivo, para a vulnerabilidade social em seu duplo processo.

Da mesma forma, dada sua avaliação do presente e a percepção de que o Estado não fornecerá segurança ou certeza, consideramos que as estratégias de autoproteção estão se multiplicando para evitar situações ameaçadoras ou para antecipá-las a fim de minimizar as possíveis conseqüências. Finalmente, mergulhar na dimensão da agência feminina e suas práticas na cidade nos permite problematizar postulados que sustentam que o espaço público é proibido às mulheres, assim como a possibilidade de pensar que elas não são meras reprodutoras de estruturas e mandatos sociais. Isto sem dúvida contribui para problematizar e compreender as experiências dos urbanos em toda sua complexidade e, assim, construir políticas públicas para democratizar o acesso e a fruição da cidade.

Finalmente, em um próximo projeto de pesquisa, esperamos trabalhar sobre estratégias e espacialidade e a forma como elas são construídas de acordo com os papéis de gênero. Será relevante, como uma contribuição, realizar uma análise comparativa que aborde a construção do sentimento de insegurança e o desenvolvimento de estratégias em homens, mulheres e crianças. lgbttti+ e uma maior diversidade de mulheres com diferentes trajetórias de vida e que não é necessariamente seu status de classe que as aproxima.

Bibliografia

Agudo, Alejandro (2016). “Encuentros ciudadanos con la policía y coproducción de seguridad entre el Estado y la familia”, en María E. Suárez de Garay y Nelson Arteaga Botello (ed.), Violencia, inseguridad y sociedad en México. México: comecso/fccyt, pp. 223-50.

Anderson, Elijah (1999). Code of the Street. Nueva York y Londres: ww Norton & Company.

Auyero, Javier, y María F. Berti (2013). La violencia en los márgenes. Buenos Aires: Katz Ediciones.

Beck, Ulrich (1999). La sociedad de riesgo global. Madrid: Siglo xxi. https://doi.org/10.24201/edu.v13i3.1025

— (2006). La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad. Barcelona: Paidós.

Bertoni, Gimena (2016). Sentimiento de inseguridad y gestión de vulnerabilidades en mujeres de sectores populares. Tesis de maestría. México: flacso-México. Recuperado de http://flacso.repositorioinstitucional.mx/jspui/handle/1026/101, consultado el 12 de julio de 2022.

Burguess, Rod (2009). “Violencia y la ciudad fragmentada”, en Ana Falú (ed.), Mujeres en la ciudad. De violencias y derechos. Santiago: Red Mujer y Hábitat/sur, pp. 99-126

Castel, Robert (2004). La inseguridad social: ¿qué es estar protegido? Buenos Aires: Manantial.

— (2010). El ascenso de las incertidumbres. México: fce.

Corral, Damián (2010). “Los miedos y el alma inquieta del barrio. Representaciones sociales sobre la inseguridad y lógicas de acción en sectores populares del Gran Buenos Aires”. En Gabriel Kessler, Maristella Svampa e Inés González Bombal (ed.), Reconfiguraciones del mundo popular. El Conurbano Bonaerense en la postconvertibilidad. Buenos Aires: ungs/Prometeo, pp. 457-504.

Dammert, Lucía (2007a). “Entre el temor difuso y la realidad de la victimización femenina en América Latina”, en Ana Falú y Olga Segovia (ed.), Ciudades para convivir. Santiago: sur, pp. 89-107.

— (2007b). Perspectivas y dilemas de la seguridad ciudadana en América Latina, vol. 2. Quito: flacso-Ecuador.

Falú, Ana (2009). “Violencias y discriminaciones en las ciudades”, en Ana Falú (ed.), Mujeres en la ciudad. De violencias y derechos. Santiago: Red Mujer y Hábitat/sur, pp.15-38.

Ferraro, Kenneth F. (1995). Fear of Crime. Nueva York: University of New York Press.

— (1996). “Women’s fear of victimization: Shadow of sexual assault?”. Social Forces, vol. 75, núm. 2, pp. 667-90. https://doi.org/10.2307/2580418

Geertz, Clifford (2003). La interpretación de las culturas. Barcelona: Gedisa.

Giddens, Anthony (1994). Las consecuencias perversas de la modernidad. Madrid: Alianza.

— (1997). Modernidad e identidad del yo: el yo y la sociedad en la época contemporánea. Barcelona: Península.

Goffman, Erving (1970). Ritual de la interacción. Buenos Aires: Tiempo Contemporáneo.

— (1974). Frame Analysis. Boston: Northeastern University Press.

