Pesquisa social e ação política no contexto da violência. Reflexões sobre minha experiência com a Community Press na Guatemala.

    Recebido em: 28 de agosto de 2018

    Aceitação: 3 de dezembro de 2018

    Sumário

    Após o genocídio da década de 1980 e o processo de paz na Guatemala, foi iniciado um processo de desapropriação territorial vinculado à atividade de indústrias extrativas e megaprojetos. A resposta foi a mobilização das comunidades afetadas, que se tornou o eixo da organização indígena e antineoliberal no país, à qual o Estado respondeu com a deslegitimação, a repressão e a criminalização dos líderes ativistas e das autoridades comunitárias.

    Nesse contexto, um grupo de ativistas me convidou a participar de um projeto político para acompanhar essas comunidades por meio de análise, disseminação e reflexão. O mesmo contexto forçou o projeto a se tornar uma iniciativa de comunicação alternativa - Imprensa Comunitária - e ações contra a criminalização.

    Neste texto, reflito sobre minha experiência nesse espaço e nesse processo como um caso de uso político da profissão de pesquisador social. Examino os desafios e as possibilidades dos processos em que as ciências sociais são transpostas para ferramentas de ação comunicativa e jurídica, e mostro as tensões que estavam presentes.

    Palavras-chave: , , ,

    Pesquisa social e ação política em contextos de violência: reflexões sobre minha experiência com a imprensa comunitária na Guatemala

    Após o genocídio e o processo de paz da Guatemala na década de 1980, um protocolo de confisco de terras territoriais foi promulgado em conjunto com atividades da indústria extrativa e megaprojetos. A resposta foi a mobilização das comunidades afetadas, que se tornou um eixo para a organização da resistência indígena e antineoliberal em todo o país. O Estado respondeu com deslegitimação, repressão e criminalização dos ativistas, líderes e autoridades da comunidade.

    Nesse contexto, um grupo de ativistas me convidou para iniciar um projeto de acompanhamento político nessas comunidades usando análise, difusão e reflexão. O próprio contexto obrigou o projeto a acabar sendo uma iniciativa de comunicação alternativa - uma "imprensa comunitária" - e também se traduziu em ações contra a criminalização.

    Reflito sobre minha experiência nesse espaço e processo, como um caso de uso do trabalho do pesquisador social para fins políticos. Revisito os desafios e as possibilidades que os processos das ciências sociais implicam quando se tornam ferramentas para atos comunicativos e legais, bem como exemplos de tensões que surgiram durante meu trabalho.

    Palavras-chave: Guatemala, comunidades, desapropriação, pesquisa coletiva.

    Em um trabalho recente, Gustavo Lins Ribeiro (2018) pediu um maior envolvimento das ciências sociais na sociedade que estudamos e da qual fazemos parte. A questão da relação entre os cientistas sociais e a ação política não é de forma alguma uma questão nova ou resolvida, mas a situação atual exige que repensemos nossas ações.

    Soma-se a isso a provocação vinda dos mesmos sujeitos sociais subalternos historicamente pesquisados - os povos indígenas, no meu caso -, tanto da política (Segato, 2015) quanto da própria academia (Cumes, 2008; Ramos, 2018), que está questionando e modificando as formas e os objetivos de nosso trabalho - especialmente aqueles de nós que trabalham com e sobre grupos politicamente organizados -, forçando-nos a pensar sobre a pesquisa social a partir de estruturas e processos que os incorporam como sujeitos com plenos direitos nas atividades de pesquisa e geração de conhecimento.

    Neste artigo, quero contribuir para esse debate compartilhando minha experiência como parte do coletivo que criou a Prensa Comunitaria na Guatemala, para refletir sobre as possibilidades que as ciências sociais e nosso trabalho como pesquisadores podem oferecer para a atividade política, bem como as limitações e os problemas dessa ação. Não vou contar toda a história desse coletivo, nem seria possível mostrar aqui o número de atividades, dinâmicas e relações que eles colocaram em movimento; apenas apresentarei reflexões baseadas em parte do meu trabalho no coletivo entre 2011 e 2016, para mostrar os dilemas, problemas e propostas que surgiram durante minha participação nesse projeto.1

    Nesse sentido, este texto faz parte de - e deve muito a - uma série de trabalhos que buscam refletir sobre as ciências sociais com base em uma etnografia contextualizada de nossas próprias ações como pesquisadores.2

    O contexto e o problema: ação política comunitária na Guatemala

    A entrada das comunidades indígenas no processo de questionamento geral foi um dos elementos que abalou o regime militar instalado na Guatemala desde a intervenção da CIA em 1954. Longe das narrativas triunfalistas que subsumiam essa incorporação às ações políticas das organizações guerrilheiras ou que colocavam os povos indígenas "entre dois fogos" (Stoll, 1993), está cada vez mais claro que essa incorporação maciça dos maias ao movimento revolucionário na segunda metade da década de 1970 (Arias, 1985) foi o resultado de uma dinâmica de transformação e politização do altiplano maia guatemalteco (Vela, 2011), que respondeu ao tipo de modernização que lhe foi imposto.3 A incorporação revolucionária não era a única forma de buscar participação política; havia também a participação eleitoral em nível nacional e municipal, bem como em organizações culturais, camponesas e cooperativas. Mas o importante é que, a partir da segunda metade da década de 1970, as comunidades deixaram de ser o sujeito político da mobilização, e a iniciativa passou para as organizações nacionais (Bastos, 2015a), fossem elas o Comitê de Coordenação Indígena, o partido Frente de Integração Nacional (FIN) ou uma das organizações revolucionárias (Falla, 1978, Cojtí, 1997; Uk'ux Be', 2005). Embora essa atividade revolucionária tenha sido o exemplo mais radical da entrada dos indígenas na modernidade (Le Bot, 1992), as formas e lógicas comunitárias foram fundamentais para a mobilização (McAllsiter, 2003; Bastos e Camus, 2003; Vela, 2011; Palencia, 2015; Tzul, 2016).4

    O genocídio do início da década de 1980, que dizimou 400 aldeias, causou um milhão de deslocados e a maioria dos 200.000 mortos no conflito (CEH, 1999), foi o resultado da combinação da doutrina de segurança nacional com o medo e o desprezo racistas (Casaus, 2008; Sanford, 2003). O conflito encerrou essa fase de mobilização e organização indígena na Guatemala, transformando as comunidades no objeto central da violência atroz e desumana e, em seguida, submetendo-as à militarização e ao controle que desarmou os órgãos comunitários em meio a uma atmosfera de medo, divisão interna e desconfiança que durou 15 anos (Zur, 1998).

