Recebido em: 22 de outubro de 2018
Aceitação: 29 de agosto de 2019
A questão social na América Latina foi despolitizada desde a década de 1980, com base na concepção de privação imposta pelas abordagens predominantes da pobreza. Embora posteriormente, devido à importância adquirida pelo problema da desigualdade, a questão do poder não pudesse ser ignorada, foi imposta uma visão que limitou a compreensão do conflito. Neste texto, e com base em uma proposta alternativa para abordar as desigualdades, em que o poder e o conflito ganham destaque, o objetivo é repolitizar o social. Nesse sentido, dois conjuntos de questões são abordados. A primeira tem a ver com a dinâmica de profundo desempoderamento gerada pelo novo modelo de acumulação globalizada, que sustenta a ordem (neo)liberal, e que levou uma parte não negligenciável dos setores subalternos a ser encurralada em uma situação de marginalização social. A segunda é que, apesar disso, há respostas desses setores para resistir a esse desempoderamento e até mesmo revertê-lo parcialmente. Entre essas respostas, foram destacadas a violência, a migração, a religiosidade e a ação coletiva. Conclui-se com reflexões sobre a relevância de pensar sobre as desigualdades a partir dessa perspectiva, a fim de ver como o social, com a ordem (neo)liberal, foi repolitizado de forma ampla e profunda.
Palavras-chave: desigualdade, migração, movimentos sociais, neoliberalismo, religiosidade, violência
A desigualdade e a repolitização do social na América Latina
As questões sociais na América Latina foram despolitizadas desde a década de 1980, resultado de uma concepção de escassez que ordenou o foco predominante na pobreza. Embora as questões de poder não pudessem ser evitadas posteriormente, devido à importância que a problemática da desigualdade assumiu, foi imposta uma perspectiva que prejudica a compreensão do conflito. O presente texto - baseado em uma proposta alternativa de abordagem da desigualdade, na qual o poder e o conflito ocupam posições centrais - busca repolitizar o social. Dois conjuntos de problemas devem ser considerados. O primeiro diz respeito à dinâmica de profundo desempoderamento que surgiu de um modelo de acumulação globalizada, um pilar da ordem (neo)liberal. Isso fez com que um número não insignificante de setores secundários fosse empurrado para a marginalização social. Apesar disso, o segundo conjunto de problemas diz respeito às respostas desses setores em resistência ao desempoderamento, bem como à reversão parcial do desempoderamento, principalmente na forma de violência, migração, religiosidade e outras ações coletivas. O ensaio termina com reflexões sobre a pertinência de considerar a desigualdade a partir dessa perspectiva como um meio de ver como o social - em relação à ordem (neo)liberal - foi ampla e profundamente repolitizado.
Palavras-chave: Desigualdade, neoliberalismo, violência, migração, religiosidade e movimentos sociais.
Ldécada de 1980 trouxe profundas transformações para a América Latina. A esfera social não foi exceção, mas uma de suas mutações mais drásticas e menos notadas foi sua ressignificação pela ordem (neo)liberal.1 A privação foi abordada a partir do enfoque de pobreza introduzido pelo Banco Mundial, com base na teoria das necessidades básicas, e que o próprio Banco Mundial cepal Os últimos não foram entendidos em sua oposição à opulência, mas sim em termos de padrões estabelecidos por especialistas. Eles não eram entendidos em sua oposição à opulência, mas em relação aos padrões estabelecidos por especialistas. "Pobres" e "ricos" não foram definidos em termos de antagonismo. Portanto, a discussão sobre "pobreza" na América Latina teve uma ênfase metodológica, com propostas muito elaboradas, mas pouco debate substantivo sobre seus fundamentos teóricos.2 A principal consequência foi que, na compreensão da privação, toda referência ao poder e ao conflito foi eliminada. Dessa forma, a questão social na região foi despolitizada por várias décadas (Pérez Sáinz, 2012).3
A consolidação da ordem (neo)liberal com um novo modelo de acumulação incorporado ao processo de globalização e a generalização dos regimes de democracia eleitoral significaram que os déficits sociais começaram a ser politizados novamente.4 O problema da desigualdade surgiu e as organizações internacionais foram rápidas em se posicionar sobre a questão: o Banco Interamericano de Desenvolvimento no final do século passado (bid1999), o Banco Mundial alguns anos depois (De Ferranti et al2004) e o cepal (2010) no final da primeira década deste século.5 Isso deu origem a um imaginário social sobre a desigualdade que goza de hegemonia e estruturou o senso comum sobre essa questão. A visão predominante se concentra na desigualdade de renda entre as pessoas, normalmente medida pelo coeficiente de Gini com base em informações coletadas em pesquisas domiciliares. Mas essa é uma visão limitada que não consegue captar essa profundidade e entender a persistência desse fenômeno, por vários motivos.
A primeira é que analisar a família é concentrar-se na redistribuição, mas houve uma distribuição anterior que é ignorada porque é considerada como certa e não é problematizada. Em segundo lugar, a renda é um resultado e, se for limitada à renda, as causas das desigualdades não serão suficientemente compreendidas. Terceiro, o foco nos domicílios, entendidos como um mero agregado de pessoas, implica privilegiar os indivíduos como sujeitos das desigualdades, e essa é uma visão parcial porque ignora a incidência de outros sujeitos sociais. E, por fim, a fonte de informação utilizada, as pesquisas domiciliares, não capta aqueles que realmente monopolizam a riqueza, as elites, o que significa que não há uma compreensão real do poder que fundamenta as desigualdades.6 Em outras palavras, a repolitização do social, com base nessa perspectiva sobre as desigualdades, é limitada e não questiona - de forma substantiva - a ordem vigente. Portanto, é necessário outro tipo de perspectiva baseada em premissas diferentes.
A primeira é que a questão do poder deve ser resgatada para que se possa entender as desigualdades como processos de desempoderamento. Isso é essencial para que se alcance uma sólida repolitização do social e, nesse sentido, seguimos a proposta de Lukes (2004), que articula intrinsecamente poder com conflito.7 Em segundo lugar, o foco deve ser deslocado da esfera da redistribuição para a da distribuição. Isso significa concentrar-se nos mercados básicos: trabalho, capital e terra.8 Em terceiro lugar, como corolário do exposto acima, na medida em que as condições para a geração e apropriação do excedente econômico são configuradas nesses mercados, é por meio da análise desse problema que os processos que dão origem às desigualdades podem ser compreendidos. E, em quarto lugar, é necessário ter uma compreensão plural dos sujeitos, pois, na luta pelo excedente, as classes sociais como sujeitos sociais não podem ser ignoradas. Também é necessário incorporar o problema das diferenças e explicar quando elas se tornam desigualdades. Isso significa que, ao lado das classes sociais e dos indivíduos, é necessário levar em conta os pares categóricos que se referem a oposições de natureza diferente (gênero, etnia, território etc.). Consequentemente, essa nova visão se desloca para a distribuição, prioriza a questão do excedente e pluraliza os sujeitos que entram na luta por esse excedente por meio de dinâmicas de desempoderamento (Pérez Sáinz, 2014, 2016).
Com base nessas premissas, acredita-se que uma perspectiva mais sólida de repolitização do social possa ser oferecida. Para demonstrar isso, este texto aborda duas questões em duas seções.9 A primeira tem a ver com a dinâmica de profundo desempoderamento gerada pelo novo modelo de acumulação globalizada, que sustenta a ordem (neo)liberal, e que levou uma parte não negligenciável dos setores subalternos a uma situação de marginalização social. A segunda é que, apesar disso, há respostas desses setores para resistir a esse desempoderamento e até mesmo alcançar um certo grau de empoderamento. Conclui-se com reflexões sobre a relevância de pensar sobre as desigualdades a partir dessa perspectiva, a fim de ver como o social, com a ordem (neo)liberal, foi repolitizado de forma ampla e profunda.
Com base nessa abordagem alternativa, foram propostas quatro chaves históricas para entender esse tipo de desigualdade na América Latina: o mercado de trabalho tendeu a gerar trabalho em vez de emprego, mostrando assimetrias a favor do capital; os pequenos proprietários foram sistematicamente excluídos das oportunidades de acumulação que foram monopolizadas pelas elites; os processos de constituição da cidadania, especialmente da cidadania social, foram frágeis e resultaram em dinâmicas de individualização com apoios fracos; e as diferenças tenderam a ser processadas em termos de inferiorização ou assimilação imposta (Pérez Sáinz, 2014, 2016).
