Desigualdade social na América Latina. Explicações estruturais e experiências cotidianas

Recepção: 24 de maio de 2019

Aceitação: 29 de agosto de 2019

Sumário

Como parte do colóquio interdisciplinar proposto pela revista Encartes, e com base no texto de Juan Pablo Pérez Sáinz, este texto busca complementar e ampliar o debate sobre a desigualdade social na América Latina. Com o objetivo de ir além de uma visão estritamente econômica do tema, o autor propõe, por um lado, incorporar dimensões sociais e culturais à análise e, por outro, assumir a desigualdade como uma experiência de classe. Essa é a origem de seu conceito de fragmentação social. Inicialmente, o artigo analisa os dados mais recentes sobre a distribuição de renda primária e secundária na América Latina nos últimos 15 anos. Fica claro que esses indicadores não correspondem necessariamente à experiência das diferentes classes sociais, que estão vivenciando uma crescente fragmentação e distanciamento de suas experiências de vida, o que impõe a necessidade de uma abordagem etnográfica da desigualdade. Essa fragmentação dificilmente pode ser compreendida sem uma análise dos mecanismos e processos sociais de classificação social, que legitimam as hierarquias e as lacunas entre as classes sociais. Para o autor, a disparidade na distribuição de renda e riqueza é fundamental para a gênese da fragmentação social, daí a centralidade que ele atribui ao papel que o Estado pode desempenhar.

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Desigualdade social na América Latina: explicações estruturais e experiências cotidianas

Resumo: Como parte do colóquio interdisciplinar Encartes Com base em um texto seminal de Juan Pablo Pérez Sáinz, o presente estudo busca complementar e ampliar o debate sobre a desigualdade social na América Latina. Buscando ir além de uma perspectiva estritamente econômica, o autor propõe, ao mesmo tempo, a incorporação de dimensões sociais e culturais nas análises, bem como a abordagem da desigualdade como uma experiência baseada em classes que leva à sua noção de fragmentação social. O artigo começa com uma análise dos dados mais recentes sobre a distribuição de renda primária e secundária na América Latina nos últimos quinze anos. Fica claro que esses indicadores não correspondem necessariamente às experiências de diferentes classes sociais, agora sujeitas a níveis crescentes de fragmentação e distanciamento em suas experiências de vida, o que implica a necessidade de uma abordagem etnográfica da desigualdade. Além disso, será difícil entender essa fragmentação sem uma análise dos mecanismos e processos de classificação social que legitimam a hierarquia e as lacunas entre as classes. As disparidades na distribuição de renda e riqueza, escreve o autor, são fundamentais para as origens da fragmentação social, o que leva à centralidade que ele confere ao papel que o Estado pode desempenhar.

Palavras-chave: Desigualdade, América Latina, fragmentação social, classe social, a experiência da desigualdade.


Introdução

Nos últimos quinze anos, a questão da desigualdade tornou-se altamente visível na opinião pública, bem como na agenda de organizações nacionais e internacionais. Maior ainda tem sido a centralidade e a relevância atribuídas a ela na esfera acadêmica, especialmente em estudos sobre questões sociais contemporâneas. A pobreza e a exclusão social, dois temas e conceitos que sucessivamente dominaram essa discussão em momentos anteriores, são hoje ressignificados e reproblematizados em relação à desigualdade. A desigualdade se acentua e permeia múltiplas e diferentes esferas da vida social e subjetiva, reconfigurando os fundamentos da ordem social e as experiências cotidianas dos indivíduos, razão pela qual sua problematização é de particular interesse.