    O objetivo era que o "regime civil", inaugurado em 1985-1986 sob controle militar (Schirmer, 2000), não envolvesse as comunidades indígenas que haviam colocado em xeque toda a estrutura do poder oligárquico. Entretanto, os maias organizados aproveitaram os poucos espaços abertos a eles e a dinâmica do processo de paz entre 1991 e 1996 para ressurgir como um "movimento maia" que exigia direitos como povo e um lugar no espaço político. Por meio de sua ação política e graças ao apoio da comunidade internacional, esse ator indígena unificado conseguiu garantir que a paz assinada em 1996 incluísse um Acordo sobre Identidade e Direitos dos Povos Indígenas (AIDPI) que reconhecia a discriminação histórica em relação aos três povos indígenas da Guatemala: Maya, Xinka e Garífuna, aos quais foi reconhecida uma série de direitos culturais e alguns direitos políticos (Cojtí 1997; Bastos e Camus 2003).5

    Toda essa mobilização se baseou na ideia de criar um sujeito, o povo maia, a partir de uma identidade "pan-maia" que superaria a divisão político-cultural produzida pelos 23 idiomas e pelas poderosas identidades locais-comunitárias - que eram consideradas o resultado da divisão imposta pelos colonizadores (Warren, 1998; Fisher e Brown, 1996). Foi esse povo unificado que reivindicou do Estado guatemalteco os direitos a que tinha direito como povo nativo. Por esse motivo, a dinâmica política continuou a privilegiar os atores nacionais, agora coordenações e organizações que se assumiam e agiam como maias (Bastos e Camus, 2003). As comunidades foram fundamentais como apoio, fornecendo líderes e ativistas e apoiando-os quando necessário.

    Mesmo assim, a tão sonhada paz não trouxe tranquilidade a esses espaços, pois os acordos de paz foram, em sua maioria, engavetados, e uma inserção no mercado global foi promovida por meio de políticas neoliberais (Guerra Borges, 2011) que trouxeram descampesinização, migração para os Estados Unidos, violência, farsa eleitoral e corrupção a essas comunidades que estavam apenas emergindo da militarização e da decomposição interna (Camus, 2008).

    No entanto, em meio a tudo isso, começaram a ocorrer processos de recomposição das lógicas e instituições comunitárias, como forma de curar feridas e recuperar espaços de convivência.6 Práticas de direito comunitário maia (Esquit e Ochoa, 1998; Sieder e Flores, 2011), de espiritualidade com a ajuda de guias espirituais (Morales, 2004), de autogoverno com a ajuda de prefeituras indígenas - timidamente reconhecidas pelo Código Municipal de 2003 - e dos Comitês de Desenvolvimento Comunitário - que haviam sido criados para controlar essa capacidade comunitária - começaram a tomar forma (Ochoa, 2013).7 Tudo isso era agora proposto como uma forma de exercer e construir na prática os direitos humanos e os direitos indígenas pelos quais vinham lutando e que eram proclamados na nova "democracia". Nessa rearticulação, foram muito importantes os líderes e ativistas que, depois de terem participado da política nacional que agora entrava em colapso, retornaram às suas comunidades, em muitos casos como autoridades (Bastos, 2015b). Mas o mais importante foi a recuperação, pela população, dessas lógicas, atividades e relações sociais oriundas de sua experiência histórica.

    Esse processo de rearticulação foi fundamental, pois a oligarquia viu os megaprojetos e as atividades extrativistas como uma oportunidade de renovar as bases econômicas de seu poder. Especialmente desde 2004, a política econômica da Guatemala tem se dedicado a apoiar investimentos em mineração, energia hidrelétrica e agrocombustíveis (Solano, 2005; Yagenova, 2012). Diante da ameaça que essas atividades representavam para o pouco espaço e os bens comuns que lhes restavam e para a vida comunitária que estavam apenas começando a reconstruir, surgiram grupos nessas comunidades que estavam em processo de rearticulação e responderam confrontando-os e recusando-se a permitir que operassem em seu território. A maneira pela qual essa capacidade e decisão foram expressas foi por meio de consultas comunitárias de boa-fé, nas quais as comunidades demonstraram sua rejeição a essas atividades com base na Convenção 169 da OIT, na Constituição e no código municipal. Essas consultas começaram em Sipakapa, departamento de San Marcos, em 2005, contra a expansão da Mina Marlin (van der Sandt, 2009; Revenga, 2005), estenderam-se a Huehuetenango em 2006 (Mérida e Krenmayr, 2008) e, em 2011, foram realizadas consultas em cerca de 70 municípios em todo o país (Prensa Comunitaria, 2016).

    O que chamou a atenção nessas consultas não foi tanto sua disseminação, mas a resposta: onde quer que tenham sido realizadas, a participação foi maciça e incluiu mulheres e crianças (Mérida e Kremayr, 2008; Castillo, 2010; Camus, 2010; Rasch, 2012). Essa capacidade de convocação se deveu ao fato de que elas foram realizadas de acordo com os procedimentos e lógicas da comunidade, e que as autoridades dessas comunidades - reconstituídas, recém-reconhecidas ou tradicionais - foram encarregadas de realizá-las (Trentavizzi e Cahuec, 2012). Dessa forma, essa institucionalidade comunitária no processo de renovação adquiriu um papel político fundamental como intermediária com o capital e o Estado e como unificadora da dinâmica interna (Tzul, 2016); ao mesmo tempo, garantiu uma mobilização contínua contra as empresas que se instalaram nos territórios comunitários.

    Assim, em um contexto em que os atores nacionais - organizações indígenas, camponesas e revolucionárias - haviam se esgotado e se desmobilizado após a miragem da paz e do multiculturalismo (Bastos, 2013), essas comunidades mobilizadas em defesa de seus territórios e de suas vidas tomaram a iniciativa da política popular, indígena e antineoliberal. A partir delas, foram desencadeados processos de articulação regional (Castillo, 2010) e as organizações anteriores que sobreviveram politicamente foram as que se juntaram a essa mobilização, cedendo o protagonismo às autoridades comunitárias.

    Uma proposta de trabalho de pesquisa com e para comunidades

    Nesse contexto, em 2011, fui convidada por Quimy de León, uma feminista guatemalteca com ampla experiência no movimento social, para participar do México na implementação de um projeto/processo de acompanhamento e apoio a essas comunidades que estavam se organizando contra a desapropriação territorial.8 O objetivo era apoiar essas comunidades mobilizadas porque acreditávamos que elas estavam envolvidas em processos participativos e desenvolviam formas de organização que poderiam contribuir muito para o futuro da Guatemala neoliberal do pós-guerra em que estávamos vivendo. Queríamos implementar um processo/projeto centrado nessas comunidades e organizações que estavam no centro da mobilização, cujo trabalho deveria servir de insumo para seu processo, mas também de onde a ação deveria partir.