Concentrando-se na atual ordem (neo)liberal que prevalece na região, é possível identificar, de forma sucinta, a dinâmica de extrema destituição de poder com relação a cada uma dessas chaves.
Em termos de mercado de trabalho, o problema central é o da precariedade do mundo salarial. Esse é um fenômeno cuja importância tem sido destacada nos últimos tempos (Lindenboim e Pérez, 2004; Arellano et al2009; Castillo Fernandez, 2009; Mora Salas, 2010; Pacheco et al. 2012; Guadarrama et al., 2012). Suas dimensões são variadas e complexas.
A primeira tem a ver com as estratégias empresariais que, diante da liberalização e da concorrência global, não podiam mais repassar os custos salariais aos consumidores, como acontecia na estrutura protecionista da industrialização por substituição de importações (Murillo, 2001). Isso tornou necessário redefinir drasticamente a relação capital/trabalho para desempoderar os assalariados. Duas estratégias foram seguidas e estão intimamente ligadas: a terceirização de tarefas e funções que eram tradicionalmente realizadas internamente e sua posterior subcontratação como atividades externas. A primeira delas gerou uma fragmentação dos trabalhadores entre um grupo central que normalmente permanece na empresa original e goza de certos direitos e uma periferia sem direitos e, portanto, profundamente destituída de poder (Iranzo e Leite, 2006). Mais importante ainda, esse desempoderamento é sustentado pela segunda estratégia, pois o nexo de subcontratação perde seu caráter trabalhista e se torna uma relação entre empresas. Dessa forma, ocorre o fenômeno da delabourização, no qual o direito comercial substitui o direito do trabalho, misturando totalmente a relação entre capital e trabalho (Celis e Valencia Olivero, 2011). Essa é a expressão mais inequívoca do desempoderamento dos trabalhadores nessa dimensão da precariedade.
Uma segunda dimensão tem a ver com a desregulamentação do trabalho. Independentemente do maior ou menor grau de desregulamentação que caracterizou cada sociedade, o que é significativo é que as normas trabalhistas tendem a não ser aplicadas. de fato. Assim, como aponta Bensusán (2009), embora a América Latina seja uma região com alto nível de ratificação de convenções internacionais do trabalho, as que se referem ao pleno exercício da liberdade de associação e negociação coletiva, fundamentais para a aplicação de outros direitos trabalhistas, não são garantidas na maioria dos países.
Em terceiro lugar, há a crise da ação coletiva dos trabalhadores e, em particular, do movimento sindical. O declínio na taxa de sindicalização - em nível regional - de 22,9% antes da crise da década de 1980 para 10,7% no início deste século mostra esse profundo enfraquecimento (Roberts, 2012: tabela 1). Mas seu efeito mais prejudicial é que os trabalhadores, seja por meio de sindicatos de empresas subordinadas ou diretamente, precisam negociar suas condições de trabalho individualmente. A assimetria da relação capital/trabalho tende a ser maximizada nesse tipo de negociação, em detrimento dos assalariados.
Mas, com relação ao mercado de trabalho, outra dinâmica desempoderadora para os trabalhadores deve ser apontada: o desemprego. Ele não tem tanto a função de pressionar os salários para baixo devido a um excesso de oferta de mão de obra, mas representa uma ameaça de substituição de trabalhadores, o que implica disciplinar os ameaçados. Dessa forma, ter um emprego acaba conferindo a ele um status privilegiado que deve ser defendido a qualquer custo e que gera um profundo sentimento de medo de perdê-lo, e assim a assimetria que o sustenta é aceita (Correa Montoya, 2009).
Com relação à segunda chave histórica, a da exclusão dos pequenos proprietários de terras das oportunidades de acumulação, dois fenômenos devem ser destacados em termos de desempoderamento dos setores subalternos: a ofensiva global sobre a terra e os territórios e a configuração, dentro do novo modelo de acumulação, de um polo de exclusão.
A modernização globalizada está testemunhando uma ofensiva pelo controle da terra por grandes empresas que lembra a "ofensiva liberal" do período oligárquico no final do século XX. xixcontra a terra corporativa, especialmente a terra comunitária. O primeiro passo foi a promoção dos mercados de terras, que têm sido um dos componentes centrais da política agrária (neo)liberal, com o objetivo de garantir a propriedade privada desse meio de produção. O resultado dessa mercantilização é que a terra perdeu seu caráter de meio de subsistência, que fornece alimentos básicos, e se tornou um meio de gerar divisas (Teubal e Rodríguez, 2002). Mas provavelmente a grande ofensiva global ocorreu em termos de controle de territórios pelo chamado "neoextrativismo".10 Esse fenômeno expressa uma profunda assimetria entre o capital globalizado e a comunidade local, na qual o primeiro tende a desapropriar a segunda de parte de seu território. Essa assimetria também pode assumir uma dimensão simbólica, expressa no desprezo do discurso dominante pelo conhecimento ancestral sobre a natureza.
O segundo fenômeno nesse campo de desigualdades excedentes refere-se à configuração de um polo de exclusão dentro do modelo de acumulação induzido pela globalização. Nesse polo está o excedente estrutural de força de trabalho gerado no período de modernização nacional, mas que foi submetido a transformações. Uma delas tem a ver com as atividades urbanas conhecidas como informais no período anterior e com a produção camponesa, que fornecia grãos básicos para a população urbana, as quais, no atual contexto da globalização, perderam sua antiga funcionalidade (Rubio, 2003). Dessa forma, eles se tornaram não funcionais e, portanto, dispensáveis. Em outras palavras, eles se tornaram uma massa marginal, no sentido clássico do termo (Pérez Sáinz, 2016).11
Quanto à terceira chave histórica, que se refere à natureza frágil dos processos de individualização devido à fragilidade dos suportes e - especificamente - da cidadania social, a ordem (neo)liberal levou a transformações significativas nessa cidadania, que historicamente estava ligada ao emprego formal. Seu núcleo básico, a educação e a seguridade social (pensões e saúde), foi mercantilizado, o que resultou na estratificação de seu acesso, dando origem a processos diferenciados de individualização.12 Assim, os setores subalternos, com níveis de cobertura mais baixos e, sobretudo, de menor qualidade, contam com os apoios mais frágeis. Uma segunda mutação, que afeta diretamente esses mesmos setores, foi o retorno à divisão entre trabalho e cidadania e a redefinição desta última em termos de "pobreza". Mas, conforme observado na introdução, essa é uma compreensão não relacional da privação que evita qualquer referência ao poder e ao conflito e criou um sujeito social imaginário: "o pobre".
No entanto, pode-se argumentar que o principal processo de individualização na ordem (neo)liberal, que geraria apoios sólidos, seria o consumismo. Nesse sentido, tem sido apontado que a inclusão social na modernização globalizada não passa pelo mundo do trabalho, assalariado ou não, mas pelo acesso a determinados bens e serviços. Em outras palavras, esse acesso constituiria um novo nível de equalização, demonstrando o poder democratizante do consumismo. Mas essa suposta democratização pode ser questionada por vários ângulos. Primeiro, a existência de um consumo mínimo compartilhado por toda a sociedade contradiz o acesso estratificado aos serviços sociais que representam bens públicos básicos. Segundo, embora a globalização tenha possibilitado o acesso a determinados bens que costumavam diferenciar socialmente, minimizando assim o ressentimento, esse argumento é relativizado com as novas gerações que não têm essas referências históricas. Por outro lado, os novos bens "necessários", no sentido de smithiano As diferenças sociais persistem e, portanto, a fonte de ressentimento social não desaparece. Por fim, embora no início deste século tenha sido difícil refutar a tese do deslocamento do centro da ação social da produção para o consumo, a crise do capitalismo - iniciada em 2007 - mostrou os limites do consumo baseado em uma capacidade de endividamento que se pensava ser ilimitada. A produção e o trabalho, como componentes centrais da economia real, estão de volta (Pérez Sáinz, 2016).
Por fim, há a chave histórica para o processamento das diferenças. Curiosamente, foi durante a modernização globalizada que ocorreram os dois processos mais importantes de reconhecimento na história da região: o dos povos indígenas (e, em menor grau, dos afrodescendentes) e o das mulheres. Entretanto, ambos são a culminação de processos que começaram antes. Assim, no caso dos povos indígenas, é necessário fazer referência a uma "longa marcha" que começou no século XX. xix, e, no caso das mulheres, à chamada "segunda onda feminista", iniciada na década de 1970. A pergunta inevitável é a seguinte: as conquistas obtidas são suficientes para postular que, na América Latina, as diferenças não são mais processadas por meio da inferiorização? Nossa resposta é negativa por várias razões.