Esse processo não foi espontâneo ou aleatório. Está claro que esse não é um fenômeno novo. Também é óbvio que houve inúmeros estudos sobre desigualdade no passado, principalmente associados à estratificação social. Mas a centralidade contemporânea da desigualdade social se deve fundamentalmente à sua estreita associação com a globalização neoliberal. Sem entrar em detalhes sobre um tópico amplamente discutido, o que é certo é que um conjunto de transformações estruturais (da economia e dos regimes de bem-estar), tecnológicas e culturais que coincidiram a partir do último quarto do século passado levou gradualmente a um aprofundamento das lacunas sociais e econômicas entre os diferentes setores sociais e, especialmente, a uma irritante concentração (e ostentação) de riqueza em uma elite global. Assim, a desigualdade tornou-se uma característica essencial da globalização neoliberal.

É nesse contexto que surge um amplo interesse no assunto: suas raízes históricas, suas causas e efeitos, sua medição e, não menos importante, sua conceituação. As publicações dos últimos anos têm sido numerosas e diversificadas. No caso de nossa região, a literatura também é extremamente rica; destacam-se dois trabalhos que compartilham a mesma perspectiva histórica e tentam fornecer uma interpretação holística da desigualdade na América Latina. Refiro-me ao estudo de Luis Reygadas (2008). Apropriaçãoe para Una historia de la desigualdad en América Latina por Juan Pablo Pérez Sáinz (2016), ambos, além disso, fortemente influenciados pelo trabalho pioneiro de Charles Tilly (2000).

O artigo de Pérez Sáinz, em torno do qual este fórum de discussão está organizado, é precisamente uma derivação da abordagem que pode ser encontrada, desenvolvida com muito mais detalhes, no trabalho mencionado acima. Mais especificamente, esse texto nos oferece uma síntese do que o autor chama de abordagem "crítico-radical" da desigualdade e uma reflexão sobre os fatores de desempoderamento das classes subalternas e suas respostas em um período específico: o da "modernização globalizada", que coincide com o início da globalização neoliberal e até os dias atuais. Tomando o artigo de Pérez Sáinz como referência e ponto de partida, proponho-me a refletir aqui sobre um conjunto de elementos ou áreas cinzentas que, embora resultem de uma seleção relativamente arbitrária, permitem-me mostrar a multidimensionalidade da desigualdade social e, especialmente, a complexidade de sua expressão nas sociedades latino-americanas contemporâneas. Estou interessado em enfatizar não tanto um discurso prescritivo (político e/ou econômico), mas sim as possíveis contribuições da sociologia e da antropologia para a análise das consequências da desigualdade social na experiência cotidiana e, portanto, para a compreensão da sociedade em que vivemos.

Primeiro, vou me referir à distribuição primária e secundária ou, mais especificamente, à distribuição funcional e à redistribuição de renda, uma distinção fundamental para a abordagem crítica radical. Considero importante começar com um problema de medição, mas também de reflexão sobre suas implicações em termos do meu interesse na experiência cotidiana e na sociedade. Em seguida, argumentarei sobre a relevância de se pensar na desigualdade econômica como uma manifestação, determinante, mas uma, da desigualdade social e, a partir daí, sugerirei a hipótese de uma fragmentação social emergente. Em uma terceira seção, estou interessado em introduzir dimensões que foram subestimadas na análise, mas que são de interesse crescente, e que se referem ao cultural, ao social e ao subjetivo, e que, em minha opinião, são fundamentais para a compreensão da desigualdade social. Finalmente, o lugar das conclusões é ocupado por uma breve reflexão final sobre os paradoxos da desigualdade atual e suas implicações analíticas.

Ricos e pobres ou capital e trabalho

O artigo de Pérez Sáinz começa com um questionamento direto e contundente da visão atual predominante da desigualdade, que privilegia a distribuição de renda entre famílias e/ou indivíduos como uma dimensão de análise e medição. De fato, a maioria dos estudos contemporâneos, bem como os índices usados para medi-los, baseia-se na desigualdade de renda entre famílias ou indivíduos.