    Depois de nossas respectivas experiências na academia, em ONGs ou em outras organizações, os membros do coletivo pensaram que a lógica da pesquisa deveria partir dos próprios sujeitos políticos, sem procurar suplantá-los, mas sim nos colocando a serviço deles. Nesse sentido, e sem ser nosso propósito, essa experiência fez parte dos esforços para alcançar metodologias colaborativas na relação com os sujeitos políticos (Leyva, Speed e Burguete, 2008; Rappaport, 2015; Leyva, Speed e Burguete, 2008). et al., 2015). Evidentemente, havia uma contradição intrínseca no fato de que tudo isso partia de nossa iniciativa e não dessas comunidades como sujeitos políticos. Tentamos resolvê-la com base nos contatos que tivemos em comunidades e coletivos, com os quais procuramos fazer algo semelhante à "antropologia sob demanda" proposta por Segato (2015).

    Depois de várias tentativas de estabelecer uma dinâmica de pesquisa-ação, essa relação prévia com atores e processos nos permitiu localizar três locais marcados por conflitos decorrentes da presença de atividades extrativistas, onde realizamos pesquisas sobre a mobilização comunitária em oposição a essa desapropriação. Esses lugares foram San Juan Sacatepéquez, um município Kaqchikel próximo à capital, onde uma fábrica de cimento estava sendo construída desde 2005; Barillas, uma localidade Q'anjob'al e mestiça no norte de Huehuetenango, onde, em 2008, a empresa espanhola Hidro Santa Cruz instalou uma usina hidrelétrica; e o vale do rio Polochic, onde as comunidades Q'eqchi foram deslocadas pela empresa Chabil Utzaj para plantar cana-de-açúcar. Nos três casos, a organização comunitária foi recebida com repressão, violência e criminalização pelo Estado, o que permitiu que as empresas atacassem as comunidades com impunidade (Bastos e de León, 2014).

    Apesar de nossas intenções, tratava-se, em grande parte, de uma pesquisa tradicional, realizada por pesquisadores de fora da comunidade, mas, desde o início, o foco do trabalho estava nas versões locais do que aconteceu, obtidas das pessoas diretamente envolvidas na defesa do território. Depois de muitas vicissitudes, o trabalho foi concluído e publicado um ano depois do planejado com o título Dinámicas de despojo y resistencia en Guatemala. Comunidades, Estado y empresas (Bastos e De León, 2014).9 O livro foi publicado como um produto do que, na época, decidimos chamar de "Equipe de Comunicação e Análise Colibrí Zurdo".10

    A experiência de participar desse coletivo, desse projeto e dessas tarefas significou uma mudança em minha trajetória como pesquisador. Eu havia trabalhado ao lado e acompanhado mobilizações populares - especificamente indígenas - em trabalhos acadêmicos que poderiam ser considerados colaborativos, mas sempre a partir da minha posição autônoma como pesquisador. Agora havia uma diferença: eu não agia mais como um pesquisador que colaborava com o sujeito em luta, mas sim como um pesquisador que havia se envolvido na luta. como parte dela. Foi um trabalho político realizado por um ator que se assumiu como parte dessa mobilização.

    No entanto, eu também não fazia parte dela totalmente. Minha formação acadêmica foi o que me levou até lá, mas o fato de ser um acadêmico homem, branco, branco e estrangeiro fez de mim o símbolo daquilo contra o que meus colegas estavam lutando. Eles ancoravam suas raízes identitárias - pessoais e políticas - em lutas e em um credo que mais tarde eu viria a conhecer e compartilhar, mas a partir de outras bases pessoais e ideológicas. Na equipe, tínhamos consciência dessas diferenças e procurávamos usá-las como parte da riqueza do nosso trabalho. A vigilância epistemológica e política à qual minhas contribuições foram submetidas foi uma verdadeira experiência de aprendizado para mim, tanto na concepção das metodologias quanto na interpretação dos resultados. Mas isso não impediu o surgimento de tensões sobre pontos de vista e formas de abordar problemas, relações com o restante da disciplina popular e a própria concepção de trabalho em equipe.11

    O impacto da criminalização em Huehuetenango

    Em 2012, quando começamos a trabalhar na pesquisa, aconteceu algo que foi fundamental para a dinâmica da mobilização comunitária na Guatemala e mudou nossos planos de trabalho: o general aposentado Otto Pérez Molina assumiu a Presidência da República, consolidando a política de apoio às empresas extrativistas por meio da repressão e criminalização de qualquer forma de descontentamento, mobilização e defesa de direitos, que foi respondida com repressão direta e militarização da vida política (Cabanas, 2012; Colibrí Zurdo, 2013).12

    Barillas, o local onde estávamos investigando, localizado na área de Q'anjob'al, foi um dos locais onde essa estratégia tomou forma. Em 1º de maio de 2012, um camponês foi morto pelo agente de segurança da empresa Hidro Santa Cruz, e dois outros ativistas que o acompanhavam ficaram feridos. Barillas estava no meio da feira titular e a raiva popular levou um grupo a invadir o destacamento militar e deter o responsável. O presidente declarou estado de sítio e, antes do amanhecer, cerca de 260 policiais e 370 militares (OHCHR, 2012: 3) chegaram à cidade e, durante três dias, fizeram o povo de Barillas reviver os piores momentos da repressão da década de 1980: buscas, militarização, listas negras. Como resultado, nove líderes comunitários e autoridades foram detidos e imediatamente levados para a capital, e um número não especificado deles fugiu para as montanhas para evitar o mesmo destino.13

    Esses eventos foram um precedente para o que aconteceria em outros lugares nos quatro anos seguintes. Diante da mobilização da comunidade, o Estado guatemalteco não hesitou em usar seu repertório repressivo: mortes, sequestros, militarização, desaparecimentos, impunidade (Rivera e De León, 2018). Desde o início dessa fase, o processo criminal foi a forma de repressão mais utilizada em um contexto que não era muito propício à violência extrema. Essa estratégia, usada em toda a América Latina (Composto e Navarro, 2014), busca desmobilizar as comunidades e os grupos organizados por meio do medo e do atrito, e exige a colaboração direta das autoridades de segurança e justiça para implementar processos criminais que são falhos e ilegais desde o início.14 Sua importância em termos de processos de mobilização comunitária nos levou a prestar atenção especial a ela, com a ideia de entendê-la e sua lógica. Desde os eventos em Barillas em 2012, já havíamos denunciado que os líderes detidos eram presos políticos (De León e González, 2012). Posteriormente, foram exploradas formas híbridas de apresentação e divulgação entre a academia, a política e a comunicação, como o texto As vozes do rio (Colibrí Zurdo, 2014), que reconstruiu a história da organização, repressão e criminalização em Barillas por meio das vozes dos perseguidos políticos, e o Relatório sobre perseguição política em Barillas (Colibrí Zurdo, 2013; De León, 2018), que buscou analisar a forma como os eventos ocorreram e estavam ocorrendo nesse local.