Em primeiro lugar, por serem resultado de lutas desenvolvidas pelos próprios grupos subalternos, as elites não assumem plenamente esses reconhecimentos; de fato, pode haver reformulações para redefinir a inferiorização, como seria o caso do "racismo cultural" (Hale, 2002; González Ponciano, 2004). Em outras palavras, esses processos de reconhecimento não são o resultado da dinâmica "gentil" da ordem (neo)liberal, embora ela tenha procurado se apropriar deles por meio de sua proposta de multiculturalismo (Bastos e Camus, 2004; Hooker, 2005). Em segundo lugar, muitas vezes há um hiato entre o reconhecimento nos textos jurídicos e o não reconhecimento (ou seja, o não reconhecimento). de de fato. Em terceiro lugar, as categorias dos diferentes pares categóricos, quando tendem a se igualar, especialmente no mercado de trabalho, tendem a fazê-lo "para baixo". Esse foi o caso da redução das diferenças salariais em termos de etnia e, sobretudo, em termos de gênero (Escobar Latapí, 1999; Gálvez, 2001; Figueiredo Santos, 2005; Barbary e Estacio Moreno, 2008). Em quarto lugar, o reconhecimento pode levar à "auto-segregação" da categoria subordinada, gerando novas desigualdades, como pode ser visto em relação a certos espaços étnicos que estão fora dos limites para os não indígenas. Por fim, essas conquistas de reconhecimento são desvalorizadas porque a globalização privilegia o consumismo em detrimento da cidadania (Pérez Sáinz, 2016).
De fato, as manifestações de desigualdades extremas relatadas nos mercados básicos mostram acoplamentos entre a dinâmica de classe e os pares categóricos. Assim, a precariedade das relações assalariadas não é alheia à crescente feminização dos mercados de trabalho na região. Embora as mulheres continuem a sofrer problemas de segregação primária, pois suas taxas de atividade ainda são inferiores às dos homens, elas são afetadas pela segregação secundária, pois constituem grande parte da força de trabalho na periferia gerada pelas estratégias de terceirização das empresas e estão localizadas nos níveis mais baixos das cadeias de subcontratação (Iranzo e Leite, 2006; De la O e Guadarrama, 2006). Em outras palavras, a precarização e a feminização do mundo do trabalho são duas faces da mesma moeda (Pérez Sáinz, 2016). E quando conseguem superar essa segregação, elas se deparam com a discriminação, especialmente a discriminação salarial.
Também vale a pena observar o acoplamento do campo de oportunidades de acumulação com o par territorial categórico. Assim, o fenômeno do "neoextrativismo" coloca o capital global contra a comunidade localmente confinada. Assimetria global versus é um elemento fundamental desse fenômeno. De maneira semelhante, o par étnico funciona quando a comunidade é indígena, como costuma ser o caso em um bom número de projetos "neoextrativistas". De fato, esse par categórico étnico também afeta o outro campo de desigualdades excedentes. Esse seria o caso das migrações de mão de obra, em que são gerados nichos etnizados caracterizados pela precarização. Como aponta Bastos Amigo (no prelo), o (neo)liberalismo global recria a etnicidade, aprofundando as desigualdades que tendem a se institucionalizar por meio da "estratificação" da sociedade, em que uma minoria de grupos se proclama diferente e impõe privilégios especiais para regular suas ações. O restante da sociedade está sujeito a uma perda progressiva de direitos historicamente adquiridos que tem efeitos sobre os processos de cidadania, como será discutido na próxima seção. É um retorno à ordem colonial, mas sem o contrapeso da corporatividade que os que estão na base tinham.13
Em suma, na modernização globalizada, os processos de desigualdades extremas geraram múltiplas dinâmicas de exclusão social. Assim, a precariedade das relações de trabalho assalariado significou a desalienação das relações de trabalho, a redução dos direitos trabalhistas devido à desregulamentação do Estado e, acima de tudo, a redução dos direitos trabalhistas, de fatoe ação limitada ao indivíduo. Além disso, a ameaça de substituição quase ilimitada do trabalhador, implícita no desemprego, deve ser apontada. No outro campo das desigualdades excedentes, foram gerados setores, especialmente dentro do campesinato, que são funcionais ao processo de acumulação e, portanto, dispensáveis. Além disso, o "neoextrativismo" global está despojando as comunidades locais de seus territórios. Por outro lado, não são detectados processos, incluindo o consumismo, de individualização dos setores subalternos com suportes sólidos. E, finalmente, a inferiorização e a assimilação não generosa ainda estão em vigor e geram pares categóricos que são acoplados à dinâmica de classe nos mercados básicos, como mostra o par de gênero no mercado de trabalho, o par territorial no campo da apropriação de oportunidades de acumulação e o par étnico em ambos. É essa constelação de fenômenos que atualmente molda o mundo da marginalização, que é a questão abordada na seção a seguir.
Esse conjunto de dinâmicas profundas de desempoderamento, resultado de desigualdades extremas na modernização globalizada, cristaliza-se no mundo da marginalização. Essa cristalização se manifesta em três fenômenos básicos: privação, descidadanização e invisibilização. É preciso deixar claro que esses fenômenos não são exclusivos da ordem (neo)liberal, mas que sua gênese é anterior a ela.
A marginalização representa um mundo de privações materiais e simbólicas. Sofrer com a precariedade extrema ou com o desemprego significa que os meios que podem ser obtidos para a sobrevivência são muito limitados. Da mesma forma, as possibilidades de acesso a oportunidades reais de acumulação nesse mundo são praticamente inexistentes. As atividades não assalariadas autogeradas ficam presas às necessidades de subsistência da respectiva família, sem possibilidade de se tornarem dinâmicas. Em outras palavras, estamos diante de um mundo de escassez e privação.
Concomitantemente, é um mundo em que dificilmente haverá direitos e, portanto, a cidadania é obscurecida. Em outras palavras, a descidadanização é outra característica fundamental da marginalização social. Embora esse fenômeno possa ser associado à presença marginal do Estado,14 Isso é principalmente uma resposta às tendências de "estratificação" impostas pela ordem (neo)liberal, conforme observado na seção anterior. A cidadania pode ser universalizante, mas o faz de forma estratificada. Nem toda a população tem de fato direitos iguais, especialmente aqueles que estão à margem da sociedade.
Finalmente, a diferença desse mundo é processada pelas elites em termos de inferiorização, porque elas representam sua população como cidadãos diminuídos presos na miséria. Mas essa inferiorização adquire uma característica peculiar: a invisibilização. Ou seja, a ordem dominante tenta ignorar essa franja marginalizada como uma massa sem qualquer funcionalidade, como se não fizesse parte da própria sociedade e fosse o resultado das relações de poder que definem essa ordem.15 É a costa e, como tal, não é visualizada.
Esses três fenômenos - privação, descidadanização e invisibilização - constituem o núcleo estruturante do fenômeno da marginalização social. Devido à variedade e à extensão das tendências de desempoderamento descritas na seção anterior, uma grande parte dos setores subalternos é afetada por esses fenômenos, se não efetivamente, pelo menos como ameaças contínuas. Entretanto, apesar do profundo desempoderamento que eles invocam, eles não implicam que a população que os sofre seja, de fato, inerte e aprisionada. Todo sujeito social, por mais desempoderado que seja, deve confrontar sua existência e lidar com ela. Isso implica compreender sua realidade, interpretá-la, atribuindo-lhe significados e desenvolvendo ferramentas para controlá-la por meio da ação. Sem esses três mecanismos psicossociais básicos, não haveria ação social. Portanto, há sempre um mínimo de empoderamento subjetivo (Zetino Duarte, 2006). Em outras palavras, as relações de poder nunca são totalmente assimétricas, pois sempre há algum tipo de resistência que busca modificar as condições da realidade para que o conflito persista e não desapareça. É justamente a partir desse fundamento que, da própria marginalização, são geradas diversas respostas que a questionam: a temida, que se expressa na violência; a de saída, que se materializa na migração; a mágica, que busca o refúgio da religiosidade; e a baseada na ação coletiva, que pode dar origem aos movimentos sociais.16
Ressalta-se que essas quatro dinâmicas são respostas porque não se originam exogenamente da marginalização social, mas são induzidas por ela, sem que isso signifique que sejam sua única ou mesmo principal causa.