González Placencia, Luis y Julio Kala (2007). Aproximaciones empíricas al estudio de la inseguridad. México: Miguel Á. Porrúa.

Hale, Chris (1996). “Fear of Crime: A Review of the Literature”. International review of Victimology, vol. 4, núm. 2, pp. 79-150. https://doi.org/10.1177/026975809600400201

Kessler, Gabriel (2011). El sentimiento de inseguridad: sociología del temor al delito. Buenos Aires: Siglo xxi.

Koskela, Hille (1999). “‘Gendered Exclusions’: Women’s Fear of Violence and Changing Relations to Space”. Geografiska Annaler, Series B: Human Geography, vol. 81, núm. 2, pp. 111-124. https://doi.org/10.1111/1468-0467.00067

Lane, Jodi (2013). “Theoretical Explanations for Gender Differences in Fear of Crime. Research and Prospects”, en Claire Renzetti, Susan Miller y Angela Gover (ed.), Routledge International Handbook of Crime and Gender Studies. Abingdon: Routledge, pp. 57-70.

Lindón, Alicia (2006a). “Territorialidad y género: una aproximación desde la subjetividad espacial”, en Patricia Ramírez Kuri y Miguel Á. Aguilar (ed.), Pensar y habitar la ciudad. Afectividad, memoria y significado en el espacio urbano contemporáneo. Madrid: Anthropos/uam Iztapalapa, pp. 13-33.

— (2006b). “Violencia/miedo, espacialidades y ciudad”. Casa del Tiempo, vol. 1, núm. 4, pp. 8-15.

Madriz, Esther (2001). A las niñas buenas no les pasa nada malo. El miedo a la delincuencia en la vida de las mujeres. México: Siglo xxi.

Massey, Doreen (2001). Space, Place and Gender. Minnesota: University of Minnesota Press.

McDowell, Linda y Joanne Sharp (1999). A Feminist Glossary of Human Geography. Londres: Routledge.

McDowell, Linda (2000). Género, identidad y lugar. Un estudio de las geografías feministas. Madrid: Cátedra.

McIlwaine, Cathy y Caroline Moser (2007). “Living in Fear: How the Urban Poor Perceive Violence, Fear and Insecurity”, en Kees Koonings y Dirk Kruijt (ed.), Fractured Cities: Social Exclusion, Urban Violence and Contested Spaces in Latin America. Nueva York: Zed Books, pp. 117-37. https://doi.org/10.5040/9781350220225.ch-008

Mehta, Anna y Liz Bondi (2010). “Embodied Discourse: On gender and fear of violence”. Gender, Place & Culture, vol. 6, pp. 67-84. https://doi.org/10.1080/09663699925150

Míguez, Daniel y Alejandro Isla (2010). Entre la inseguridad y el temor: instantáneas de la sociedad actual. Buenos Aires: Paidós.

Özascilar, Mine (2013). “Predicting Fear of Crime: A Test of the Shadow of Sexual Assault Hypothesis”. International Review of Victimology, vol. 19, núm. 3, pp. 269-84. https://doi.org/10.1177/0269758013492754

Pain, Rachel (1991). “Space, Sexual Violence and Social Control: Integrating Geographical and Feminist Analyses of Women’s Fear of Crime”. Progress in Human Geography, vol. 15, núm. 4, pp. 415-31. https://doi.org/10.1177/030913259101500403

— (2001). “Gender, Race, Age and Fear in the City”. Urban Studies, vol. 38, núms. 5-6, pp. 899-913. https://doi.org/10.1080/ 00420980120046590

Palomar Verea, Cristina y María E. Suárez de Garay (2007). “Los entretelones de la maternidad: a la luz de las mujeres filicidas”. Estudios Sociológicos, vol. 25, núm. 74, pp. 309-40.

Rainero, Liliana (2009). “Ciudad, espacio público e inseguridad. Aportes para el debate desde una perspectiva feminista”, en Ana Falú (ed.), Mujeres en la ciudad. De violencias y derechos. Santiago: Red Mujer y Hábitat/sur, pp. 165-76.

Reguillo, Rossana (2008). “Sociabilidad, inseguridad y miedos: Una trilogía para pensar la ciudad contemporánea”. Alteridades, vol. 18, núm. 36, pp. 63-74.

Rodríguez Alzueta, Esteban (2011). “Los vecinos de Las Rosas y sus estrategias securitarias”. en Olga Salanueva y Manuela González (eds.), Los pobres y el acceso a la justicia. La Plata: edulp, pp. 113-44.

Simmel, Georg (2018). Sociología. Estudios sobre las formas de socialización, vol. 2. Ciudad de México: fce.