    No entanto, a criminalização de autoridades e ativistas em Barillas fez com que a equipe, para manter o espírito do projeto, tivesse que mudar seu foco e objetivo. Como diz De Marinis (2017: 11), a violência nos obriga a considerar um "para quê" que exige respostas concretas e, nesse caso, havia duas. Por um lado, o vínculo entre os membros da equipe e os presos os colocava no papel de intermediários entre as famílias e o processo criminal que se iniciava. Eles foram fundamentais na conexão com advogados e organizações de direitos humanos, enviando informações sobre a situação dos prisioneiros e apoiando visitas de Barillas, a mais de 12 horas de distância. Esse foi o início de um trabalho em relação aos processos judiciais que se desenvolveu nos anos seguintes em litígios estratégicos, campanhas pela libertação de prisioneiros e colaboração com advogados, como veremos a seguir.

    Por outro lado, ficou clara a necessidade de informações verdadeiras sobre o que estava acontecendo em Barillas e com os prisioneiros, pois a mídia escrita, radiofônica e televisiva contava versões imprecisas e parciais, muitas vezes com a clara intenção de transformar os membros da comunidade em criminosos, a fim de facilitar a face jurídico-política da repressão (Korol e Longo, 2009; de León, 2018). Assim, com base na experiência de alguns dos membros da equipe de comunicação alternativa, nos dias seguintes aos eventos descritos acima, foi criado o site Barillasresiste! que publicava informações provenientes da área, o andamento dos processos judiciais e artigos de opinião. Diante da generalização da repressão em todo o país - com o massacre no Alasca como ponto culminante,15 e em acordo com as autoridades e líderes de Huehuetenango, em dezembro daquele ano, o site Prensa Comunitaria apareceu publicamente como um meio de divulgar as diferentes formas de resistência que estavam ocorrendo no país e, acima de tudo, de denunciar o assédio ao qual estavam sendo submetidos.

    A comunicação no centro da ação política

    O surgimento da Prensa Comunitaria como uma agência de notícias administrada por um coletivo significou que o foco e o foco de nosso trabalho mudaram da mobilização e organização da comunidade para as formas de repressão contra elas, e a forma de ação política mudou da pesquisa para a comunicação.16

    Novas pessoas se juntaram à equipe, jovens que deram apoio em diferentes tarefas, e uma rede de comunicadores comunitários foi formada, geralmente jovens envolvidos nos processos de luta em suas comunidades, que representavam e representam melhor do que ninguém o trabalho com e das comunidades que pretendíamos desde o início. Dessa forma, formou-se uma "comunidade político-afetiva" (De Marinis, 2017: 17), que em grande parte se estendeu aos membros das organizações comunitárias, especialmente nas áreas de Q'anjob'al e Q'eqchi.

    A base do trabalho de informação foi a mobilização da comunidade e a criminalização com a qual as empresas e o Estado responderam; mas o trabalho se expandiu para outros espaços e questões (desde o julgamento de Ríos Montt por genocídio até os dias de protesto contra a corrupção, e levou à renúncia do vice-presidente e do presidente do país em 2015) com base em uma rede de colaboradores que enviaram artigos de opinião, relatórios ou notícias, links com a mídia em outros países e o uso de várias mídias digitais (WordPress, Facebook, e-mail, Twitter).

    A Prensa Comunitaria se tornou o espaço que deu forma às preocupações com a ação política que deram origem ao nosso projeto, e a comunicação passou a ser o trabalho básico do coletivo. Entendida como uma ação política, ela abriu espaço para muitos tipos de ações e campos de incidência: o documento Quem somos fala de jornalismo comunitário, feminismo, direitos humanos, litígio estratégico, memória e justiça, sistematização e pesquisa social, arte, curtas-metragens e ilustração (Prensa Comunitaria, n.d.: 3-19). Em outras palavras, uma gama de possibilidades que derivam do desejo de transformar a ação comunicativa, baseada na pesquisa, em ação política. É por isso que não fingimos ser neutros, fomos conscientemente tendenciosos, porque as outras versões já eram dadas pela mídia corporativa.17 Essa postura não estava em desacordo com o rigor na verificação das fontes e no tratamento das questões: a realidade era mostrada de tal forma que não precisava ser forçada. Com tenacidade e perseverança, com base no trabalho voluntário em meio à precariedade do trabalho e da situação econômica dos membros da equipe na Guatemala, a Prensa Comunitaria gradualmente conquistou um espaço para si mesma e ganhou reconhecimento entre a mídia e os atores políticos na Guatemala.

    No entanto, essa ação política também teve seus custos. Vários membros da equipe tiveram que sofrer pressão, violência e criminalização por parte do governo e das empresas.18 Mas não só isso; fazer parte do assunto também nos fez participar de seus conflitos e contradições internos. Quando a equipe da Prensa Comunitaria se tornou um ator na arena política no norte de Huehuetenango, rarefeita e tensa após o estado de sítio em Barillas, a dinâmica interna desse espaço afetou o trabalho: não pudemos apresentar o livro Dinâmica de desapropriação e resistência nem na cidade de Huehuetenango nem em Barillas, devido ao boicote organizado por parte de um setor do movimento social. Desde 2013, já havia rumores, desqualificações, silêncios e agressões verbais que se tornaram um verdadeiro assédio para os membros da equipe na capital, especialmente Quimy de León e a fotógrafa Cristina Chiquín. Aqueles cujos interesses havíamos tocado aproveitaram a desconfiança e as suspeitas deixadas pela clandestinidade e pela repressão entre o sujeito político popular para destruir amizades de longa data, acabar com espaços de coordenação e provocar distúrbios emocionais.