A privação possibilita dois caminhos para a violência, como Savenije e Andrade-Eekhoff (2003) argumentaram. Assim, por um lado, os indivíduos podem se sentir frustrados por sua privação. Eles podem permanecer impotentes diante de tal situação, isolados em descontentamento. Mas a frustração pode ser projetada socialmente, por meio de um exercício relacional, quando os indivíduos contrastam suas privações com as opulências dos outros dentro do horizonte de sua visão de mundo. Quando isso leva o sujeito privado a aspirar a ser o sujeito afluente por meio de uma inversão simbólica, o resultado é o ressentimento (Bourdieu e Wacquant, 2005), que pode se tornar um catalisador para atos de violência. Por outro lado, a privação pode ser abordada não do ponto de vista emocional, mas do ponto de vista intencional, na medida em que os sujeitos gostariam de acumular bens materiais e simbólicos valiosos. Como em uma situação de marginalização social esses bens são escassos e de difícil acesso, o uso da violência surgiria como um mecanismo eficaz. Soma-se a isso a presença marginal do Estado que, ao não conseguir impor seu monopólio de coerção, permite o surgimento de atores violentos que acabam por controlar esses territórios, impondo uma nova normatividade - de caráter discricionário - que dificulta o desenvolvimento dos direitos.17 Pode-se pensar que, nesses territórios, a cidadania é substituída pela existência de populações que esses atores violentos "administram".
De acordo com Márquez Covarrubias e Delgado Wise (2012), a globalização (neo)liberal fez com que a migração se tornasse "forçada". Das diferentes modalidades identificadas por esses autores, duas podem ser relacionadas à marginalização social: por meio da desapropriação dos meios de produção e subsistência e por meio da exclusão social, do desemprego estrutural e da pobreza.18 O termo "forçado" aponta inequivocamente para o desempoderamento, mas é necessário qualificá-lo. Para isso, é útil recorrer à proposta de Zetino Duarte e Avelar (2016), que propuseram três níveis a serem considerados na fase pré-migratória para entender os motivos da migração; níveis que constituem, cada um, um campo de poder. O primeiro é o da própria sociedade, onde se materializam as dinâmicas de desempoderamento resultantes de desigualdades extremas, conforme discutido na seção anterior. Um segundo nível é o das relações comunitárias, em relação ao qual pelo menos três fatores podem ser identificados como tendo impacto: histórias de migração bem-sucedida que geram pressões simbólicas, porque a migração expressaria o prestígio da comunidade; territórios à margem do Estado e onde a violência seria um fator fundamental para explicar a migração; destruição do habitat da comunidade, como pode acontecer com o impacto do "neoextrativismo", que representaria o fator central para explicar o deslocamento da população.19 O último nível a ser considerado seria o espaço de relacionamentos imediatos dentro do ambiente familiar, que é onde a questão da privação é confrontada. A migração seria a resposta para tentar aliviá-las ou evitar que a ameaça se torne realidade.
Por sua vez, a religiosidade está associada ao fenômeno da descidadanização, mas de uma forma peculiar. Na seção anterior, foi apontado que uma das principais características da atual modernização globalizada é a proliferação da dinâmica da individualização, mas que - no caso dos setores subalternos - ela oferece apoios frágeis. A religiosidade poderia oferecer a esses setores apoios menos frágeis. Na raiz disso está a tendência à desinstitucionalização das práticas religiosas. Sua principal consequência é que a busca pelo transcendente, que é o que define a especificidade do religioso, tende a ocorrer de forma individual. A diversidade de religiosidades está associada a uma desconfiança das mediações institucionais, seja da Igreja Católica ou do protestantismo histórico (Miguez, 2000). Em outras palavras, essas mediações são evitadas e a individualização da religiosidade é reforçada, e o pentecostalismo desempenha um papel fundamental nesse aspecto. É necessário esclarecer, como faz De la Torre (2012), que essa religiosidade não é uma confissão nem uma igreja, mas uma corrente que atravessa as diferentes igrejas cristãs, inclusive o próprio catolicismo, como testemunha o fenômeno do movimento carismático. Nesse sentido, foi insinuada a hipótese de uma "revolução silenciosa", em que essa nova ética estaria em conformidade com o espírito do capitalismo globalizado, desregulamentado e (neo)liberal (Mardones, 2005). Foi traçado um paralelo entre o (neo)liberalismo e o pentecostalismo fundamentalista em termos de privatização: enquanto o primeiro promove a privatização do Estado, o segundo o faria com fé (Ceballos, 2008).
Em termos de ação coletiva, as deficiências estão relacionadas aos processos de desempoderamento direto dos mercados básicos. Isso implica que as respostas que podem surgir têm um componente de classe, embora esse não seja o único fator que explica essa ação coletiva. É importante enfatizar que o fenômeno do desempoderamento está relacionado ao problema das ameaças, pois quanto maior o desempoderamento, mais críveis se tornam as ameaças. Nesse sentido, a abordagem de Almeida (2015) de que certos tipos de ameaças não desestimulam a ação coletiva, mas sim o contrário, desde que haja certa capacidade organizacional, é totalmente relevante para estabelecer a ligação entre privação e ação coletiva. A esse respeito, o autor sugere três tipos de ameaças: ameaças repressivas, aquelas geradas pelas ações econômicas do Estado e ameaças ambientais. É precisamente a dinâmica de desempoderamento gerada nos dois campos de desigualdades excedentes mencionados na seção anterior que se refere ao segundo e ao terceiro tipos de ameaça.
Até que ponto essas respostas conseguem reduzir ou mesmo reverter a privação de poder? Tentamos responder a essa pergunta de forma bem sucinta. Para isso, conforme mencionado na introdução, recorreremos à concepção de poder de Lukes (2004), que é a mesma que usamos em textos anteriores sobre desigualdades e exclusão social. Lembremos que esse autor aborda a questão do poder em termos de conflito e identifica três tipos de situações que expressam relações de poder diferenciadas: conflito aberto, encoberto e latente.
A partir dessa última modalidade de poder, postula-se que a resposta baseada na religiosidade, especialmente o pentecostalismo, responderia a esse tipo. Assim, a conversão ao pentecostalismo em contextos de marginalização social tem ajudado a se adaptar melhor às condições de privação e violência e às pressões psicológicas envolvidas (Garma Navarro, 2004; Antequera, 2008; Cantón, 2008). Como Mansilla (2012, p. 195) corretamente aponta, o pentecostalismo transforma necessidades em virtudes: fome em jejum, roupas velhas em luxo espiritual, pobreza material em virtude espiritual, moradia precária em habitação espiritual ou o corpo físico em espírito. Dessa forma, a ordem social vigente não é questionada, mas sim reproduzida. Essa afinidade é ainda mais evidente com o "neopentecostalismo". Assim, a Teologia da Prosperidade, sua base ideológica, propõe uma relação entre a comunhão com Deus e o bem-estar material com base em três ideias básicas: confissão positiva, internalizando a palavra de Deus na própria vida para testemunhá-la publicamente; libertação econômica, exorcizando os demônios da pobreza; e o caráter sacramental dos dízimos (Semán, 2005). Dessa forma, embora o individualismo seja mantido, ele não está mais confinado a comunidades locais de natureza emocional. Trata-se de transcender para o nível da sociedade como um todo, que seria o reino de Deus, um espaço de acumulação em que os crentes devem desempenhar um papel de liderança. A administração obediente seria o ascetismo do empresário globalizado para acumular; nesse sentido, o capitalismo e a liberdade são homologados (Coto Murillo e Salgado Ramírez, 2008: 112).
Isso não significa que essa resposta seja simplesmente desempoderadora para os setores subalternos marginalizados porque os condena à alienação. A promessa de sucesso econômico eleva o horizonte da mobilidade social que, como sabemos, é acessível a muito poucos nesse mundo de marginalização social, mas posiciona a força simbólica da ilusão. Talvez o mais importante seja a ressignificação das deficiências como virtudes, pois implica dar sentido à sobrevivência, o que, nesse tipo de contexto, não é pouca coisa. Em outras palavras, é uma resposta que pode garantir que a potencialidade do simbólico prevaleça sobre as dificuldades do material.