Com base nesses critérios, a América Latina, embora ainda seja uma região profundamente desigual, experimentou uma diminuição mais ou menos significativa da desigualdade entre o início do novo século e 2015. Com exceção da Costa Rica e de Honduras, os dados da cepal mostram que, entre 2002 e 2013, o Índice de Gini diminuiu em todos os outros países da América Latina (cepal, 2014). Cálculos posteriores mostram que, entre 2012 e 2015, esse indicador estagnou um pouco (com reduções mínimas em alguns países e aumentos em outros), o que significa que, em termos gerais, o declínio na desigualdade de renda que começou no novo século foi mantido.1

Essa tendência coincide temporariamente com o ressurgimento de partidos progressistas (também chamados de partidos populistas na região) com capacidade eleitoral e que obtiveram acesso ao governo em vários casos. Entretanto, a queda na desigualdade não ocorreu somente nesses países, mas também em outros que mantiveram governos explicitamente neoliberais, como a Colômbia ou o México. Não é de surpreender que isso tenha levantado muitas questões.

Uma primeira resposta é questionar as fontes de informação e não tanto o indicador ou a conceituação em si. A questão é que as pesquisas domiciliares geralmente subnotificam ou subdeclaram as rendas dos setores privilegiados, ou até mesmo não conseguem captar as elites nas quais a renda está concentrada. A alternativa tem sido usar dados fiscais para compensar essas deficiências na captação dos setores mais ricos ou de suas rendas nas pesquisas. Não há muitos exercícios desse tipo em nossa região, mas, entre os poucos países em que foram realizados, encontramos estudos no México e no Brasil que representam, para o período de análise, modelos de desenvolvimento precisamente contrastantes: em ambos os casos, verifica-se que a desigualdade é muito mais profunda do que sugerem os dados baseados em pesquisas domiciliares, e até mesmo se questiona se realmente ocorreu alguma diminuição (Esquivel, 2015; Salama, 2015).

Outras interpretações sugerem que o declínio da desigualdade tem a ver com a redução da diferença salarial e, mais especificamente, entre mão de obra qualificada e não qualificada (Lustig, 2003). et al., 2013). Pierre Salama (2015) refere-se a uma espécie de efeito tesoura no mercado de trabalho entre a demanda por trabalhadores mais qualificados e a oferta de empregos menos qualificados. A questão aqui é, como diz o próprio Pérez Sáinz (2013), se a redução da diferença é "ao estilo brasileiro" (os menos qualificados alcançam os mais qualificados) ou "ao estilo mexicano" (uma precarização dos trabalhadores qualificados); obviamente, no último caso, o indicador de desigualdade pode diminuir, mas, ao mesmo tempo, o mundo do trabalho pode sofrer uma piora em suas condições. Em outras palavras, o mesmo indicador pode ter significados diferentes em contextos diferentes.

Tabela 1. Indicadores de distribuição de renda e distribuição funcional na América Latina. Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados da CEPAL (2018), tabelas ia.1.1 e ia.1.2.

Uma questão mais fundamental é que essa (re)distribuição de renda é o resultado de uma distribuição anterior da renda nacional entre os fatores de produção, basicamente entre trabalho e capital (e renda), ou, em outras palavras, entre salários e lucros (Lindenboim, 2008). Em outras palavras, entre salários e lucros (Lindenboim, 2008). Para simplificar: muito do que é distribuído posteriormente depende dessa primeira distribuição e, enquanto ela não mudar, tudo permanecerá mais ou menos igual. A proposta de Pérez Sáinz, alinhada com análises mais estruturais, é concentrar-se nessa esfera. De fato, como destaca Atkinson (2009), após uma longa ausência na ciência econômica dominada pela perspectiva neoclássica, na última década houve um interesse renovado na análise estrutural da distribuição do produto nacional entre capital e trabalho.