    Todas essas mudanças tiveram um impacto no meu trabalho na equipe. A distância física já havia dificultado a minha participação no trabalho investigativo, e agora era muito mais difícil participar do jornalismo cotidiano. Eu participava da edição de textos e entrevistava pessoas via Skype que ligavam de suas comunidades para relatar casos de violência ou criminalização. Dessa forma, pude acompanhar a evolução da luta e da repressão em Barillas, a violência em Alta Verapaz e a impunidade judicial em várias partes do país.

    Tudo isso não escondeu o fato de que eu estava cada vez mais distante dos fatos sobre os quais estava trabalhando. Se a pesquisa social se baseia no papel de testemunha (De Marinis, 2017: 18), eu achava cada vez mais difícil fazer o trabalho de um pesquisador: o conhecimento direto da realidade social sobre a qual eu estava refletindo estava me distanciando, e isso diminuía minha capacidade de analisar em profundidade e usar minha experiência e conhecimento. Isso dificultou minha contribuição para o trabalho de análise e reflexão, que havia se acelerado com essa nova estrutura metodológica, e para as atividades de pesquisa que ainda restavam. Havia aqui uma questão contraditória e agridoce, pois, ao mesmo tempo, a presença e o papel dos comunicadores comunitários significavam que estávamos trabalhando com base no conhecimento e na versão direta que nos era dada pelos próprios sujeitos mobilizados: eles eram os etnógrafos, aqueles que forneciam as diretrizes para a compreensão dos processos, aproximando-nos de um de nossos objetivos iniciais. A partir daí, foi realizado o trabalho de sistematização e análise.

    No entanto, gostaria de me deter em uma das tarefas que tive de assumir nesse novo formato: tive de escrever artigos de destaque durante quatro anos. Em geral, eram textos analíticos em vez de artigos de opinião, resultado de trabalho em equipe: os argumentos eram baseados em fatos de primeira mão coletados pelos comunicadores, e o assunto era discutido e debatido. Era um formato novo para mim, no qual as exigências de concisão e poder comunicativo eram colocadas acima ou ao lado do rigor e da profundidade da análise. O meio provou ser um meio que não só possibilitou ser lido muito além dos canais acadêmicos habituais, mas também forneceu uma saída para outras formas de expressão e reação à realidade: a indignação era frequentemente o gatilho para a escrita.

    Ação legal em um processo criminal

    Como eu disse anteriormente, diante dessa criminalização do protesto social, a Prensa Comunitaria não atuou apenas como uma agência que priorizou essas questões. Além disso, várias atividades políticas foram e continuam sendo realizadas: campanhas pela libertação de presos políticos, apoio a iniciativas como os Festivais de Solidariedade e contato com a mídia internacional. Nesse contexto, uma nova frente de trabalho foi aberta em colaboração com advogados no processo criminal de ativistas e autoridades. Desde os casos dos nove líderes de Barillas em 2012, trabalhamos com alguns deles, em comunicação com suas famílias, com os próprios presos e no planejamento de estratégias. Com o passar do tempo, o trabalho foi sistematizado, com a elaboração de campanhas de informação e denúncia como parte das propostas estratégicas de litígio dos advogados e o fornecimento de informações sobre os casos e seu contexto que os advogados normalmente não tinham.19

    A criminalização afetou o norte de Huehuetenango de forma muito concreta, onde a mobilização não parou com os eventos de maio de 2012. O julgamento das pessoas detidas em maio de 2012 terminou com sua libertação sem acusação oito meses depois (Bastos et al., 2015). A pressão continuou em Barillas e se espalhou para os municípios vizinhos de Santa Eulalia e San Mateo Ixtatán, onde também foram abertos projetos hidrelétricos.

    Em maio de 2013, uma segunda onda de repressão começou com a prisão frustrada do líder Maynor López, que foi finalmente preso em setembro de 2014, o que, em ambos os casos, levou a uma mobilização em toda a região norte de Huehuetenango que forçou o governo central a negociar acordos em setembro de 2013 que nunca foram cumpridos (Bastos, 2016a). Nesse contexto, tomou forma o Governo Plurinacional da Nação Q'anjob'al, Chuj, Akateka, Popti' e Mestiza, formado por autoridades comunitárias das localidades dos oito municípios do norte do departamento. Seu núcleo era o setor organizado a partir de Santa Eulália - que sempre foi autônomo em relação a outras formas de organização na região -, liderado na época por Daniel Pedro e Rigoberto Juárez, e apoiado pelas autoridades espirituais da região, com seu discurso de respeito e apoio à cultura nativa.20 Sem nunca perder o relacionamento com outras opções, foi com elas que a Community Press trabalhou mais diretamente.

    Naquela época, já havia acusações contra Francisco Juan Pedro, Sotero Adalberto Villatoro e Arturo Pablo Juan pela detenção de trabalhadores da Hidro Santa Cruz em 22 de abril de 2013 no local conhecido como Poza Verde, em Barillas, onde havia sido montado um protesto pacífico contra a usina hidrelétrica. Eles tentaram prendê-los em 23 de janeiro de 2014 no Centro de Administração da Justiça (CAJ) em Santa Eulália, mas algumas pessoas se opuseram, e por esses atos eles também foram acusados quando foram presos em 27 de fevereiro de 2015. Isso abriu uma nova fase de perseguição que continuou em 24 de março, quando Rigoberto Juárez e Domingo Baltasar foram presos por fatos que também ocorreram no CAJ de Santa Eulalia após a detenção e libertação de dois moradores de Pojom, San Mateo Ixtatán, em 19 de janeiro daquele ano. Em 3 de junho, Bernardo Ermitaño López Reyes também foi preso pelos eventos de 23 de janeiro do ano anterior.

    Assim, em meados de 2015, muitas das autoridades comunitárias envolvidas na defesa do território Q'anjob'al foram presas, por meio de uma ação criminal conduzida pela Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público; um paradoxo que mostra bem o funcionamento dos órgãos jurídicos nesses casos.21 Apesar de os fatos pelos quais foram acusados terem ocorrido de maneiras diferentes, os delitos pelos quais foram levados a julgamento eram semelhantes para todos eles: detenções ilegais, coerção, ameaças, instigação para cometer um crime e impedimento de acusação. (Trechos da sentença: 13). Além disso, todos eles também haviam sido acusados de sequestro ou rapto, mas a ação da equipe de defesa conseguiu que isso fosse descartado em outubro de 2015. Apesar disso, a liberdade provisória lhes foi negada, como era seu direito.22