Por outro lado, essa resposta não tem um grande impacto em termos de descidadanização porque, como no consumismo, há uma transição do indivíduo/cidadão para o indivíduo/crente, nesse caso. Em outras palavras, a individualização induzida por esse tipo de religiosidade não passa pela cidadania. E a inferiorização, que sustenta a invisibilização, também não aparece como um problema a ser enfrentado. No caso da "autoexclusão", com o "desapego do mundo", o ascetismo que glorifica a privação assume superioridade espiritual sobre os afluentes e sua riqueza material. E em termos de sucesso econômico, aqueles que não o alcançam são, de acordo com a Teologia da Prosperidade, maus administradores que merecem ser tratados como inferiores. Em outras palavras, essa resposta não aborda essas duas dimensões da marginalização social e, portanto, afirma seu caráter reprodutivo da ordem social existente.
Poder-se-ia concluir, como hipótese a ser explorada no futuro, que esse tipo de religiosidade oferece a certos setores subalternos a possibilidade de serem indivíduos em contextos de marginalização social. Nesse sentido, estaríamos diante de outra dinâmica de individualização, favorecida pela ordem (neo)liberal e diferente daquela sustentada pelo consumismo, mas mais adequada a esse mundo. O problema está no advérbio "dentro", pois implicaria em uma individualização confinada que, além disso, o que oferece são, fundamentalmente, suportes simbólicos. Portanto, é uma resposta que pode ser descrita como adaptativa.
A modalidade de capacitação baseada em conflito oculto pode ser associada à resposta baseada em migração. No entanto, deve-se ressaltar, em primeiro lugar, que há possibilidades de capacitação que se expressam principalmente por meio de três fenômenos: o uso de remessas para fins de investimento, especialmente em um negócio (Papail, 2002; Massey, Durand e Riosmena, 2006); o retorno voluntário com a finalidade de desenvolver o próprio negócio ou parar de trabalhar; e a constituição do que é chamado de "migrante coletivo transnacional" (García Zamora, 2005; Moctezuma, 2008; Delgado Wise e Márquez Covarrubias, 2009). Entretanto, essas possibilidades são limitadas.
Com relação a este último, embora seja um sujeito com reconhecimento binacional e com capacidade de negociar com o Estado e que, por meio de remessas coletivas, consegue gerar um fundo de poupança para uso coletivo (Moctezuma Longoria e Pérez Veyna, 2006), experiências desse tipo não são generalizadas. Com relação ao retorno voluntário, uma análise das últimas três observações do censo no México, comparando os retornados com trabalhadores com características semelhantes e migrantes internos, produz várias conclusões relevantes. Primeiro, as chances de os retornados se retirarem do mercado de trabalho diminuíram ao longo do tempo. Concomitantemente, a imagem de sucesso do retornado conferida por esse status se deteriorou. Em segundo lugar, embora os retornados ainda tenham maiores possibilidades de abrir empresas, essa opção também diminuiu com o tempo. Um corolário disso, em terceiro lugar, é que o retorno implica o aumento da salarização com a deterioração dos salários, uma deterioração que também afeta a renda dos autônomos. Por fim, essas tendências não mostram diferenças nem por gênero nem territorialmente entre as regiões de migração antiga e nova (Parrado e Gutiérrez, 2016). Em outras palavras, as possibilidades de empoderamento do retorno voluntário parecem estar sendo corroídas. Por fim, há um amplo consenso na literatura de que o principal uso das remessas não é para fins de investimento, mas para resolver necessidades básicas. A esse respeito, uma das constatações de Canales (2008: 228 e segs.) para o caso mexicano é ilustrativa: de cada quatro pessoas que recebem remessas naquele país, apenas uma consegue melhorar significativamente suas condições de vida por meio da mobilidade social. Essas são constatações que, suspeitamos, não se limitam à realidade mexicana. Em outras palavras, como argumenta esse autor, as remessas funcionam como um fundo de salário que serve, fundamentalmente, para aliviar a situação de privação das famílias, mas não para resolver as causas estruturais que a geram.
Nesse sentido, pode-se argumentar que a migração vinculada a um contexto de marginalização social implica, fundamentalmente, resistência ao desempoderamento. Mas, paradoxalmente, os membros que migram acabam sendo submetidos a um intenso desempoderamento, que vai além da privação do sofrimento e inclui também processos profundos de descidadanização e invisibilização. Em outras palavras, essa é uma estratégia familiar de natureza "sacrificial".20
Assim, no trânsito, e tomando como referência a migração centro-americana através do México nos últimos tempos, nos deparamos com uma jornada de horror e desempoderamento que atinge expressões extremas de desumanização dos migrantes. Se a modalidade for por meio do uso de "coiotes" ou "polleros" (contrabandistas), estes últimos, em sua capacidade de "gerentes logísticos" (Gaborit et al2012) controlam as pessoas ao se apropriarem de sua documentação. A experiência de desempoderamento, que muitas vezes está na origem do ato migratório indocumentado, significa que o migrante não é percebido como um sujeito de direitos, o que é uma expressão da descidadanização que caracteriza a marginalização social. A partir desse ponto, inicia-se um processo de perda progressiva de humanidade, tanto em termos de direitos existenciais (falar, comer, expressar sentimentos etc.) quanto de valores (compreensão, solidariedade, respeito etc.), e o migrante acaba perdendo atributos humanos fundamentais (identidade, vontade, dignidade etc.). A desumanização dos migrantes leva à sua objetificação, o que leva alguns "coiotes" a considerar as pessoas que transportam como meras mercadorias que podem ser trocadas (Gaborit et al., 2012).21 Também vale a pena mencionar as recentes transformações na figura do "coyotaje", pois ele passou de uma pessoa conhecida na comunidade, geralmente um membro da comunidade, que os acompanhava durante toda a viagem, para uma cadeia de contrabando de pessoas com diferentes etapas a cargo de diferentes guias. Os guias são desconhecidos dos migrantes e de suas famílias e são contatados por meio de um novo ator: o promotor de migração da comunidade (Zetino Duarte e Avelar, 2016). Essa nova configuração não parece ser alheia às consequências da nova política de "securitização" dos Estados Unidos, que força os migrantes a buscar novas rotas que aumentam os custos e os riscos (Sandoval García, 2015). Esses aumentos estão relacionados ao fato de que as novas rotas frequentemente cruzam os territórios de organizações criminosas. Há pagamentos extras para atravessá-las, mas ainda mais trágica é a possibilidade de sequestro e assassinato de migrantes pelas mãos de grupos dessas organizações (Carrasco González, 2013; Castillo e Nájera, 2015; Sandoval García, 2015).22 Em outras palavras, os "coiotes" tradicionais foram substituídos pelo que Camus (2012: 82) chama de "narco-coiotes".
Esses riscos são ainda mais evidentes quando a migração é autônoma. Os migrantes são confrontados com os filtros da "fronteira vertical" que o México se tornou. Não se trata apenas das operações das autoridades, dos postos de controle ou das detenções, mas também do fato de que elas transformaram os migrantes centro-americanos sem documentos em vítimas de organizações criminosas e aumentaram os riscos. Essa é uma nova manifestação da fronteira como um espaço limiar para a violência, onde o que está em jogo é a própria vida, que pode ser autorizada ou negada (Reguillo, 2012). Assim, o que era para ser uma situação transitória, a mera passagem por um território, torna-se cada vez mais difícil para a mobilidade, e essa população fica presa no território mexicano (Silva Hernández, 2015). O resultado foi a criminalização dos migrantes e a militarização dos controles migratórios. Na verdade, a fronteira é um espaço onde a migração e o tráfico de drogas convergem, e o discurso oficial os apresenta como fenômenos interligados (Sandoval García, 2015; Segura Mena, 2016). Essa "zona de trânsito precária" se torna um espaço para onde convergem várias formas de violência. Nesse sentido, a proposta de Camus (2017) de considerá-la também como uma "zona cinzenta" é pertinente, na medida em que se perde a distinção entre os atores em termos de perpetradores e vítimas, pois há abuso entre os próprios migrantes como parte de suas estratégias limitadas de sobrevivência.23
Também há desempoderamento nos postos de trabalho.24 Assim, eles sofrem de segregação secundária no mercado de trabalho devido ao seu confinamento a nichos de trabalho: trabalho agrícola sazonal, construção para homens e serviço doméstico para mulheres em áreas urbanas. Além disso, se os migrantes se tornam visíveis porque seus nichos se tornam atraentes para a mão de obra em face das oportunidades ocupacionais reduzidas no respectivo país, eles sofrem o ataque da xenofobia (Grimson, 2006). Essa manifestação de inferiorização não é recente, mas está inscrita nas histórias de países que recebem migrantes, como Argentina, Costa Rica, Chile e, sem esquecer, a República Dominicana.25 De fato, na construção do imaginário nacional, a alteridade dos migrantes tem desempenhado um papel central (Novick, 2008; Domenech, 2011; Monclús Masó e García, 2012; Sandoval García, 2002; Alvarenga Venútolo, 2007; Stefoni, 2011; Silié, Segura e Dore Cabral, 2002; Wooding e Moseley-Williams: 2004). Consequentemente, estamos lidando com cidadãos diminuídos (Morales Gamboa, 2007). Essa cidadania restrita como mecanismo de regulação social dos imigrantes estabelece um regime de ilegalismos, possibilitando dois outros mecanismos de controle sobre os imigrantes que geram uma dupla espacialização social: uma vertical, baseada no racismo que hierarquiza, e uma horizontal, baseada no fundamentalismo cultural que exclui. São três mecanismos que desempoderam os imigrantes: o racismo marca seus corpos ao associar atributos morais a traços físicos; o fundamentalismo essencializa as diferenças para justificar a segregação; e as dificuldades de acesso à cidadania geram uma existência negada para os imigrantes. Dessa forma, o sujeito imigrante é configurado de forma tripla: como inferior, como estranho e como clandestino (Caggiano, 2008).