Em consonância com esse ressurgimento da abordagem estrutural, os relatórios mais recentes do cepal (2016 e 2018) incluem uma seção sobre a chamada distribuição funcional de renda. A primeira observação importante que emerge desses dados é que, assim como a redistribuição de renda, a distribuição entre capital e trabalho também faz da América Latina uma região altamente desigual. O indicador usado nesse caso é a participação dos salários no Produto Interno Bruto (PIB); de um total de onze países latino-americanos incluídos em uma análise da ONU, sete estão no terço inferior dos países com a menor massa salarial (com menos de 40% do PIB) e um no terço inferior dos países com a menor massa salarial (com menos de 40% do PIB). PIB capturados pelos salários); outros três em uma situação intermediária (entre 40% e 45% do PIB) e apenas a Costa Rica no terço superior (um pouco acima de 50%). Vale a pena observar, como ponto de referência, que a Suíça está no topo da lista nessa série, com uma participação salarial de 59% de PIBseguido pelos Estados Unidos, com um valor de cerca de 55% (dados extraídos de cepal, 2016). É interessante observar que os países com alta desigualdade na distribuição secundária de renda, como os Estados Unidos ou o Reino Unido, ao mesmo tempo têm uma alta participação da parcela salarial na massa salarial total. PIB muito alto no primeiro caso e relativamente alto no segundo (um paradoxo a ser lembrado).

Uma série de dados produzida por cepal exclusivamente para a América Latina nos permite observar o que aconteceu com a evolução da distribuição funcional no mesmo período que estamos considerando, ou seja, desde 2002. Se considerarmos todo o período (2002-2016), o comportamento da participação dos salários na renda média dos trabalhadores na América Latina é muito diferente. PIB não é homogênea: em oito dos quinze países considerados, ela aumenta (especialmente no Cone Sul); ou seja, em metade deles, a desigualdade na distribuição funcional diminui e, na outra metade, aumenta.

Ambas as tendências em nível geral mostram uma infinidade de nuances que dificultam tirar conclusões apenas com base nesses indicadores. Especialmente se considerarmos diferentes intervalos de tempo ou se pararmos para analisar o que aconteceu em cada país. No último caso, por exemplo, poderíamos encontrar pelo menos um país que representa cada uma das quatro combinações possíveis nas tendências dessas duas medidas, o que torna impossível fazer afirmações conclusivas. Mas, além disso, os mesmos indicadores de cepal em seus relatórios de 2016 e 2018 apresentam variações significativas para o mesmo país e ano. Com todas essas ressalvas, embora a distribuição funcional seja fundamental e primária, ela não parece determinar totalmente o comportamento da distribuição de renda entre as famílias e/ou indivíduos, embora também valha a pena observar que, em alguns países do Cone Sul que implementaram políticas ativas do mercado de trabalho (especialmente aumentando o salário mínimo e intensificando a formalização do emprego), houve uma diminuição tanto da desigualdade na distribuição funcional quanto da redistribuição de renda.

De medições a experiências

Não há dúvida de que precisamos considerar ambas as estimativas e que é importante vincular a distribuição de renda no nível macroeconômico e no nível familiar (Atkinson, 2009). Mas, mesmo assim, uma ou outra ou ambas as medidas estão longe de ser um reflexo automático da experiência da desigualdade. Em um artigo recente, Gabriel Kessler argumentou que "a conjunção e a tradução de indicadores e tendências divergentes em experiências qualitativas é uma tarefa pendente quando se trata de avaliar em nossas disciplinas o que aconteceu com a desigualdade na região" (2019: 89). Sem dúvida, esse é um grande desafio do qual compartilho plenamente. Em minha opinião, isso não significa que uma experiência possa ter um equivalente numérico, mas, acima de tudo, a disposição de ressignificar a desigualdade como uma experiência (coletiva e subjetiva).