    As visitas aos detidos na Cidade da Guatemala, a cobertura das audiências dos casos, o apoio aos familiares quando viajavam para a capital se repetiram, reforçando o papel dos intermediários e os laços pessoais com eles. Por isso, e por seu conhecimento do ambiente e do processo, a Prensa Comunitaria colaborou de várias maneiras com a equipe de advogados, membros da Associação de Advogados Maias, do CPO e do Escritório de Advocacia de Direitos Humanos.23 As campanhas foram elaboradas com base na ideia de litígio estratégico, os contatos foram facilitados e as informações foram fornecidas sempre que necessário.24

    Nesse contexto, a Prensa Comunitaria insistiu com os advogados sobre a necessidade de relatórios de especialistas que mostrassem como os detentos agiram em sua capacidade como autoridades comunitárias. Isso levou a solicitar à socióloga k'iche' Gladys Tzul um relatório pericial a esse respeito, dado seu trabalho sobre formas políticas em comunidades maias na Guatemala (2015; 2016). Além disso, eles nos pediram, como Imprensa Comunitária, que os apoiássemos com um parecer especializado sobre o contexto de conflito em que as prisões ocorreram, e coube a mim fazê-lo. Essa foi minha experiência mais direta e pessoal nessa faceta das atividades da Imprensa Comunitária dentro do mundo judicial. Devido ao estágio do processo, minha participação não foi considerada oficialmente como "testemunho de especialista", mas como um "relatório de testemunha especialista". Isso me permite esclarecer que, embora minha participação pudesse ser vista como uma testemunha especializada, ela serviu para "fornecer um meio de prova que permite esclarecer um fato ou circunstância considerada obscura" (Valladares, 2012: 11); não uma testemunha especializada antropológica ou cultural, que fornece "informações ao juiz sobre a importância da diferença cultural na compreensão de um caso específico" (idem). Nesse sentido, participei mais como uma "testemunha", alguém que conhecia muito bem um aspecto considerado necessário para que esse tribunal pudesse fazer justiça: o contexto em que os eventos em julgamento ocorreram. Esse conhecimento foi obtido por meio da equipe da Community Press.

    O conteúdo do documento a ser apresentado ao Tribunal foi definido com a equipe da Community Press e em conversas com o advogado Édgar Pérez. Ele foi construído usando dois eixos combinados: por um lado, a desapropriação contínua de recursos e trabalho, atualizada na fase que está sendo julgada, e, por outro, a formação histórica e as ações das autoridades comunitárias na área de Q'anjob'al, insistindo assim no papel histórico dessa institucionalidade comunitária com relação à desapropriação. 25

    Dessa forma, os ladinos, que até então mal estavam presentes, entraram totalmente na área Q'anjob'al, como proprietários ou gerentes das fazendas de café estabelecidas e como representantes do Estado que agora está muito presente na área. Eles ocuparam as posições de poder nos municípios, deslocando os Q'anjob'ales para posições secundárias e forçando-os a se tornarem uma estrutura paralela, de onde organizam o governo da comunidade a partir do que agora será chamado de Principales. Essa figura continua com as tarefas de governo interno, agora com um papel muito importante de intermediário com o Estado nacional, que pela primeira vez está localizado dentro da mesma localidade, articulando duas esferas de legalidade (Bastos, 2016a: 5).

    O conflito gerado na área de Q'anjob'al pela presença de usinas hidrelétricas foi entendido dentro da estrutura latino-americana de extrativismo (Seoane, 2012) e acumulação por desapropriação (Harvey, 2004) e, especificamente, o fim do conflito na Guatemala (Bastos e De León, 2014). Essa reconstrução incluiu a mobilização nos municípios da área, os conflitos que ocorreram com a chegada das diferentes empresas e os processos de acusação criminal de cada um dos prisioneiros julgados. Tudo isso foi feito com base nas notícias coletadas na Prensa Comunitaria, complementadas por outras mídias, se disponíveis. Portanto, o núcleo dessa especialização estava no trabalho coletivo realizado desde 2012 pelas equipes locais em colaboração com a equipe central. Com base nessas evidências, podemos concluir que os atuais prisioneiros foram presos em situações em que estavam fazendo seu trabalho como autoridades.

    Após a assinatura do acordo de paz, as empresas hidrelétricas estiveram presentes em Barillas, Santa Eulalia e na área norte de San Mateo Ixtatán em diferentes momentos, sem respeitar os resultados das consultas comunitárias que haviam sido realizadas anteriormente nesses municípios. Em todos os casos, elas iniciaram suas atividades com enganos e recorreram à intimidação, à pressão e à cooptação, de modo que as autoridades comunitárias cumpriram seu papel de porta-vozes do descontentamento, exerceram o papel de liderança e foram mediar quando houve conflitos com o pessoal da empresa para evitar problemas maiores.

    Mas eles não eram compreendidos pelas empresas e pelo Estado ladino, e prevalecia uma visão preconceituosa de seu papel. Por todas essas razões, tornaram-se alvo da estratégia de persecução criminal que as empresas implementaram em conjunto com agentes judiciais. Apesar disso, as comunidades organizadas e suas autoridades sempre buscaram os canais da legalidade e do diálogo com os diferentes representantes do Estado para resolver as situações de conflito, repressão e divisão comunitária que haviam sido criadas com a chegada dessas empresas (Bastos, 2016a: 24-25).

    Tudo isso significava dar forma jurídica ao argumento da "mobilização comunitária" que estava no centro do trabalho do coletivo desde sua criação, com base no trabalho colaborativo com as comunidades por meio de seus comunicadores. Além disso, a necessidade de ordenar a enorme quantidade de fatos que constituíam o conflito gerado pelas barragens hidrelétricas exigiu a busca de uma lógica - como sempre acontece nos processos de sistematização - que nos permitisse avançar na compreensão dos processos de desapropriação e resistência.

    A experiência da Community Press, um exemplo de pesquisa como ação política

    Este breve resumo não faz justiça a tudo o que aconteceu nesses cinco anos, nem à dedicação, à criatividade e ao profissionalismo da equipe da Community Press. Mostrei apenas alguns dos elementos de minha participação no processo, a fim de refletir sobre o papel e as possibilidades das ciências sociais no contexto de violência e desapropriação generalizada em que vivemos, mas também sobre os problemas que surgem e as limitações desse tipo de ação.

    A primeira coisa que poderia ser dita, na minha opinião, é que a experiência da Community Press é outro exemplo de como as ciências sociais podem fazer muito se saírem do nicho acadêmico. Isso não significa condenar o espaço acadêmico, mas complementá-lo, transcendê-lo, ir além de treinar pessoas para serem acadêmicas e escrever artigos que somente os acadêmicos lerão. Como já foi feito em muitas outras ocasiões (Leyva et al., 2015), estou falando de usar nossas capacidades e aprendizado - nossa vontade intrínseca de conhecer e desvendar, o rigor metodológico, as estruturas e os conceitos - para intervir nos processos sociais por meio de ações que, como a comunicação ou o jurídico, são entendidas com metas e objetivos políticos.