Mas, apesar desses múltiplos desempoderamentos, tanto no trânsito quanto no destino, os (in)migrantes resistem silenciosamente para que o lar de origem possa resistir à ameaça da marginalização social e ao desempoderamento que vem com ela. É uma resposta de resistência.
As outras duas respostas são as mais fortalecedoras, porque ocorrem no campo do conflito aberto. Mas é precisamente a assimetria do confronto que determina se e até que ponto essas possibilidades serão concretizadas. Entretanto, cada uma dessas respostas tem uma lógica muito diferente e deve ser diferenciada.
Em termos de violência, um primeiro tipo de resposta refere-se ao que já foi dito sobre ressentimento. Mas dois elementos precisam ser acrescentados. O primeiro é que, com a globalização atual, o ressentimento é reforçado pelas frustrações consumistas. O segundo é que os sujeitos que mais sofrem com ele são os jovens dos setores subalternos que, devido a seus escassos rendimentos do trabalho, que normalmente representam contribuições para a respectiva renda familiar, transgridem a lei para satisfazer suas necessidades consumistas (Kessler, 2002; Ramos, 2004; Calderón Umaña, 2012). Mas essa é uma violência que não é verdadeiramente fortalecedora, devido ao seu caráter ocasional e à sua dependência dos impulsos consumistas. O caso de outras formas de violência que emergem da presença marginal do Estado e que têm uma forte ancoragem territorial é diferente: aquela exercida por grupos locais excluídos da cobertura de segurança do Estado e do acesso ao sistema judicial e que tomam ações punitivas por conta própria; aquela de natureza mista (predominantemente social, mas também com uma dimensão de lucro) e que expressa o comportamento transgressor e criminoso de jovens em territórios que eles controlam; aquela que tem um caráter marcadamente orientado para o lucro, porque é exercida por organizações criminosas.
No primeiro caso, os limites do Estado refletem a difusão histórica do poder coercitivo, porque as diferenciações entre o Estado e a sociedade e entre o público e o privado não foram concluídas (Vilas, 2003). As reações contra o roubo de gado, especialmente no mundo andino, ou o sequestro de crianças no México e na Guatemala são exemplos disso. Ultimamente, destaca-se o caso dos grupos de autodefesa das comunidades mexicanas, em que a condição étnica estabelece diferenças importantes, pois, no caso das comunidades indígenas, elas estão sujeitas às autoridades locais e às tradições de autogoverno, enquanto nas comunidades mestiças tende a predominar o vigilantismo baseado no código ranchero.26e pode levar ao faccionalismo e ao clientelismo dentro das comunidades e até mesmo acabar subordinado aos interesses das organizações criminosas (Gledhill, 2015; Guerra Manzo, 2015). Esse é um cenário de "vitimização agressiva" (Romero Salazar e Rujano Roque, 2007: 160) em que a autodefesa é considerada violência legítima.
Quanto às gangues violentas, seu empoderamento como perpetradores tem várias facetas. A primeira refere-se à sua natureza dual que, em termos da realidade centro-americana, é expressa na dualidade gangue/gangue.maraA socialização da família e/ou da escola: preenche as lacunas geradas na família e/ou na escola, socializando e gerando identidade, mas também implica a aceitação de regras e compromissos garantidos pela violência dentro do grupo. Ela aparece como um instrumento de agitação social que não se projeta na contestação política. Esses jovens têm sido considerados rebeldes primitivos (eric et al., 2001) ou, nos termos de Perea Restrepo (2004: 33), os jovens membros de gangues não seriam nem heróis nem criminosos.
A segunda tem a ver com a sacralidade do território, o que o torna uma fonte de poder (Perea Restrepo, 2004; Pesca Pita, 2004). et al., 2011). Seria com base em práticas territoriais de delimitação e controle do espaço que o "nós" incorporado pelas gangues se tornaria possível (Riaño Alcalá, 2006). O corolário disso é a disputa territorial com outras gangues de jovens. Esse é o "outro principal" e define, por excelência, a identidade e a coesão do grupo, razão pela qual o assassinato do oponente também busca apagar sua afiliação à gangue (Nateras Domínguez, 2009; Savenije, 2011).
O fornecimento de determinados bens comunitários é um terceiro elemento a ser considerado e que é compartilhado pelas organizações criminosas. Assim, esses agentes violentos podem fornecer quatro bens essenciais para a vida local: proteção contra agressão externa, mediação de conflitos intracomunitários, sejam eles domésticos ou entre vizinhos, mediação da atividade comunitária filtrando e permitindo as ações de agentes e instituições extracomunitárias e celebração de atividades festivas que recriam a comunidade e são altamente valorizadas pelos habitantes (Perea et al., 2014). Deve-se acrescentar que, embora essa disposição busque legitimar a dimensão da violência, ela também busca ser um suprimento monopolizado desses bens essenciais, impedindo que outros atores o façam.
Uma quarta característica tem a ver com sua dimensão translocal, ou seja, há uma articulação entre o local, o território marginal urbano excluído e o global. É bem sabido que, no caso de gangues Na América Central, as experiências de jovens em gangues nos Estados Unidos, posteriormente deportados para seus países de origem, parecem ter sido fundamentais na gestação e no desenvolvimento desse tipo de grupo, que envolveu um salto de gangues transgressoras para gangues violentas e levou à construção de inimizades letais (Savenije, 2011). Essas deportações implicaram a "reinvenção" do gangues por si só e implicou uma transformação além das gangues de rua (wola, 2006).
Por fim, pode haver trajetórias evitáveis que levam as gangues à articulação subordinada com organizações criminosas, como aconteceu em El Salvador, Colômbia (Medellín ou Cali) e México (Ciudad Juárez) (Savanije, 2011; Riaño Alcalá, 2006; Concha-Eastman e Concha, 2014; Alanís Legaspi e Durán Martínez, 2014; Cruz Sierra, 2014). Essa subordinação da gangue à organização criminosa acarreta transformações importantes no comportamento de seus membros: da violência baseada no ressentimento e na masculinidade à subordinação às regras do negócio; do "tempo paralelo" ao "tempo paralelo" ao "tempo paralelo"; e do "tempo paralelo" ao "tempo paralelo".27 O território perde seu valor de identidade e é transformado em um corredor estratégico; a subjetividade se torna mais reflexiva e autocontrolada, e o ódio ao inimigo é substituído pelo cálculo econômico (Ordóñez Valverde, 2017: 123-124).