O problema é que as medições da desigualdade e as conceitualizações que as sustentam nem sempre coincidem com a forma como as pessoas a vivenciam no dia a dia ou com os processos sociais que se desenrolam no local, em termos etnográficos. Ao pedir uma análise figurativa nas ciências sociais, Elias e Scotson (2016) apontaram que a significância estatística não coincide necessariamente com a significância sociológica, o que, segundo os próprios autores, é atribuível à diferença entre uma análise de dados isolada e uma que privilegia sua inserção em uma configuração social mais ampla.

A medição da distribuição funcional entre os fatores de produção tem seus próprios problemas. O primeiro deles, e talvez o mais óbvio no caso da América Latina, é que a massa salarial não representa o total do mundo do trabalho; de fato, em nossa região, a porcentagem de atividades informais ou não salariais é muito alta, de modo que a parcela salarial subestima a parcela do trabalho. Mas há ainda duas outras questões mais significativas em termos de nosso interesse na experiência da desigualdade.

Uma delas é que a distribuição entre os fatores não coincide necessariamente com a distribuição entre as pessoas: a mesma pessoa pode receber renda por meio de um salário, de um negócio do qual é sócia ou do aluguel de propriedades nas quais investiu. A outra é que a distribuição funcional não nos permite capturar as desigualdades dentro de cada categoria; por exemplo, as desigualdades salariais, que em nossa região, vale lembrar, costumam ser muito altas e, em alguns casos, extremas; por exemplo, entre um funcionário de uma empresa de limpeza subcontratada por uma transnacional ou um escritório do governo e os gerentes ou altos funcionários que trabalham neles.

Se estivermos interessados em examinar a desigualdade entre as elites mais ricas, digamos, o 1% mais rico e o restante da população, então essas sutilezas podem não ser relevantes. Certamente, nesse 1% (que concentra cerca de metade da riqueza total nacional e globalmente) encontraremos a melhor personificação do capital. Mas, na América Latina, a desigualdade cotidiana não é exclusivamente em relação a esse 1% (essa elite está extremamente distante do resto). Ela também ocorre entre os 15% ou 20% que se seguem e os 80% restantes, com alguns saltos mais e outros menos profundos nas lacunas.2 Na pesquisa sobre o México, na qual, entre outras coisas, examinamos as visões recíprocas de pobreza e riqueza, os setores populares, quando perguntados sobre as classes privilegiadas, deram a entender que não estavam pensando em Slim ao dar suas opiniões, mas nas condições de vida de profissionais bem-sucedidos, executivos de empresas e bancos, políticos ou até mesmo acadêmicos bem posicionados (Saraví, 2015).

A desigualdade social na América Latina tem uma dimensão econômica determinante. O principal aspecto dessa dimensão, além dos altos e baixos e das combinações conjunturais de uma ou ambas as medidas, é sua persistência e profundidade. Mas, além das brechas econômicas, de renda e de riqueza, elas também se traduzem e se reproduzem em muitas outras áreas da vida social mais mundana, por assim dizer, pela qual passa 99% da população. Nesse contexto, se há uma característica que define ou marca a experiência cotidiana da desigualdade social, acredito que seja uma fragmentação social crescente e, em alguns casos, consolidada. Essa intuição ou hipótese não é um fato isolado. Pouco antes de concluir este texto, o prestigioso jornal britânico The Guardian publicou uma nota intitulada "Tackling Inequality means addressing divisions that go way beyond income" (Combater a desigualdade significa abordar divisões que vão muito além da renda), que começou perguntando por que as pessoas estão convencidas de que a desigualdade está aumentando, enquanto as estatísticas parecem sugerir o contrário.3 É nesse campo que nós, das ciências sociais, temos um grande potencial de contribuições a fazer.