    Dessa forma, a prática e o significado da pesquisa são enriquecidos, transformados de forma criativa e adquirem capacidade crítica sobre sua própria função. Essa forma de utilizar as ciências sociais fora do espaço acadêmico complementa, enriquece e dá sentido ao trabalho que realizamos, colaborando com resultados concretos e palpáveis além daqueles obtidos por meio da academia. Trabalhar dentro da disciplina política e colocar o conhecimento e o know-how que adquirimos a serviço de disciplinas fora da academia nos permite ampliar os espaços e as expressões do trabalho de pesquisa.

    Para isso, é necessário reconhecer o valor da ação política na geração de conhecimento. Se, no campo da política, "a inovação teórica vem da prática", esse acompanhamento pelas ciências sociais pode ser muito útil para ambos os lados: "o ponto de encontro entre a ação política e sua análise é um ponto extremamente fértil para a inovação teórica" (Hale, 2008: 304). Nesse caso, a inserção nos processos por meio da ação comunicativa e jurídica permitiu a elaboração de trabalhos acadêmicos (Bastos e De León, 2014; Bastos, 2015; 2018; Bastos et al.2015; De León, 2018; Rivera e De León, 2018) com base nessa visão da ação comunitária; ao mesmo tempo, enriqueceu o trabalho jurídico (Bastos, 2016b) e, evidentemente, o trabalho jornalístico. Assim, ao mesmo tempo em que eu enriquecia minhas habilidades analíticas, os membros da comunidade com os quais colaborávamos também se apropriavam de técnicas, conceitos e formas de análise das ciências sociais.

    O trabalho em equipe sempre foi cheio de tensões, idas e vindas e, às vezes, conflitos, como já contei. Mas ter de confrontar visões e estruturas acadêmicas com outras matrizes mais politizadas e, principalmente, com as dos atores sobre os quais escrevemos, foi um desafio que nos obrigou a ampliar essas estruturas. Da mesma forma, a vocação comunicativa e o uso de formatos digitais atualizados têm sido uma plataforma para a disseminação de discussões e estruturas de análise.

    Tudo isso não é novo, já existe toda uma tradição de formas de pesquisa ativas, participativas, engajadas e colaborativas "sob demanda" que têm feito isso (consulte os três volumes de Leyva et al., 2015). A especificidade dessa experiência - em um mar de especificidades - é que, embora no início tivéssemos a intenção de produzir conhecimento por meio da pesquisa social, tivemos de agir a partir de outros campos e colocar o foco na comunicação, de modo que a pesquisa deixou de ser o centro para ser um apoio ao trabalho comunicativo, como já mostrei. Era uma questão de transpor a técnica, a metodologia e os conceitos das ciências sociais para essas outras áreas de aplicação.

    Nesse processo, como vimos, houve progresso em uma das premissas do trabalho colaborativo: a participação ativa do sujeito na definição dos objetivos e do escopo do processo.26 Das ações da equipe da Community Press, algumas comunidades organizadas e outros sujeitos têm se apropriado cada vez mais do projeto. Em termos de questões comunitárias, desapropriação e mobilização, o trabalho dos comunicadores comunitários é cada vez mais central e tem um impacto maior nos próprios processos de luta.27 O objetivo agora seria transformar isso em um trabalho sistemático de análise social do qual eles participem no mesmo nível e de acordo com seus objetivos.

    Minha experiência na Community Press também mostra os limites e conflitos dessa opção, como ela não é tão fácil e envolve tensões. Hale (2008: 2) insiste que a relação entre pesquisa e ação política é tensa e difícil por si só, mas que isso faz parte de sua capacidade criativa. Em contraste com a academia, a pesquisa social é concebida e praticada como um meio para um fim político e não como um fim em si mesmo. Isso implica questões tão simples como o fato de que os tempos, os objetivos e a lógica do processo não são mais marcados pela mera operação de indagar e buscar respostas. Cada um deles tem uma leitura da atividade política que afeta a dinâmica. O mesmo ocorre com os conceitos - uma das bases de nosso trabalho -: seu uso será avaliado por sua função e valor político, e não analítico. Em alguns momentos, a lógica faccional é imposta ao processo de pesquisa, influenciando análises, metodologias e atividades; em outros, a autonomia do pesquisador é questionada.

    Outro aspecto em que essa tensão se manifesta é quando a vontade de conhecer e entender os processos sociais é mediada pela necessidade de apoiá-los. Em princípio, não há contradição, pois esse apoio é dado justamente na análise; mas quando estamos no nível da comunicação urgente diante dos fatos, a necessidade de denunciar é colocada acima da necessidade de compreender. Às vezes, a complexidade dos fenômenos que estão sendo estudados não é levada em conta - não é importante para a ação política - e os tempos nos forçam a deixar para trás as intuições e as questões cujo aprofundamento é a alma da pesquisa. A consciência da necessidade de repensar as bases conceituais do trabalho levou ao lançamento, em 2016, de um processo de revisão das estruturas de análise e compreensão que já está produzindo resultados.28

    Essas questões estão por trás do que venho comentando ao longo deste texto e, às vezes, a prática diária desse relacionamento me levou a pensar que a proposta de Hale era mais uma esperança do que uma realidade.

    Pesquisa, assuntos e conhecimento

    Grande parte da teorização em torno de tais práticas de pesquisa baseia-se na ideia de que a quebra das relações de poder implícitas nas práticas acadêmicas levará a uma relação horizontal entre o pesquisador e o sujeito político, e a um "diálogo de conhecimentos" (Santos, 2010) que enriquecerá ambos (ver novamente Hale, 2008: 7; Rappaport, 2015: 345). Quero terminar este texto refletindo sobre essa ideia, que implica uma concepção binária da relação entre o pesquisador e os "sujeitos políticos em luta" (Hale, 2008). No entanto, meu trabalho na Community Press e o que escrevi aqui mostram uma realidade mais complexa nessas relações.

    Para começar, nesse caso, em vez de um "diálogo de conhecimento", para descrever essa relação, deveríamos pelo menos falar de um "tetralogo", levando em conta os sujeitos envolvidos e as tensões entre suas formas de entender o trabalho realizado. Sem entrar em muitos detalhes, pelo menos quatro sujeitos com suas próprias maneiras de entender e agir podem ser encontrados no processo que descrevi.