Com relação às organizações criminosas que operam em áreas marginalizadas, e limitando nossa reflexão ao desenvolvimento de micromercados de drogas, há vários fatores que podem ser apontados em termos de seu empoderamento. Em primeiro lugar, há a modalidade de controle territorial, que pode ser expressa de diferentes maneiras. Pode haver casos de controle semelhante ao de uma gangue, como nas favelas do Rio de Janeiro (Misse e Grillo, 2014; Misse, 2015), ou situações em que o controle é exercido apenas sobre diferentes "pontos": "fixos", como casas ou centros de venda; "semifixos", como determinadas esquinas, parques ou outros locais da comunidade; e "móveis", quando o vendedor se desloca para o local sugerido pelo comprador (Zamudio Angles, 2013; Calderón Umaña e Salazar Sánchez, 2015). Em segundo lugar, o tipo de organização expressa diferentes níveis de capacitação. Andrade (1991) observou, refletindo sobre traficantes de pequena escala no caso equatoriano, que não se pode falar de "organizações", mas sim de redes que ele caracteriza como "quase amorfas", não hierárquicas, subordinadas à intermediação, sem possibilidade de expansão devido à sua baixa capitalização e vulneráveis à repressão policial. Em relação às chamadas "gangues de residência" que operam em Bogotá e dominam o mercado de drogas nos bairros, Perea Restrepo e Rincón Morera (2014) destacam sua natureza e trajetória familiar. E no caso do Rio de Janeiro, as quadrilhas locais de drogas tendem a se estruturar como uma pirâmide, com o "dono do morro" no topo, que administra a "empresa" ou delega essa administração ao "responsável", por exemplo, se ele estiver preso; há "gerentes" dependendo do tipo de droga e da segurança territorial, e a organização é complementada por "soldados" e vendedores diretos de diferentes tipos. Além disso, desde a década de 1990, surgiram "comandos" ou "facções", que representam alianças horizontais entre "donos de morro" para delimitar territórios e se protegerem mutuamente de incursões de outras "facções" (Misse e Grillo, 2014; Misse 2015). Por fim, o poder também é condicionado pela relação contraditória entre os traficantes de drogas e as forças policiais, que envolve confronto, mas também suborno e extorsão. Esta última implica o envolvimento da polícia na economia política do crime, incluindo todas as suas atividades: tráfico de armas, roubo de carros, sequestro, etc. (Souza Alves, 2008). Isso é o que Bobea (2016) chamou de "estetropismo por imersão".28
Esse envolvimento de agentes do Estado em atividades criminosas incorpora à análise outra dimensão da presença marginal do Estado, que complementa a dimensão já mencionada de territórios marginalizados e que os torna propensos a se tornarem um espaço para organizações criminosas. Dessa forma, o Estado está presente e não esporadicamente, como no caso de operações específicas. Esse é o caso do Rio de Janeiro, mas é aplicável a outras realidades da região,29 é uma presença sui generisporque não se expressa como poder público, devido ao fato de que policiais corruptos usam sua representação estatal para fins privados. Segundo Misse (2015), essa privatização do poder estatal configura o que ele chama de "commodities políticas", pois, para que adquiram valor econômico, é necessário que haja uma correlação de forças favorável no território em questão e que envolvam uma troca assimétrica e compulsiva. Mas a chave para esse fenômeno está na capacidade limitada das instituições públicas que viabilizam esses comportamentos, que, por sua vez, reproduzem essa limitação institucional ao privatizar o poder público (Míguez, Misse e Isla, 2015). De fato, o domínio de um grupo irregular em um determinado território implica automaticamente a presença marginal do Estado (Cano, 2008).
Há uma reflexão comum sobre os diferentes tipos de violência considerados, especialmente os dois últimos:30 O empoderamento pela violência gera processos perversos por dois motivos. Por um lado, ele se baseia na existência de vítimas às quais são negados direitos fundamentais, inclusive o direito à vida. Por outro lado, geralmente não leva a uma transformação substantiva da condição de marginalização social, exceto - em alguns casos - para alguns poucos. Em outras palavras, é uma resposta que irrompe na esfera central da sociedade de forma ameaçadora, mas não propõe transformações substanciais da ordem vigente.
Essa é a grande diferença em relação à última resposta, a que se baseia na ação coletiva: ela não apenas rompe, mas busca transformações sociais. Três exemplos foram selecionados: o Movimento dos Sem-Terra (mst) no Brasil, o neozapatismo no México e os piqueteros do final do século passado e início do presente na Argentina. Esses são três casos com características diferentes e pertencentes a três países-chave da região, que oferecem um espectro suficientemente amplo para reflexão. Para cada um deles, são mostradas as conquistas mais significativas em termos de empoderamento.
As conquistas do mst são impressionantes. No início da segunda década deste século, estava presente em 24 dos 27 estados brasileiros; controlava mais de sete milhões de hectares, com 550 mil famílias organizadas em assentamentos e acampamentos, com uma população de mais de dois milhões de pessoas; havia organizado mais de cem cooperativas, quase duas mil associações e quase cem agroindústrias nos assentamentos; mais de duas mil escolas haviam sido criadas e estavam em funcionamento, com cerca de 170 mil alunos, cinco mil professores, além dos Cirandas Infantisresponsável pelo cuidado e pela educação de crianças com menos de seis anos de idade (Stronzake e Casado, 2012: 4).
Esses resultados refletem dois processos substantivos. Assim, por um lado, para seus ocupantes, os assentamentos significaram uma saída para a exclusão que lhes foi imposta pela sociedade, especialmente em termos de trabalho, permitindo-lhes ter um modo de vida alternativo (Navarro, 2002). Isso é algo que eles não teriam conseguido se mudassem para as cidades. Nesse sentido e como corolário, Medeiros (2006) vai além e aponta que os assentamentos permitiram a recomposição das famílias, o que é o oposto da migração como saída. De fato, apesar de todas as dificuldades e perigos enfrentados pelos assentados, os acampamentos e as ocupações não cessaram. Por outro lado, os assentamentos têm contribuído para a democratização da vida local. Conforme salientam Carter e Carvalho (2010: 302), além da melhoria material das condições de vida, os assentamentos significaram a recuperação da autoestima dos trabalhadores rurais e a ampliação dos direitos de cidadania nas áreas rurais.
Quanto ao neozapatismo, a primeira conquista diz respeito ao acesso à terra. Desde a Primeira Declaração da Selva Lacandona, em janeiro de 1994, quando foi lançada a insurreição armada, a ocupação da terra foi proposta como resposta às necessidades dos camponeses e em oposição às políticas do presidente Salinas de Gortari. Nesse sentido, nas áreas controladas pelos zapatistas, foi dado um novo e forte impulso à dinâmica camponesa iniciada com a reforma agrária (Van der Haar, 2005). Mas esse impulso transcendeu o território de influência zapatista e, portanto, comparando os Censos de Ejido de 1991 e 2007, Chiapas aparece como o estado onde foram criados mais núcleos agrários (752), o que mostra que os zapatistas posicionaram a questão da distribuição agrária nesse estado (Núñez Rodríguez, Gómez Bonilla e Concheiro Bórquez, 2007: 45). Na raiz da rejeição categórica da reforma do artigo 27 da Constituição, que possibilitou a privatização do ejido e das terras comunitárias, está o significado da ocupação de terras para os povos indígenas: um ato de reintegração e justiça histórica que reivindica fazer parte de um Estado-nação como povos (Vergara-Camus, 2011).
O grande desafio do neozapatismo tem sido a autonomia indígena. Foi com base nisso que eles tentaram reverter a inferiorização étnica, dando poder à população indígena. Essa era uma demanda que não fazia parte das propostas originais do neoZapatismo. ezln. Foi precisamente como resultado dessa ruptura do Diálogo de Paz na catedral de San Cristóbal de las Casas que os zapatistas propuseram que uma alternativa poderia ser construída a partir do "México profundo" (González Ruiz, 2013). A reivindicação do neozapatismo de uma identidade indígena não implicava a negação da identidade mexicana; em outras palavras, não era uma estratégia de autoexclusão nacional. Não foi proposta a retirada da comunidade nem o nacionalismo fechado, e não foram feitas reivindicações em termos de especificidade maia, identificando-se como mexicanos indígenas que reivindicavam fazer parte da nação (Le Bot, 1997; González Casanova, 2001; Ceceña, 2004; Cerda García, 2011). O objetivo era reivindicar a diferença e seu reconhecimento para que ela não se transformasse em desigualdade e uma identidade indígena fosse respeitada. É o direito de ser tratado como igual, questionando assim o indigenismo estatal (González Casanova, 1995; Le Bot, 1997; De la Rosa, 2006).