No nível da experiência, a desigualdade social tornou-se cada vez mais multidimensional e coletiva. Não estou me referindo apenas ao fato de que há mais de uma variável ou eixo de desigualdade, mas, mais importante, ao fato de que na experiência da desigualdade essas diferentes dimensões tendem a convergir e se sobrepor (nas mesmas classes e espaços). Estamos diante de profundas desigualdades nas condições econômicas de vida dos diferentes setores sociais, mas também e ao mesmo tempo de processos marcantes de segregação residencial e espacial nas cidades, da segmentação do sistema educacional em circuitos escolares desiguais, da universalização estratificada dos sistemas de saúde com benefícios e níveis amplamente diferenciados, de múltiplas fraturas nos estilos e espaços de consumo e entretenimento e até mesmo de padrões sociodemográficos, doenças evitáveis e expectativas de vida que diferem substancialmente entre os setores. As classes se tornam mais heterogêneas em sua composição, mas mais homogêneas e distantes em suas experiências cotidianas. Esses são precisamente os espaços que nos permitem compreender a classe como experiência, uma conceituação de classe como experiência. ex post A classe que pode ser mais rica em termos analíticos e mais próxima da realidade do capitalismo atual.

A desigualdade de renda não implica necessariamente fragmentação; ela ocorre quando diferentes espaços de desigualdade na cidade (escola, saúde, consumo, expectativa de vida, para dar apenas alguns exemplos) coincidem e se sobrepõem. A fragmentação social se expressa na coexistência de espaços de inclusão desigual que se excluem mutuamente (Saraví, 2015). Cada um desses espaços representa microcosmos social, cultural e economicamente homogêneos, nos quais os indivíduos são socializados e suas subjetividades são construídas desde a primeira infância. As experiências sociais compartilhadas e entre classes são reduzidas ao mínimo e os respectivos repertórios socioculturais são distanciados a ponto de se tornarem incomensuráveis em alguns casos. Esse é um processo que, além das flutuações na medição da distribuição funcional ou da redistribuição de renda, estamos observando nas sociedades latino-americanas desde o início da globalização neoliberal, sem mudanças substanciais e, sim, com uma clara acentuação.

Essa expressão experimental da desigualdade, mas que representa um salto qualitativo em relação à sua conceituação clássica (razão pela qual prefiro chamá-la de fragmentação), exige, por um lado, um repensar das dimensões analíticas e, por outro, uma reavaliação das políticas que permitiriam revertê-la. A diminuição do índice de Gini ou o aumento da participação dos salários na renda familiar é um fenômeno que pode ser visto como um fenômeno de longo prazo. pbi Isso resultou em uma redução da segmentação educacional, da segregação residencial, da desigualdade experiencial nos termos de Therborn (2015), da fragmentação dos serviços ou da segurança do cidadão? Para responder a essa pergunta, talvez seja necessário analisar cada caso e, em particular, prestar atenção ao papel desempenhado pelo Estado. Alguns autores consideram que a política fiscal pode representar um fator fundamental (Barry, 2002), outros são céticos quanto ao seu alcance (Lindenboim, 2008), mas, além da disputa, vale a pena observar que, se há um elemento comum na América Latina, mesmo nesses anos de prosperidade, é que em nenhum país da região foi realizada uma reforma tributária substancial e verdadeiramente progressiva.4 Em poucas palavras, isso tem um efeito duplo em termos de equidade, pois reduz a capacidade de mercado das elites (um aspecto que geralmente é subestimado) e fornece recursos para uma cidadania social mais universal. Talvez a raiz dessa resistência exija, como eu disse anteriormente, que observemos outras dimensões analíticas.

Dimensões sociais e culturais da desigualdade

Ao repensar as dimensões analíticas, quero dizer complementar ou confrontar a perspectiva econômica, prestando atenção às dimensões socioculturais presentes na construção e reprodução da desigualdade. O trabalho de Charles Tilly (2000) foi particularmente influente na identificação de dois mecanismos fundamentais da desigualdade categórica: exploração e acumulação de oportunidades. De fato, há um amplo consenso em relação à centralidade desses dois mecanismos, cuja sistematização é retomada em muitos outros estudos posteriores, inclusive o do próprio Pérez Sáinz.