    Como vimos, em primeiro lugar estariam as próprias comunidades organizadas - especificamente os setores e atores que agem e se mobilizam politicamente - representadas, nesse caso, por líderes e autoridades da área de Q'anjob'al. Em seguida, haveria o coletivo que forma a Prensa Comunitaria, como parte desse sujeito político com uma herança revolucionária e sediado basicamente na capital, que atua como intermediário entre as comunidades e outros sujeitos políticos, ao mesmo tempo em que se comporta como um sujeito em si mesmo. É um sujeito muito diversificado, como pode ser visto em minha relação como acadêmico - o terceiro ator - com o coletivo, que não tem sido livre de tensões e é um exemplo do que acontece quando um acadêmico entra para trabalhar em um coletivo definido pela ação política. E, finalmente, há os advogados como sujeitos que intervêm como "especialistas" em processos criminais e têm sua própria maneira de entender isso e o contexto político em que ocorrem.

    Dentro dessa complexidade, qual é o "sujeito político" (Hale, 2008: 3) com o qual nos relacionamos como pesquisadores sociais? Eu colaboro com "as comunidades" se o fizer como parte do sujeito político revolucionário da capital, ou minha colaboração é com ela, ou seja, com a Prensa Comunitaria? Ou será que todos nós formamos um único sujeito amplo, definido por uma orientação anti-oligárquica e de esquerda e pela defesa do planeta? O que vimos é que as relações entre cada um deles podem ser repletas de tensões. Isso poderia ser complementado pelas maneiras muito diferentes com que o sujeito comunitário mobilizado reagiu ao nosso trabalho: quando nos tornamos parte do sujeito político no norte de Huehuetenango, uma parte deles não nos conhecia, e as relações com eles ficaram tensas a partir daquele momento, enquanto as relações com o outro setor se tornaram mais próximas. Por fim, as relações dos advogados com o coletivo Prensa Comunitaria também foram repletas de tensão, mal-entendidos, negação e ocultação.29

    Nada disso impediu o trabalho conjunto que foi feito, em grande parte porque todos nós compartilhávamos os entendimentos básicos do que estávamos fazendo; mas mencionei isso aqui porque me parece questionar a ideia de "diálogos" entre dois sujeitos perfeitamente delimitados e diferenciados, com conhecimento também delimitado e diferenciado, que está na base de algumas abordagens da "descolonização" da academia. Como eu disse antes, qual é o "sujeito político" com o qual meu trabalho está relacionado? Todos os atores que apareceram fazem parte do mesmo sujeito político, mas cada um deles é, por sua vez, um sujeito diferenciado, com suas próprias formas, que, por sua vez, podem fazer parte, com outro deles, de um sujeito específico.

    Essa tensão-ambiguidade na relação entre os sujeitos deve ser levada em conta. Para entendê-la, considero útil a ideia de "alianças cosmopolíticas", apresentada por Marisol de la Cadena.30 Sem entrar no caráter ontológico, epistêmico ou cultural das diferenças de pensamento (Blaser, 2009), o que me interessa é a ideia de que, para os sujeitos indígenas, os conceitos com os quais lidamos - neste caso, poderiam ser comunidade, território, autoridade - significam o mesmo que para os ocidentais "e algo mais", que é a sua própria maneira de entendê-los a partir de suas ontologias, algo que é proibido para nós, ocidentais, a partir de nossa racionalidade. Mas, conhecendo e respeitando essa diferença, estabelecem-se alianças baseadas na soma do que compartilhamos, no respeito pelo que não entendemos (espero não ter deturpado as ideias de Cadena).

    Aplicando isso ao nosso caso e aos múltiplos relacionamentos entre os múltiplos atores, poderíamos dizer que a ação política conjunta pode ser estabelecida porque há um núcleo comum que compartilhamos entre os atores - talvez não um entre todos, talvez com nuances entre cada um, ou diretamente com manchas de entendimento em cada relacionamento - e, de alguma forma, também respeitamos o que não entendemos. Assim, essa "aliança cosmopolítica múltipla" torna possível agir com base em interesses comuns em favor de interesses particulares, que resultam no bem comum que se busca. No entanto, essa aliança também é rompida ou enfraquecida quando esses entendimentos falham ou os interesses são prejudicados.

    Essa abordagem complica a ideia de "um sujeito" com o qual nós, acadêmicos, colaboramos, o que é por si só diferentes de nós mesmos, colocando em tensão o que une e o que diferencia. Ao mesmo tempo, questiona a ideia de "conhecimentos" estanques que entram em relação uns com os outros dentro de uma determinada estrutura e, muito mais, questiona o caráter "ontológico" desses conhecimentos e, portanto, sua incomensurabilidade. Se as fronteiras entre um e outro são muito mais porosas e os limites são borrados na ação, o mesmo se aplica às suas formas de entender e significar suas ações. Com base em uma ideia construcionista de significados e práticas associadas (Wolf, 1987; Roseberry, 1989), as histórias comuns criaram significados mais ou menos comuns, com base nos próprios significados de cada sujeito e em seu lugar nos relacionamentos. Esses significados comuns são o que possibilita alianças - sejam elas ontológicas ou apenas políticas - que funcionarão na medida em que perderem seu elemento hierárquico, que é o resultado de uma atitude política por parte de todos os envolvidos. É essa atitude política de todas as partes que permite que as barreiras entre os campos de ação sejam superadas e que os elementos constituintes das ciências sociais sejam usados em atividades que, em princípio, não lhes pertencem.

    Fechamento

    Como tentei demonstrar por meio de minha experiência, fazer é um desafio que vale a pena, mas cuja implementação sempre trará dificuldades e tensões como as que descrevi ao lado das conquistas e do progresso, e que exige constante reflexividade. A busca por ciências sociais comprometidas com seu ambiente e coerentes com uma visão de mundo sem hierarquias não deve nos fazer esquecer a advertência de Boaventura de Sousa: "O cientista social não deve diluir a sua identidade na de ativista, mas também não deve construí-la sem uma relação com o ativismo" (Santos, 2003: 36). Essas palavras desafiam a ideia de uma simples transposição de papéis, uma vez que o trabalho como cientista social tem seus próprios objetivos e mandatos, e é a partir deles que a ação faz sentido. Embora isso tenha sido argumentado por outros autores (Hale, 2008; Rappaport, 2015, por exemplo), a prática da pesquisa colaborativa e outras formas semelhantes exigem uma vigilância epistemológica contínua para manter uma atitude crítica sobre o que nos faz estar lá, o que pode servir para manter esse papel.

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