Skeggs, Beverley (2019). Mujeres respetables. Clase y género en los sectores populares. Los Polvorines: ungs.

Snedker, Karen (2015). “Neighborhood Conditions and Fear of Crime: A Reconsideration of Sex Differences”. Crime & Delinquency, vol. 61, núm. 1, pp. 45-70. https://doi.org/10.1177/0011128710389587

Soto Villagrán, Paula (2012). “El miedo de las mujeres a la violencia en la Ciudad de México: Una cuestión de justicia espacial”. Revista invi, vol. 27, núm. 75, pp. 145-169. https://doi.org/10.4067/S0718-83582012000200005

Sozzo, Máximo (2008). Inseguridad, prevención y policía. Quito: flacso Ecuador.

Stanko, Elizabeth (1995). “Women, Crime, and Fear”. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, vol. 539, núm. 1, pp. 46-58. https://doi.org/10.1177/0002716295539001004

Valle, Teresa del (2006). “Seguretat i convivència: cap a noves formes de transitar i d’habitar”, en Isabela Velázquez (ed.), Urbanismo y género, una visión necesaria para todos. Barcelona: Diputació Barcelona, pp. 109-126.

Walklate, Sandra (2001). “Fearful Communities?”. Urban Studies, vol. 38,
núms. 5-6, pp. 929-39. https://doi.org/10.1080/004209801200 46617

Warr, Mark (1984). “Fear of Victimization: Why Are Women and the Elderly More Afraid?” Social Science Quarterly, vol. 65, núm. 3, pp. 681-702.

— (1985). “Fear of Rape Among Urban Women”. Social Problems, vol. 32, núm. 3, pp. 238-250. https://doi.org/10.1525/sp.198 5.32.3.03a00060

Weiss, Robert (1995). Learning from Strangers. The Art and Method of Qualitative Interview Studies. Nueva York: The Free Press.

Werner, Oswald y Mark Schoepfle (1987). Systematic Fieldwork. Foundations of Ethnography and Interviewing, vol. 1. California: sage.

Whyte, William (2015). La sociedad de la esquina. Madrid: cis.

Anexo

Tabela 1. Perfis das mulheres entrevistadas. Fonte: elaboração própria com base nas informações fornecidas pelas entrevistadas.

Gimena Bertoni é doutoranda em Ciências Sociais na flacso-México Branch. Mestrado em Ciências Sociais da flacso-É formada em Sociologia pela Universidade Nacional de La Plata, Argentina. Ela é membro da Associação Argentina para a Pesquisa em História das Mulheres e Estudos de Gênero (Asociación Argentina para la Investigación en Historia de las Mujeres y Estudios de Género).aaihmeg). Ela é membro do Grupo de Estudo sobre Violência, Justiça e Direitos Humanos do Centro de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Nacional de Mar del Plata, Argentina; e participante do projeto "Forças de segurança, vulnerabilidade e violência no contexto da pandemia de HIV/AIDS". covid-19" da Agência Nacional para a Promoção da Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Argentina.

Assinatura
Notificar
guest

0 Comentários
Feedbacks do Inline
Ver todos os comentários

Instituições

ISSN: 2594-2999.

encartesantropologicos@ciesas.edu.mx

Salvo indicação expressa em contrário, todo o conteúdo deste site está sujeito a um Creative Commons Atribuição- Licença Internacional Creative Commons 4.0.

Download disposições legais completo

Encartes, vol. 7, núm 13, marzo 2024-septiembre 2024, es una revista académica digital de acceso libre y publicación semestral editada por el Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social, calle Juárez, núm. 87, Col. Tlalpan, C. P. 14000, México, D. F., Apdo. Postal 22-048, Tel. 54 87 35 70, Fax 56 55 55 76, El Colegio de la Frontera Norte Norte, A. C., Carretera escénica Tijuana-Ensenada km 18.5, San Antonio del Mar, núm. 22560, Tijuana, Baja California, México, Tel. +52 (664) 631 6344, Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Occidente, A.C., Periférico Sur Manuel Gómez Morin, núm. 8585, Tlaquepaque, Jalisco, Tel. (33) 3669 3434, y El Colegio de San Luís, A. C., Parque de Macul, núm. 155, Fracc. Colinas del Parque, San Luis Potosi, México, Tel. (444) 811 01 01. Contacto: encartesantropologicos@ciesas.edu.mx. Directora de la revista: Ángela Renée de la Torre Castellanos. Alojada en la dirección electrónica https://encartes.mx. Responsable de la última actualización de este número: Arthur Temporal Ventura. Fecha de última modificación: 25 de marzo de 2024.
pt_BRPT