Embora essa seja uma contribuição fundamental que merece atenção, a desigualdade categórica é sustentada por dois processos que precedem esses mecanismos: a alocação de pessoas em diferentes categorias sociais e a institucionalização de práticas que alocam recursos de forma desigual para essas categorias. Como Douglas Massey (2007) aponta, ao longo do tempo, esses dois processos têm sido o substrato que sustenta o acesso diferenciado das pessoas a recursos materiais, simbólicos e emocionais.

Essa reorientação das contribuições de Tilly nos permite pensar em um conjunto de dimensões analíticas socioculturais que foram pouco exploradas, mas que são importantes para entender a experiência cotidiana da desigualdade além de sua dimensão econômica: a construção e a interação de categorias. Em termos mais simples: como as categorias de desigualdade são construídas, como atribuímos diferentes pessoas e grupos uns aos outros, que atributos e avaliações atribuímos a eles, como são expressos em hierarquias sociais e relações de poder? Os processos de classificação e construção de fronteiras simbólicas, de hierarquias e avaliações sociais, interações diferenciadas ou a hegemonia de um discurso neoliberal que se traduz em práticas e padrões de pensamento são algumas das muitas outras dimensões que nos permitem uma abordagem mais direta da experiência vivida da desigualdade. Muitas dessas dimensões operam de forma rotineira e despercebida na produção e reprodução de desigualdades categóricas, tornando-as próprias mesmo naqueles mais afetados pelas disparidades estruturais (Lamont et al., 2014).

Pesquisas recentes exploram as raízes cognitivas e os usos das categorias; isso não significa que elas sejam esquemas neutros de representação. A construção (social) dessas categorias está imbuída de cargas emocionais e avaliações que formam a base de preconceitos e hierarquias sociais. Os diferentes espaços em que as sociedades latino-americanas estão fragmentadas seriam insustentáveis sem limites simbólicos que estabelecem fronteiras entre grupos de pessoas, coisas e lugares, e que constituem a base para a estigmatização e a desqualificação de alguns e a valorização e o prestígio de outros (Bayón, 2016). A base da desigualdade não são os capitais em si, mas sua valorização (Jodhka et al., 2018). No sistema educacional, nos espaços públicos, nas áreas residenciais ou nos centros de consumo, a desigualdade na alocação de recursos materiais e simbólicos se baseia nesse poder de classificação social que estabelece hierarquias e distâncias sociais que transcendem e coincidem com a renda (Camus, 2019; Bayón e Saraví, 2019b; Márquez, 2003, Carman, 2001). et al., 2013).

Essas categorias, socialmente construídas e depois constituídas como instrumentos cognitivos dos indivíduos, se traduzem em julgamentos e emoções como medo e desconfiança, desprezo, reconhecimento, supervalorização e até mesmo a estetização de um ou de outro. Mas também, e em parte como consequência desses sentimentos, em um conjunto de práticas que marcam os padrões de interação e sociabilidade cotidianas: de evitação ou encontro, de rejeição ou empatia, de desprezo ou admiração, para citar alguns exemplos. A desigualdade é, portanto, produzida e reproduzida, explícita e inadvertidamente, pelos próprios indivíduos por meio de suas relações sociais na vida cotidiana. Por meio de práticas espontâneas de "associação diferencial" (Bottero, 2007), as pessoas com quem estamos e nos sentimos mais próximos tendem a ser semelhantes também em muitas outras dimensões da desigualdade. Vivemos em colônias, frequentamos escolas e consumimos nos mercados em que nos sentimos mais confortáveis e à vontade, e evitamos aqueles em que nos sentimos deslocados ou dos quais somos excluídos (Bayón e Saraví, 2018). Essas não são preferências inatas ou simples escolhas de estilo de vida, mas o resultado de um processo de decantação (que precisamos aprofundar) pelo qual a desigualdade dá origem a um distanciamento sociocultural que remodela os padrões de convivência e sociabilidade (Álvarez Rivadulla, 2019; Bayón e Saraví, 2019a; Segura, 2019).