A esse respeito, como Martínez Espinoza (2007) aponta, é importante enfatizar que tanto o Caracóis como os Conselhos de Boa Governança (jbg), que expressam a proposta institucional de autonomia, significaram a consolidação da dinâmica de subsistência. Segundo esse autor, essa consolidação enfatizou quatro aspectos: tornar efetivas as propostas dos Acordos de San Andrés; promover o desenvolvimento econômico, político e cultural das comunidades; estabelecer a democracia sob o princípio de "mandar obedecendo"; e fortalecer a resistência das comunidades diante do assédio diário e permanente. De fato, de acordo com Martínez Espinoza (2007), o critério zapatista de resistência baseia-se na rejeição da ajuda governamental para evitar maior cooptação. Aceitar esse tipo de ajuda significaria renunciar à dignidade (González Ruiz, 2013). Martínez Espinoza (2006: gráfico 4) sintetizou esse processo destacando que ele responde a uma reforma institucional insatisfatória por parte do Estado mexicano e a seu assédio permanente às comunidades zapatistas. A resposta foi reorganizá-las, bem como redefinir as relações com os atores externos. Surgiram cinco regiões, que integraram as já existentes marez (Municípios Autônomos Rebeldes Zapatistas) e que estabeleceu quatro objetivos: autonomia, desenvolvimento, democracia participativa e deliberativa e resistência. E a institucionalização desse processo foi, justamente, a criação de Caracóis e jbg.
As conquistas do movimento piquetero argentino foram tanto materiais quanto simbólicas. As primeiras estão associadas à ajuda que receberam e que foi negociada para remover os bloqueios. Elas surgiram da base em face de necessidades urgentes, mas, ao mesmo tempo, reposicionaram as pessoas, que deixaram de ser receptoras passivas da ajuda estatal e se tornaram sujeitos ativos por meio de sua ação coletiva, conquistando o direito de serem beneficiárias (Svampa e Pereyra, 2009). A incapacidade administrativa do governo central de gerenciar a ajuda e implementar os programas correspondentes significou que os municípios, ngoOs programas de controle de qualidade e as próprias organizações de piquetera, que inicialmente eram ignoradas, desempenharam um papel fundamental em sua realização (Cross e Freytes Frey, 2007). O controle desses programas significou o empoderamento das organizações de piquetera e as tradições organizacionais serviram de apoio, embora tenham sido tecnicamente ressignificadas (Manzano, 2004, 2008).
Embora essa ajuda tenha sido crucial para garantir a sobrevivência cotidiana no contexto da profunda crise que caracterizou a Argentina naqueles anos, houve conquistas simbólicas de grande importância. Em primeiro lugar, a invisibilidade que o desemprego inevitavelmente acarretava foi superada, pois os bloqueios de estradas atraíram a atenção da mídia. Porém, o mais importante é que eles desafiaram a interpretação (neoliberal) do desemprego como um problema individual e o transformaram em uma questão social que não podia ser ignorada na agenda pública, superando a presença sombria que o (neoliberalismo) havia imposto a ele (Cross e Freytes Frey, 2007; Abal Medina, 2011; Torre, 2016). Em segundo lugar, essa visibilização significou a transição do desemprego para a ação social coletiva, porque os piqueteros ganharam competências políticas (Fernández Álvarez e Manzano, 2007; Cross e Freytes Frey, 2007); além disso, argumentou-se que, como o piquete representava uma ação direta, formou-se uma "identidade insurgente" (Retamozo, 2006: 160) (Retamozo, 2006: 160). De fato, eles mantiveram o protagonismo político porque lembraram a dívida pendente da democracia: a exclusão (Muñoz, 2005). E, finalmente, a dignidade foi recuperada e a estigmatização implícita na categoria dos desempregados foi superada (Svampa e Pereyra, 2004, 2009). Nesse sentido, o movimento piquetero levantou a necessidade de recuperar o que chamou de "trabalho genuíno", que definiu não apenas como trabalho real, mas também como trabalho digno; de fato, a perda do emprego também foi percebida como uma perda de dignidade (Retamozo, 2007). E, nesse último sentido, foi apresentada uma concepção de vida em um duplo sentido: era um meio de reprodução, mas também era uma forma de diferenciação dos "outros" (ladrões, mendigos etc.). Em outras palavras, a dignidade constituía um elemento central da identidade piquetero (Fernández Álvarez e Manzano, 2007).
Refletindo em termos mais gerais sobre essa quarta resposta, o conflito não é simplesmente colocado em termos de privação, mas das causas que o geram: falta de acesso aos principais recursos produtivos e, nos casos em consideração, especificamente à terra. Nesse sentido, ele vai além da esfera da marginalização social, e esse tipo de resposta busca modificar a assimetria do campo da desigualdade excedente, nesse caso, a que se refere ao acúmulo de oportunidades de acumulação. Em outras palavras, ele tenta influenciar as causas, e não apenas os efeitos, e quando isso é alcançado, a situação de marginalização social pode ser superada.
Também em termos de reversão da descidadanização, suas propostas não se limitam ao resgate da cidadania, mas ao aprofundamento da democracia com práticas deliberativas e participativas, além do exercício periódico de eleições e da concessão de representatividade. Há até mesmo respostas que levantam a questão da autonomia. Essa é uma questão-chave porque implica que é possível, a partir do mundo da marginalização social e em oposição ao restante da sociedade, começar a configurar novas relações sociais de natureza alternativa às predominantes. Em outras palavras, propõe-se a recuperação da utopia, e parece que, no atual momento histórico, é das margens da sociedade que podem surgir as propostas utópicas, mas estas enfrentam grandes desafios para transcender as territorialidades confinadas em que germinam.
Por fim, somente essa resposta coletiva se opôs expressamente à invisibilização do subalterno, reivindicando a dignidade do marginalizado. Temos aqui uma das respostas mais radicais à inferiorização e uma das propostas mais incisivas de reconhecimento na história do capitalismo na região.
Ou seja, das quatro respostas, essa é, sem dúvida, a que representa o desafio mais radical para superar a marginalização social, pois aborda diretamente as causas que a geram. Mas suas conquistas são condicionadas pela assimetria do conflito. Justamente por questionar a ordem vigente, ela precisa enfrentar atores poderosos que tentam neutralizar esse tipo de movimento social por meio do isolamento, da repressão ou da cooptação.
Se o foco for limitado à redistribuição, conforme postulado por posições semelhantes ao (neo)liberalismo, presume-se que o conflito esteja centrado no excedente capturado pelo Estado, fundamentalmente por meio da tributação, e a luta seja entre os beneficiários (famílias e indivíduos) das políticas sociais. Em outras palavras, as desigualdades são expressas em disparidades dentro dos setores subalternos. As políticas de redução da "pobreza" ilustram bem esse fato. Questões como "targeting" (seleção apropriada de beneficiários) ou "trickle down" (benefícios de tais políticas para aqueles a quem não são devidos) mostram a natureza e a extensão do conflito. Em outras palavras, há uma politização muito limitada do social. A ênfase nas questões fiscais, como propõe Piketty, radicaliza a politização, mas não o suficiente, porque a luta se limita ao confronto entre as elites e o Estado. Ambas as visões são necessárias para entender as desigualdades e os conflitos que elas acarretam, mas são insuficientes.
Mudar o foco para os mercados básicos, ou seja, a distribuição, implica que a luta é sobre as condições de geração e apropriação de excedentes e que se trata de um conflito entre classes: entre capital e trabalho (condições de exploração da força de trabalho) e entre diferentes tipos de proprietários (condições de monopolização das oportunidades de acumulação). Entretanto, a abordagem proposta não limita a luta às classes sociais. Os indivíduos podem ter um impacto, desde que haja processos de individualização com apoio sólido de setores subalternos que possam relativizar as desigualdades de classe. Também conta o fato de haver ou não uma constituição de pares categóricos, pois, no primeiro caso, eles podem ser acoplados (por meio de segregação ou discriminação primária ou secundária) à dinâmica de classe, reforçando-a. Em outras palavras, os processos de individualização e o processamento das diferenças também são tratados em termos de conflito.
Por fim, as respostas de determinados setores subalternos consideradas na seção anterior são expressões de desigualdades, pois são geradas a partir da marginalização social, embora essa não seja sua única causa. Elas também são expressões da politização do social, não apenas em sua manifestação de conflito aberto (violência e movimentos sociais), mas também em suas expressões encobertas (migrações) e latentes (religiosidades).
Consequentemente, a ordem (neo)liberal repolitizou o social de forma ampla e profunda. Em outras palavras, há uma base sólida para questioná-la como uma ordem natural e desejável. Isso exige um olhar radical sobre as desigualdades.
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