A desigualdade que nos preocupa corresponde ao período da globalização neoliberal. Nesse sentido, é necessário considerar uma característica do neoliberalismo que permeia e molda a desigualdade contemporânea. Não se trata apenas do neoliberalismo como uma ordem econômica (cujos aspectos são abordados no texto de Pérez Sáinz), mas também como um processo que gera uma série de discursos, linguagens e disposições com capacidade disciplinar. O que, seguindo Leal (2016), poderíamos definir como um senso comum neoliberal que, inclusive, transcende projetos políticos de uma ou outra orientação, e cujos traços distintivos são a conceituação dos indivíduos como sujeitos autônomos, responsáveis por si mesmos e empreendedores (uma exaltação da individualização). Sob esse discurso, "a desigualdade é despolitizada e a classe parece ser reduzida a uma questão de caráter e esforço" (Bayón, 2019). A pobreza de alguns e a riqueza de outros são legitimadas como resultado de falhas e virtudes pessoais (inclusive morais), dissociando a desigualdade de suas raízes estruturais e fundamentos materiais. Esse senso comum permeia a sociedade como um todo - não necessariamente toda, mas claramente em toda a estratificação social - e condiciona nossa experiência social e subjetiva cotidiana da desigualdade. As formas assumidas hoje pela legitimação e tolerância das desigualdades, o senso do que é justo ou injusto, os sentimentos de frustração e ressentimento, os julgamentos morais sobre privação e privilégio ou o reconhecimento social atribuído a diferentes atores são ininteligíveis sem a hegemonia de um discurso neoliberal.

Talvez em todas essas dimensões (e em algumas outras, como o acúmulo de vantagens e desvantagens) encontremos a explicação para alguns dos paradoxos da desigualdade social contemporânea na América Latina. Suas bases materiais são inquestionáveis, mas também é inquestionável a participação dessas dimensões sociais e culturais em sua produção e reprodução, bem como na experiência social e subjetiva cotidiana da desigualdade.

Conclusão

O texto de Juan Pablo Pérez Sáinz começa com um questionamento do atual imaginário hegemônico da desigualdade, baseado na renda, e nos oferece um novo olhar que se desloca para a esfera da distribuição fatorial e para a dinâmica do desempoderamento. Com esta reflexão, eu queria levar o desafio do autor um passo adiante e oferecer algumas chaves e novas abordagens para entender a experiência da desigualdade.

As desigualdades sociais vão muito além de uma questão de renda. Elas são expressas diariamente em divisões profundas na qualidade das escolas e dos centros de saúde, em diferenças na expectativa de vida entre setores da mesma sociedade, na formação de enclaves de pobreza e áreas residenciais exclusivas, bem como no surgimento de novos padrões de sociabilidade e reconhecimento social, entre outros. Esses processos de fragmentação social são difíceis de mensurar no momento, e os indicadores atuais de desigualdade econômica, considerados isoladamente, não conseguem dar conta deles.

Há dimensões sociais e culturais que merecem ser levadas em conta e exploradas se quisermos abordar a experiência da desigualdade e sua transformação. Essas dimensões também são muito mais persistentes e resistentes do que as mudanças na renda (o que pode explicar a resistência, por exemplo, a reformas tributárias progressivas). Isso não significa que elas sejam inamovíveis, mas que exigem nossa atenção. Em muitos casos, elas são o substrato da naturalização da desigualdade. A repolitização da desigualdade exige que as ciências sociais a tornem evidente para possibilitar novas políticas de solidariedade e equidade. Se a desigualdade é multidimensional, as políticas para combatê-la também devem ser multidimensionais; nesse sentido, ao violar momentaneamente o compromisso inicial de evitar prescrições, o Estado tem um papel fundamental a desempenhar.

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